O psicólogo Jessé Monteiro Alves é um jovem profissional que vem lutando pelo seu espaço e para levar de forma reflexiva, com auxilio das artes e das ciências humanas, o entendimento ao indivíduo sobre ele mesmo. Atualmente, ao lado dos psicólogos Eder Rodrigues e Elisângela Corral, ele integra o “Entre-Aberto”, que é um núcleo de Psicologia que, conforme ele define, “tem como proposta ser um lugar de encontros transformadores por meio dos atendimentos e dos eventos culturais e reflexivos que eles oferecem”. Jessé também, junto da psicóloga Sarah Lara, tem um espaço na Rádio da Família, onde compartilha reflexões sobre o ser. Filho do servidor público Manoel Joaquim de Souza e da cabeleireira Maria Aparecida Monteiro de Carvalho, tem duas irmãs, a Emanoelle Cecília Monteiro de Carvalho e Souza e Maria Antônia Monteiro de Carvalho Reis e Souza. Aos 25 anos, ele sente que ainda há muito a ser vivido e que o pouco que já viveu, já proporcionou uma boa experiência.
Jornal do Sudoeste: É natural de Paraíso? Quais lembranças marcantes você tem da sua infância?
J.M.A.: Sou natural de Jaboticabal (SP), mas cresci aqui e não tenho lembranças de lá, então me sinto natural de Paraíso. São muitas lembranças marcantes, mas a que tenho da infância e que está ligada à cidade é a de brincar na rua. Morei em vários bairros e hoje, quando eu passo pelas ruas nas quais brinquei, corri, fiz, amigos e as que usava para ir a escola, é uma experiência muito nostálgica e prazerosa, pois cada lugar diz respeito a mim e os meus; sou parte da cidade e a cidade é parte de mim.
Jornal do Sudoeste: Onde estudou e como foi seu período de escola? Era um bom aluno?
J.M.A.: Sempre estudei em escola pública e passei pelo CAIC, Noraldino Lima, Paraisense e Ditão. Acredito que era um bom aluno, pois tinha uma boa relação com os colegas de classe e não dava muito problema (risos), mas tive dificuldades em acompanhar minha turma em alguns anos. No primeiro ano do ensino médio fui reprovado – é até engraçado que muitas pessoas acham isso estranho: “Você?” – e vejo esse período como um marco significativo, pois antes minha relação com a escola era frustrante e depois gratificante.
Jornal do Sudoeste: O que mais te marcou na escola? O que mais gostava de estudar?
J.M.A.: Como eu disse, foram dois momentos. No primeiro estudar era difícil, no segundo não. Mas em ambos os momentos eu sempre tinha amigos com os quais eu me identificava e ir para a escola era algo que eu gostava. Não era do grupo dos populares e isso nunca me incomodou. Sempre gostei mais de ciências, e no ensino médio a Filosofia passou a ser a preferida. Ah, me marcou muito também a série Cosmos com o Carl Sagan e o canal TV Escola; adorava documentário sobre história, artes, ciência.
Jornal do Sudoeste: Como foi a sua formação no âmbito familiar, com os pais e irmãos?
J.M.A.: Acredito que a pessoa que mais me influenciou na constituição do meu caráter foi o meu pai. Ele me ensinou muitas coisas como a importância da verdade nas relações, da amizade, da família e desenvolvemos uma forte cumplicidade. Minha mãe é quem me nutre até hoje daquilo que todo ser humano precisa: amor. Sinto que sou amado por minha família como um todo, mas com minha mãe vivo um amor de outra ordem, pois ela sempre se dedicou, se sacrificou e se doou para cuidar de mim. Sou muito grato ao meu pai e a minha mãe. Quando minha irmã Emanoelle nasceu eu tinha oito anos e a chegada dela me marcou como “preciso cuidar dela também, junto com meus pais.”, e a chegada da Maria Antônia não foi diferente. Então com as minhas irmãs, acho que fui desenvolvendo um maior senso de responsabilidade e cuidado.
Jornal do Sudoeste: Sua formação é como psicólogo. Por que optou por esta profissão?
J.M.A.: É uma história um pouco longa (risos). Próximo ao fim do ensino médio eu tinha interesse em fazer Física, ser um cosmólogo como o Carl Sagan, mas uma visita à UFSCAR com a escola me fez mudar de ideia. Durante uma palestra de um professor nesta visita, percebi que o que me chamava atenção na Física eram as reflexões filosóficas, as quais eram discutidas por meio da matemática. Aí pensei: não quero argumentar com números. Então resolvi ir para a Filosofia, mas como não tinha um curso presencial perto pesquisei áreas relacionadas e comecei a me interessar por psicologia (a séria Sessão de Terapia me inspirou também). Fiquei um tempo indeciso, mas um dia acordei e, sentado na cama pensado, resolvi fazer psicologia.
Jornal do Sudoeste: Qual a linha que você segue dentro da Psicologia e por quê?
J.M.A.: A abordagem que sigo é a Daseinsanalyse, que faz parte do grupo da Psicologia Fenomenológica-Existencial. Sigo esta abordagem que tem base na filosofia de Martin Hei-degger porque me identifico com a concepção de ser humano que ela propõe. Para a Daseinsanalyse somos constituídos de uma abertura ao ser que nos interpela a cada instante e a maneira como cada um atende a esse apelo, tece a própria vida e a dos outros com os quais convive. Acredito que essa compreensão oferece a base necessária para estarmos uns-com-os-outros de um modo tal que possibilita o reconhecimento, a dignificação mútua e afasta o encobrimento do outro.
Jornal do Sudoeste: Qual a importância do psicólogo hoje, principalmente frente a situação que estamos vivenciando por causa da COVID-19?
J.M.A.: Penso que no momento atual nós, psicólogos e psicólogas, podemos contribuir em duas frentes. A primeira é na clínica, onde é meu campo de atuação e venho percebendo com colegas que a pandemia em alguns casos despertou, e em outros potencializou, a experiência da vulnerabilidade e consequentemente do medo. Sentir-se vulnerável e ter medo é algo de todos nós, mas para algumas pessoas isso é vivido com muito dificuldade. O acompanhamento psicológico pode ajudar nesses momentos. A segunda frente é no campo institucional onde psicólogos e psicólogas são atores importantíssimos para oferecer o acolhimento necessário aos profissionais diretamente empenhados no combate ao COVID-19. Aqui na nossa cidade temos a psicóloga Larissa que junto a outros psicólogos e psicólogas desenvolvem esse trabalho admirável em parceria com a Santa Casa.
Jornal do Sudoeste: Você acredita que o profissional da psicologia tem sido mais valorizado? Ainda há obstáculos?
J.M.A.: Acredito que sim. A psicologia enquanto área do conhecimento tem ganhado destaque e nos lugares onde essa profissão ganha espaço, ela é valorizada de modo geral. Um dos obstáculos na minha opinião é o distanciamento que há e a consequente desarticulação da categoria. É a impressão que eu tenho.
Jornal do Sudoeste: Você está sempre acompanhando e prestigiando projetos culturais em Paraíso. Como você avalia este cenário em nosso município?
J.M.A.: Sempre que posso compareço. Gosto muito e acho fundamental para a cidade. Acredito que nosso município tem potencial para ser referência na região em promoção de cultura, mas esse potencial em alguns momentos é abafado por indisposição política e falta de conscientização da população.
Jornal do Sudoeste: Conte-nos um pouco do seu trabalho e da construção da sua carreira...
J.M.A.: Concluí o curso em 2017 e já no ano seguinte tive o privilégio de me juntar à Sarah Lara, à Elisângela Corral e ao Eder Rodrigues e fazer parte do Espaço Ser e Tempo. Ao longo de um ano fizemos atendimentos e eventos para promover cultura e reflexão, e esse período foi uma experiência muito importante para mim tanto pessoal como profissionalmente. No fim do ano passado a Sarah recebeu uma proposta e decidimos encerrar as atividades do Espaço Ser e Tempo, pois não víamos sentido em continuar sem ela. E este ano a Elisângela Corral, o Eder Rodrigues e eu elaboramos o Entre-Aberto – Núcleo de Psicologia que tem como proposta ser um lugar de encontros transformadores por meio dos atendimentos e dos eventos culturais e reflexivos que oferecemos. Falar desses dois projetos é falar do meu trabalho e da minha carreira nesses poucos anos de trajetória. Trabalhar na clínica e promover reflexões é o que eu quero fazer por enquanto e acredito que vai ser assim por muito tempo, e fazer isso com essas pessoas é muito bom.
Jornal do Sudoeste: Você faz uma participação na Rádio da Família, abordando alguns temas específicos. Como tem sido essa experiência?
J.M.A.: Tem sido uma experiência ótima. A cada encontro com a Renata e a Sarah aprendo, compartilho, penso a vida, as relações humana e tenho a oportunidade de tentar contribuir de alguma maneira para a nossa sociedade. Então só tenho que agradecer à Rádio da Família e em especial à Renata.
Jornal do Sudoeste: O que você pode nos dizer, enquanto profissional, dos efeitos da atual situação que enfrentamos (o isolamento social) e como podemos lidar com isso?
J.M.A.: Penso que a situação atual está mostrando para todos nós algo que sempre esteve presente e desviamos o olhar: o fato de que somos vulneráveis e dependemos uns dos outros. E para lidar com isso precisamos ter consciência dessa interdependência seguindo as recomendações e se comprometendo cada um ao seu modo.
Jornal do Sudoeste: Poderia deixar uma mensagem para nossos leitores?
J.M.A.: Aparentemente o nosso tempo é marcado por uma fuga de nós mesmos. Então gostaria de deixar a seguinte questão: Você que está lendo, como você foge de você?
Jornal do Sudoeste: Qual é o balanço que você faz da sua trajetória?
J.M.A.: Ao mesmo tempo que parece que vivi pouco, parece que vivi muito, talvez por eu estar no meio do caminho. Mas espero ter completado só ¼.