LEIA MULHERES

“Leia Mulheres” em Paraíso terá encontro virtual para discutir obra de Carolina Maria de Jesus

Por: João Oliveira | Categoria: Cultura | 20-04-2020 17:12 | 1577
As escritoras Clarice Lispector e Carolina Maria de Jesus
As escritoras Clarice Lispector e Carolina Maria de Jesus Foto: Divulgação

O clube leituras “Leia Mulheres” de São Sebastião do Paraíso, tendo em vista o respeito à política de isolamento social para a contenção da propagação do novo coronavírus, realizará neste sábado (25/4), encontro virtual. A obra debatida este mês será “Quarto de despejo – diário de uma favelada”, da escritora Carolina Maria de Jesus, publicado em 1960.
O último encontro presencial aconteceu em fevereiro, e em março não houve reunião. Todavia, para manter o cronograma de leituras e proporcionar a possiblidade de discussão das obras, as mediadoras Sarah Lara Naves e Alline Duarte Rufo adotaram o uso das tecnologias de comunicação.
Conforme explica a psicóloga e mediadora dos encontros, “neste mês optamos por manter os encontros do Clube de Leitura, porém virtualmente, através de uma plataforma de reuniões online de fácil acesso em smarthphone ou computadores. Devido a pandemia que enfrentamos neste momento, e que tem afetado o mundo todo, temos a intenção com este encontro online de proporcionar momentos de conexão e reflexão sobre a literatura”.
“Agora, mais do que nunca, sabemos o poder transformador que as expressões artísticas podem trazer a cada indivíduo, temos visto que neste momento de quarentena as pessoas estão entrando em contato consigo mesmas e promover um momento de compartilhar reflexões sobre obras literárias certamente será de grande significado para todos. Quem quiser participar conosco deste momento pode entrar em contato pelo número: (35) 98713-3115 ou entrar em contato pelo instagram @leiamulheresssp”, completa.

CAROLINA MARIA DE JESUS
A escritora Carolina Maria de Jesus nasceu em Sacramento, no interior de Minas Gerais, tendo sido neta de escravos e filha de uma lavadeira analfabeta. Ela cresceu ao lado de uma família com mais sete irmãos e ainda jovem recebeu o incentivo e a ajuda de uma patroa de sua mãe para frequentar a escola.
Com sete anos, a escritora ingressou no colégio Alan Kardec, onde cursou a primeira e a segunda série do ensino fundamental, e ali desenvolveu o gosto pela leitura e pela escrita. Em 1924, em busca de oportunidades, sua família mudou-se para Lageado, onde trabalharam como lavradores em uma fazenda, mas em 1927 retornaram para Sacramento.
Todavia, em 1930 a família volta a se mudar, desta vez para Franca (SP), onde Carolina trabalhou como lavradora e, em seguida, como empregada doméstica. Com 23 anos, perdeu sua mãe e se mudou para a capital onde foi faxineira e, mais tarde, empregada doméstica. Em 1948, a escritora mudou-se para a favela do Canindé, onde teve três filhos. Nesta época, durante a noite, Carolina trabalhava como catadora de papel. Foi uma fase onde estava sempre escrevendo o seu dia a dia. Em 1941, sonhando em ser escritora, procurou a redação do jornal Folha da Manhã com um poema que escreveu em louvor a Getúlio Vargas, tendo sido publicado com uma foto sua.
Graças a uma reportagem sobre a favela do Canindé, onde o repórter do jornal Folha da Noite, Audálio Dantas, visitou sua casa, é que seus escritos passam a ser conhecido e em 1960 é lançado o livro autobiográfico “Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada”, com edição de Audálio Dantas. Com uma tiragem de dez mil exemplares, só durante a noite de autógrafos foram vendidos 600 livros.
Com o sucesso das vendas, Carolina deixou a favela e pouco depois comprou uma casa no Alto de Santana. Também recebeu homenagem da Academia Paulista de Letras e da Academia de Letras da Faculdade de Direito de São Paulo. Entretanto, apesar do best seller, Carolina não demorou muito para voltar à condição de catadora de papel. Em 1969, mudou-se com os filhos para um sítio no bairro de Parelheiros, em São Paulo, época em que foi praticamente esquecida pelo mercado editorial. Carolina Maria de Jesus faleceu em São Paulo, no dia 13 de fevereiro de 1977.

O CLUBE
O clube “Leia Mulheres” é inspirado em um projeto homônimo que começou em 2014 com a escritora Joanna Walsh ao propor a hashtag “readwo-men2014”, ou em português “leiamulheres2014”, com objetivo de se ler mais mulheres, já que a maioria da literatura publicada, divulgada e estudava é masculina.
No Brasil, a iniciativa começou em 2015 com as amigas e ativistas Juliana Gomes, Juliana Leuenroth e Michelle Henriques, que transformaram a ideia de Joanna Walsh em algo presencial em livrarias e espaços culturais que posteriormente se espalhou para diversas cidades do Brasil. Hoje é possível acompanhar o trabalho de vários “Leia Mulheres” pelo site “leia mulheres.com.br”.
Em Paraíso, o primeiro encontro foi em junho de 2019, onde foi debatida a obra “João Miguel”, de Rachel de Queiroz. De lá para cá, diversas autoras ganharam destaque nos encontros, como Agatha Christie, Júlia Lopes de Almeida, Octávia Butler, Aline Bei e Clarice Lispector. O encontro inaugural de 2020 foi a obra “Um teto todo seu”, da escritora inglesa Virginia Woolf.