POLEPOSITION

O maluco GP de Dallas

Por: Sérgio Magalhães | Categoria: Esporte | 12-04-2020 12:08 | 3100
Nigel Mansell não resistiu ao calor e desmaiou  enquanto empurrava a Lotus até a bandeirada
Nigel Mansell não resistiu ao calor e desmaiou enquanto empurrava a Lotus até a bandeirada Foto: Arquivo Pole Position

Enquanto a F1continua parada e sem previsão de retorno até que o mundo fique livre da pandemia do coronavírus, a POLE POSITION segue levando ao amigo leitor relatos de algumas das muitas corridas que entraram para a história da categoria. Uma delas foi o maluco GP de Dallas, nos Estados Unidos, em 1984.

Tudo começou com a ideia de realizar uma corrida no circuito montado no Fair Park, em torno do “Cotton Bowl”, um enorme estádio de beisebol, no mês de junho, sob um calor escaldante.

Assim que os pilotos chegaram na quinta-feira para conhecer o circuito, tiveram a impressão de que aquele não era o local ideal para uma corrida de Fórmula 1. 

Era uma época em que os pilotos viviam sob a mordaça da extinta FISA, braço esportivo da Federação Internacional de Automobilismo, presidida com mãos de ferro por Jean-Marie Balestre, e pelo chefão da F1, Bernie Ecclestone. Qualquer crítica dos pilotos à entidade, ou à categoria, era passível de punição; Mesmo assim o francês René Arnoux falou: “Não é porque fazemos um trabalho perigoso que não temos o direito de reclamar. Essa pista não é adequada para uma corrida de F1”, disse o indignado piloto da Ferrari.

Nigel Mansell conquistou a primeira pole position da carreira, com o companheiro de equipe, Elio de Angelis, em 2º. Desde 1978 que a Lotus não colocava os dois carros na primeira fila do grid. Mas havia uma preocupação para o domingo: o forte calor e o asfalto precário. Os organizadores decidiram antecipar a largada para as 11h da manhã para evitar a elevação da temperatura no período vespertino.

Naquela época havia o “warm-up”, um treino de aquecimento realizado 4h antes da largada, e uma cena pitoresca aconteceu nos boxes da Williams, quando o francês Jacques Laffite apareceu de pijama para o treino.

Alguns pilotos iniciaram um movimento em vão para cancelar a prova já que o asfalto ficara ainda mais judiado depois de uma corrida preliminar que aconteceu no sábado. Foram feitos vários remendos às pressas antes da corrida, o que causaria ainda mais problemas para os pilotos. Mas tudo que eles conseguiram foi a redução da distância da prova, de 78 para 68 voltas, e três voltas de apresentação para se adaptarem aos remendos do asfalto que derretia e soltava pedaços.

Com temperatura de 35ºC na sombra, 66ºC no asfalto, algumas equipes tiveram que adaptar radiadores improvisados para conter a temperatura dos motores. Nigel Mansell manteve a ponta na largada, seguido por De Angelis, Derek Warwick, Senna, Lauda e Prost. Piquet largou em 12º.

Mansell manteve a ponta até a 36ª volta quando tocou de leve o muro e perdeu a posição para Alain Prost. Este por sua vez também tocou o muro na 51ª volta e Keke Rosberg que largou de 8º, assumiu a ponta e venceu a desgastante corrida de Dallas.

Após a prova, Rosberg disse que sua tática foi manter a cabeça fria, numa alusão ao capacete especial refrigerado a água que usou para conter o forte calor.

Dos 26 que largaram, apenas 8 terminaram a corrida - 14 abandonos foram por acidentes, entre eles Nelson Piquet e, Ayrton Senna, que jurou que ‘o muro estava fora do lugar’! “É impossível eu ter batido naquele muro. O muro se mexeu”, disse. 

René Arnoux acabou sendo o grande destaque da corrida ao terminar em 2º depois de largar de 24º porque o motor da Ferrari não pegou na saída para a volta de apresentação. Mas o único GP de Dallas ficou famoso pela coragem e valentia de Mansell saltar do carro na última volta devido problema de câmbio, e empurrá-lo até a bandeirada para conquistar a última posição (6º) dentre os que pontuavam. Na linha de chegada o inglês desmaiou sob o asfalto fervilhando, e o esforço lhe valeu 1 ponto.