A gastrônoma Ana Carolina Braia de Souza é uma profissional dedicada a cozinhar e compartilhar aquilo que aprende. À arte de cozinhar ela compartilha da máxima de Mia Couto, de que “cozinhar é um modo de amar os outros” e, assim, ela ama a todos que encontra ao longo da vida. Talvez esta seja uma característica herdada de sua mãe, a professora e correspondente do Jornal do Sudoeste em São Tomás de Aquino, Selma Bronzatti Maciel Braia de Souza - que também arrasta afetos aonde quer que passe - e do seu pai, o administrador de empresas, José Alberto de Souza. Filha caçula do casal, ela tem um irmão, o analista de sistemas Mario Orlando Braia de Souza. É amorosa que ela nos conta um pouco da sua vida e fala sobre sua paixão: a gastronomia.
Jornal do Sudoeste: Carol, conte nos como foi crescer em São Tomás de Aquino?
A.C.B.S.: Foi uma infância verdadeira. Naquele tempo, uma infância rica de brincadeiras: andar de bicicleta, pular corda, montar lego, de “casinha”, pular amarelinha. Brinquei com boneca até meus 11 anos. Podíamos ficar na rua até tarde brincando, naquela época era tudo mais tranquilo. Uma cidade pequena com lembranças maravilhosas.
Jornal do Sudoeste: Gostava da escola? Onde estudou e o que mais a marcou nessa fase?
A.C.B.S.: Um período também marcante, feliz. Gostava sim, de estudar. Estudei sempre na Dr. Tancredo de Almeida Neves. Os professores tão queridos, os colegas de classe, a comida gostosa e bem feita na hora do “recreio”. Jamais vou esquecer aquela época.
Jornal do Sudoeste: Como é poder voltar para São Tomás ee encontrar os professores e pessoas com quem conviveu a infância e juventude?
A.C.B.S.: É muito bom. Não são todos que podem retornar para os pais, os amigos, os professores que marcaram minha vida. Agradeço a Deus por estar aqui, reencontrando os amigos de infância e adolescência. Isto e um grande privilégio.
Jornal do Sudoeste: Falando em juventude, como foi essa fase? Gostava de sair e se divertir?
A.C.B.S.: Foi ótima, na verdade comecei a sair com meus amigos para a balada aos 16 anos. Enquanto todos eles estavam no clube, praça à noite aos domingos, eu estava vendo a série Arquivo X. Meu amigo de infância é até hoje um “irmão”, João Paulo Moura Martins, ia à minha casa me convidando pra sair com a “turma” e eu pronta respondia “mais tarde, agora estou vendo Arquivo X”. Nossa, era a “morte” pra ele. João Paulo não gosta desta série até hoje por conta destas recusas. Mas também, depois que comecei a sair nos fins de semana com a “turma”, não parei mais.
Jornal do Sudoeste: Como foi seu convívio familiar e quais são suas memórias felizes dessa época?
A.C.B.S.: Muitas alegrias. Sempre combinei muito com meu irmão Mário que eu chamava de Dedé quando era pequena. Uma das minhas memórias felizes eram nossas brincadeiras escondidas. Uma das “artes” minhas e de Dedé (Mário) era subir nos “portais” tipo o homem aranha e apostar quem ficava mais tempo de braços e pernas abertas. Minha mãe ficou sabendo disso há pouco tempo e ainda ficou brava. “Meninos, que perigo!”, foi o que ela disse. Meu pai, minha mãe e meu irmão sempre amigos e presentes em minha vida.
Jornal do Sudoeste: o que representou a imagem de seus pais para sua formação como pessoa?
A.C.B.S.: Meus pais são exemplos de honestidade, respeito aos valores da família. Tratar a todos como iguais e ser verdadeira em qualquer situação. As vezes me chamam de “brava” porque eu falo o que penso, não mando recado. Não sei, na verdade, se é bom ou ruim, mas como dizem meus amigos, geminiano é custoso. No outro lado da moeda, sou amorosa demais, amiga demais: herança dos pais.
Jornal do Sudoeste: você é formada em Gastronomia. Quando descobriu que era isso mesmo o que queria fazer da sua vida?
A.C.B.S.: Sou formada desde 2006 pela Unifran, sendo a 1ª turma de Gastronomia. Acredito ser herança de família. Tia Ofélia Maciel Braia foi uma confeiteira famosa na sua época. E a minha avó materna Josefina Bronzatti Braia foi especial como cozinheira, para os familiares. Sempre gostei de fazer comida. Subia no banquinho pra alcançar o fogão, para fazer sopinha pra vovó Fina e sua amiga Sinhana Caprine. Aprendi os temperos e “segredos” de cozinha com ela.
Jornal do Sudoeste: Você sente que é uma profissão valorizada ou ainda percebe obstáculos?
A.C.B.S.: Sim, nesta área dificilmente falta emprego, no entanto, nem sempre o profissional sente que ganha o que “merece”. Mas independente disto, sempre trabalhei com amor e dedicação em tudo que fiz. “Cozinhar é um modo de amar aos outros” como bem diz Mia Couto e eu acredito nisso.
Jornal do Sudoeste: Qual foi o maior desafio que você enfrentou ao longo de sua formação?
A.C.B.S.: Como trabalhava, era uma correria, comia qualquer coisa na faculdade, era a conta de tomar um banho e ir estudar. Como morava no bairro Progresso, em Franca, ia e voltava a pé todos os dias. O desânimo não tinha lugar em minha vida universitária.
Jornal do Sudoeste: Foi difícil começar a carreira depois de formada? Co-mo foi esse processo?
A.C.B.S.: Foi fácil. Uma grande amiga, a Maria Rita Silva, me indicou para um teste na Tenda Árabe (Franca). Foi assim que teve inicio minha carreira de gastrônoma. Sai da faculdade e o emprego indicado, sem dificuldades.
Jornal do Sudoeste: Conte nos um pouco de sua trajetória profissional...
A.C.B.S.: Na tenda Árabe foi onde aprimorei meu conhecimento da cozinha Árabe. Tenho que agradecer muito a minha amiga e colega de trabalho Onofra Ortiz, a quem devo o conhecimento dos segredos que tornam tudo muito gostoso e bem feito. Tenho que agradecer também ao Michel e Renata Aoude pela oportunidade que me deram. Sou grata a eles. Trabalhei no Armazém Santa Clara (Franca), Latifas (Franca) e por ultimo Villa Cerealle Mercato (loja de alimentos naturais), com minha amiga de faculdade e proprietária Maria Virginia Figueiredo. E na Villa Cerealle aprendi montar tábuas de frios “decoradas” que ficam lindas e fazem grande sucesso em Franca. Foram 16 anos de aprendizado, novas amizades, com muitas recordações que vão deixar saudades. Agora, de volta a minha terra naatal, pretendo iniciar uma nova trajetória profissional.
Jornal do Sudoeste: Já pensou em ter outra profissão? Se sim, qual seria?
A.C.B.S.: Sou apaixonada por cachorros, tenho seis em casa. Daria certo como veterinária. Sempre falo que se tivesse recursos financeiros, teria um abrigo para cães e gatos abandonados. Admiro cavalos. Tenho pavor quando vejo alguém “judiando” deles ou de qualquer outro animal. Passarinho na gaiola, jamais. Vieram pra ser livres.
Jornal do sudoeste: Existe algum chef que você admira e se inspira?
A.C.B.S.: Gosto muito do jeito do Chef Francês Erick Jacquin. Exigente, enérgico, mas com um grande coração. Comecei a ver Master Chef por sua causa. Gosto da maneira como ele avalia os “pratos”, suas criticas construtivas e sempre pensando em preparar muito bem um Chef para o mercado de trabalho, que é muito exigente.
Jornal do Sudoeste: Você encara a culinária como uma arte? Qual a importância dela?
A.C.B.S.: Sim, nem todos têm essa aptidão para a “cozinha”. Está, acredito eu, alicerçado à vocação, e aqui me lembro novamente das merendeiras da Escola Dr Tancredo de São Tomás de Aquino. Sua importância é secular. Os produtos naturais enriquecem qualquer cardápio e comer é uma questão de sobrevivência. Uma receita com produto de qualidade a torna mais gostosa e nutritiva. Sou exigente nesta parte. Azeite e manteiga não podem faltar na minha cozinha.
Jornal do Sudoeste: Você sonha em ter seu próprio restaurante? Quais são seus planos a médio ou longo prazo?
A.C.B.S.: Nunca pensei nesta hipótese. O bom senso, no entanto, me diz para esperar a crise dessa pandemia passar. Estou em casa com meus pais que são idosos e no momento precisando ajudá-los. Assim, estarei aberta a novas propostas num futuro próximo, se Deus quiser.
Jornal do Sudoeste: Qual sua especialidade na cozinha? Tem algum segredo que não compartilha com ninguém?
A.C.B.S.: Minha especialidade é Comida Árabe e Tábuas Frias decoradas. Não tenho segredos, por onde passei, na área da cozinha, ensinei muito. A mesma receita, cada cozinheiro dá o seu toque, o que é natural. Conhecimento nunca é demais, da mesma forma que gosto de aprender, gosto de ensinar.
Jornal do Sudoeste: Qual o balanço de vida que você faz até aqui?
A.C.B.S.: Muito aprendizado, tive conquistas pessoais, lógico que tive também decepções como qualquer pessoa. Das decepções aprendi a ser mais forte e acreditar que o amanhã será diferente. Hoje gosto muito mais de cozinhar. Amo o que faço. Cozinhar continua sendo minha paixão, uma forma de amar e ser feliz. Nunca me imaginei em outra profissão a não ser, Veterinária. Minha vocação está entre panelas, temperos, bons ingredientes dando o meu melhor na “Arte de Cozinhar”.