O tradutor e intérprete, Marçal de Castro Lauria, mais conhecido como Marshall Ramone, é um paraisense que já passou por muitos altos e baixos nessa vida, porém nunca deixou de se dedicar à educação e hoje mantém um canal no Youtube e perfil no Instagram onde dá aulas de Inglês gratuitamente. Filho do saudoso comandante Marcus Nascimento Lauria, e de Leonilda de Castro Lauria, Marshall vem de uma família de seis irmãos, o Marcos Antônio Lauria, Márcio Aurélio Lauria, Cláudio Henrique Lauria, Alexander César Lauria, Marcelo Rodrigo Lauria e do seu gêmeo Marlon de Castro Lauria. Hoje, aos 42 anos, ele conta um pouquinho da sua vida e o que mudou após uma reportagem especial feita com ele há mais de 20 anos pelo Jornal do Sudoeste.
Jornal do Sudoeste: Você foi criado em Paraíso. Como foi a infância e quais recordações você tem desta época?
M.C.L.: Todo o meu caráter, princípios e essência foram desenvolvidos em São Sebastião do Paraíso. Lembro-me como se fosse ontem eu trabalhando na Área Azul como guarda-mirim, comandado pelo finado e querido Darci Ferreira. Este era uma pessoa que toda vez que eu voltava para visitar a família fazia questão de vê-lo. Era um paizão para os guarda-mirins. Todos viraram “gente”, adquirimos responsabilidade, aprendemos respeito, companheirismo, cidadania. Trabalhei lá dos oito aos treze anos de idade. Tenho um irmão gêmeo, Marlon, também trabalhou comigo na Área Azul. Nós éramos famosos por sermos gêmeos (risos). Inclusive fomos capa do Jornal do Sudoeste em 1996, Gêmeos, clones naturais. Junto com as gêmeas Kênia Capati e Keila Capati. Eu poderia discorrer aqui páginas e mais páginas lembrando das pessoas que passaram pela minha vida e foram referências. Da época que vendíamos sorvete do Alex nos jogos da Associação Atlética Paraisense. Das minhas professoras queridas como a Stella Maris Carnevale e Vera Mafra. De quando meu irmão e eu éramos coroinhas na Igreja da Matriz ao lado do querido Monsenhor Hilário Pardini que recém nos deixou e das leituras nos domingos de manhã na Rádio Difusora AM e também dos grupos de jovens como o Shalom. Do Grupo Solidariedade Jovem com a Divina Machado frente ao grupo e dos vários eventos beneficentes. Das figuras marcantes dessa época, Ubiratã, Tião Borbore-ma com sua vestimenta de gaúcho e um berrante, o “Por-quim Caruncho”, a “Cida Rola” (não sei se posso falar, acho que não) dentre outros. Eles fizeram parte da nossa história, nós tínhamos carinho por eles. Tenho lembranças da minha vizinhança, havia muita criança, brincávamos todos os dias. A vida era escola, Área Azul, chegava em casa, dava oi e já ia pra rua brincar até se acabar. Éramos felizes. Lembro-me do Bar Bate-Papo, do restaurante Achei, do Katatokos, do carnaval nos clubes e nas ruas com Pérola Negra, Minas de Ouro, Unidos do Alto, o bloco Bafo da Onça. Lembro-me das mulheres lindas de Paraíso, “Misses” por natureza. Lembro-me do Clube Paraisense, Ouro Verde Tênis Clube, Praça de Esportes Castelo Branco, Centro Social Urbano e da Arena quando ainda era “elefante branco” (rss).
Trabalhei como office boy na Rádio Ouro Verde, na Tv Paraíso, e várias lojas da cidade. Entregava jornal e panfletos. Trabalhei como designer na gráfica do Wallace. Tive aulas de violino com meu finado avô Caetano Lauria e exemplos de generosidade, fé, paciência com minha avó Aparícia Nascimento Lauria (Vó Pequena). Lembro-me das traduções de letras de músicas em inglês no programa de rádio com o icônico Silvano Zague. Lembro-me de ter ido a televisão local reivindicar direitos como combustível e ônibus para estudantes de Paraíso irem estudar nas universidades da região, inclusive meu nome está lá como secretário da ata inicial da ACEP. Tenho tantas lembranças boas que só por isso eu já não precisaria de mais nada pra ser feliz.
Jornal do Sudoeste: Você tem um nome diferente. Há uma história por trás dele?
M.C.L.: Sim (risos). Eu tenho um apelido, Marshall Ramone. O meu nome Marçal foi uma escolha que minha mãe fez por causa de um amigo da família, finado Marshall Bérgamo Lima, o nome dele era com “sh”. Talvez os pais dele nunca souberam, mas a minha mãe escutou esse nome e colocou no calendário. Minha mãe não esperava ter mais filhos, pois já havia cinco. Daí vieram dois de uma vez, meu irmão gêmeo Marlon e eu. Esses dois nomes estavam anotados no calendário porque ela achava bonitos. Eu cheguei a conhecer o meu xará. O meu apelido primeiro foi me dado pelos meus amigos ainda na escola, me chamavam de Marshall em inglês. O Ramone veio por uma admiradora secreta (rss). Na escola havia correio elegante, eu sempre gostei dos Ramones (banda de punk rock) e recebi uma carta destinada a Marshall Ramone, e daí esse nome pegou e até hoje sou chamado de Marshall Ramone (nunca soube quem me enviou a carta).
Jornal do Sudoeste: Você tem uma família grande, como foi o convívio familiar e que importância teve isto na sua vida?
M.C.L.: Meu finado pai, Comandante Marcus Nascimento Lauria, junto com minha mãe, Leonilda de Castro Lauria, me ensinaram valores, princípios e educação no trato e convívio com meus irmãos e em coletivo. Todos irmãos foram importantes na minha formação, aprendi muito com cada um, nos quais destaco o primogênito Marcos Lauria, com quem aprendi o valor da responsabilidade e liderança; com o Márcio Lauria a ser firme quando tem que ser sem deixar a flexibilidade de lado; com o Cláudio Lauria aprendi generosidade e empatia; com o Alexander Lauria a ser sério e organizado; com o Marcelo Rodrigo Lauria a ser humilde e prestativo e com o Marlon Lau-ria a ser determinado e focado.
Jornal do Sudoeste: Onde estudou e quais lembranças saudosas tem desta época?
M.C.L.: Estudei na Escola Estadual Coronel José Cândido. Recebemos o primeiro aprendizado e o amor que não fosse o da família lá. Dos funcionários da limpeza ao diretor éramos cuidados com muito zelo e amor, foi ali que eu me apaixonei pela língua inglesa pela primeira vez, na 8 série. Lembro com muito carinho da professora Carmem Lúcia Coelho Braga. Depois veio a Escola Estadual Benedito Ferreira Calafiori (Ditão) que foi importante no meu aprendizado para o vestibular como também foram momentos de descobertas, namoradas e farras.
Jornal do Sudoeste: Era um bom aluno? Do que mais você gostava?
M.C.L.: Sim, tenho facilidade em prestar atenção e entender. Sou muito de ouvir, eu era um aluno levado, mas na hora que o(a) professor(a) abria a boca eu me calava de imediato e prestava atenção. Nem era de estudar em casa. Uma curiosidade, eu sempre gostei de Língua Inglesa, nessa época eu anotava as matérias no meu caderno tudo em inglês. Por exemplo, estava tendo aula de História, eu não gostava muito da matéria, para eu estudar eu anotava tudo em inglês, mesmo não sabendo muito vocabulário, o que eu não sabia pesquisava no dicionário em casa, era uma forma de eu estudar inglês, aprendia vocabulário e de quebra a matéria.
Jornal do Sudoeste: Você tem um irmão gêmeo. Vocês “aprontavam” muito quando crianças e adolescentes?
M.C.L.: Sim, a gente trocava de namoradas. Muitas vezes deu certo, às vezes desconfio que algumas delas sabiam, mas acho que queriam provar a diferença (haha). Meu irmão e eu sempre nos demos bem, moramos em cidades diferentes já há mais de 20 anos, mas sempre nos falamos, nos vemos como podemos. Temos um amor muito grande um pelo outro.
Jornal do Sudoeste: Na juventude, o que gostava de fazer? Quais recordações saudosas você tem deste período na sua vida?
M.C.L.: Sempre gostei da liberdade, dos meus amigos, de trabalhar, estudar, praticar esportes. Na época da faculdade foram muitas noites pouco dormidas, hoje olhando para aquela época é de sensação de orgulho, de dever cumprido.
Jornal do Sudoeste: Você sempre teve facilidade com idiomas?
M.C.L.: Não. Sempre fui dedicado. Acho que hoje consigo entender o aluno porque eu já passei pelas mesmas dificuldades ou piores.
Jornal do Sudoeste: Fale um pouco da sua formação e atuação profissional...
M.C.L.: Eu me graduei Tradutor e Intérprete pela Unifran, Franca (SP). Com 17 anos de idade eu já ensinava inglês. Tive uma escola de inglês já no primeiro ano de faculdade, primeiro uma sociedade com a escola de informática de William Jackson, Microbyte Escola de Inglês e Informática, depois criei a Lincoln English School. Nessa época fui capa do jornal Sudoeste, “jovem intérprete paraisense no Congresso de Imunologia da USP”, interpretei o papa da Imunologia o Mr. Abul K. Abbas.
Tive a escola de inglês até meus 21 anos de idade, quando me mudei para o sul do país, Curitiba (PR). Depois estudei pra ser comissário, passei na prova, mas desisti de exercer. Tive oportunidade pra ir a Emirados Árabes, mas eu resolvi ficar no Brasil.
Morei em Florianópolis, estudei Mestrado em Tradução pela UFSC, passei no concurso para ser professor do Estado de Santa Catarina. Trabalhei como professor do estado. Dei aulas em duas faculdades. Depois desisti do concurso, fui subindo todos os estados me aventurando como professor de inglês, foi o melhor aprendizado da minha vida. Conheci pessoas, lugares, culturas, eu viajei esse Brasil todo, era o meu sonho desde criança. Eu não queria ir ao exterior sem antes conhecer todo o meu país. Só faltam os estados do Acre, Rondônia, Roraima e Amapá.
Passei no concurso do Exército Brasileiro, fui professor do Colégio Militar como oficial. Também durante a Copa do Mundo de 2014 no Brasil fui escolhido para representar a 10 RM (Região Militar). Recebi todas as delegações que vieram a Fortaleza. Fizemos parte do controle de segurança também da cidade. Foi a melhor fase de Fortaleza. Assisti aos jogos, conheci muita gente interessante.
Jornal do Sudoeste: Hoje você mora em Fortaleza (CE). Sente saudades de Paraíso?
M.C.L.: Sim, minhas raízes são fortes. Quando volto a minha cidade natal, muitas lembranças se afloram. Meu jeito de ser foi moldado aí, povo “bão”, hospitaleiro com a calma mineira. Eu sou um embaixador de São Sebastião do Paraíso, aonde vou falo com orgulho. Quando não conhecem, falo da Manteiga Aviação, as pessoas abrem um sorrisão.
Jornal do Sudoeste: Durante a vida passamos por muita coisa. Qual foi o momento mais difícil que você enfrentou e o de maior alegria?
M.C.L.: Ah, sem dúvida, eu estive entre a vida e a morte (mais pra morte do que pra vida), quando tive dengue hemorrágica em 2008. Passei 21 dias em estado gravíssimo, saindo sangue até pelos olhos, com hematomas por todo o corpo, 20 quilos a menos (só osso e cabelo), tomei 29 litros de soro, no quarto dia internado tive choque anafilático, fiquei sem respirar, me reanimaram com adrenalina na veia. Foi um milagre e muita força de vontade de viver por eu ter sobrevivido.
O momento mais feliz da vida sempre vai ser quando ganhei a minha primeira bicicleta. Lembro-me como se fosse agora, a bicicleta no meio da sala quando acordei, eu pulava de alegria, beijava meu pai e minha mãe e dizia “obrigado, obrigado!”, nem eu ter passado em cinco concursos na vida me deixaram tão feliz quanto aquele dia. Mais outros dois momentos eu gostaria de mencionar aqui o quão feliz fiquei em ver o outro feliz. Quando ajudei a minha mãe a reformar a casa dela foi pra mim como a minha maior missão, ver a minha mãe feliz depois de um ano de reforma foi impagável. E o outro momento feliz da minha vida estou vivendo agora, o Projeto Inglês de Graça. Tenho um canal no Youtube – Inglês de Graça com Marshall Ramone. Um site (www.proje toinglesdegraca. com.br) e aulas todos os dias às 19 horas durante as Lives (aulas ao vivo) no meu Instagram @marshall ramone. Ver alunos se dedicando e felizes por aprender inglês de casa sem pagarem um tostão me faz entender sobre nosso propósito de vida na Terra.
Jornal do Sudoeste: Qual a importância da Educação para você? Ela pode mudar uma vida?
M.C.L.: É através da Educação que nos expressamos. A Educação é a cura do câncer, das doenças e do maior mal: a ignorância. Você conquista o mundo através da Educação. A Educação é a única capaz de promover a igualdade, a justiça, a liberdade.
Jornal do Sudoeste: Você gosta de viajar? Por onde já esteve? Tem um lugar favorito?
M.C.L.: A minha vida é viajar, sou um Nômade Digital. Já morei em várias cidades. Meu sonho é ter um MotorHo me e sair viajando mundo afora. Sou apaixonado pela gentileza e pelas praias de Floripa (SC), a hospitalidade, humor e natureza do Ceará em especial Jericoacoara, as belezas naturais de Maragogi-AL, a educação e comprometimento do Curitibano (Curitiba-PR) e o cheiro do café, do pão de queijo e jeito do mineiro de São Sebastião do Paraíso. Já viajei também pela França, Espanha, Portugal e Bolívia.
Jornal do Sudoeste? Você tem hobbies? Qual?
M.C.L.: Sim, amo praia. O que tiver praia envolvido tô dentro. Também gosto de escutar músicas e preparar umas aulas bem divertidas. Vez ou outra me aventuro como mochileiro.
Jornal do Sudoeste: Quais são seus planos para o futuro?
M.C.L.: Não tenho planos, tenho sonhos e vivo o presente, mas não fico esperando nada cair do céu.
Jornal do Sudoeste: Qual o balanço que você faz dessa caminhada até aqui?
M.C.L.: Ah, a vida ensina muito conforme você vai amadurecendo. Alguns amadurecem cedo, outros tarde e outros de forma natural (meu caso). Eu prezo a minha paz. Aprendi também nosso propósito na vida não é focarmos na nossa felicidade, quando fazemos algo a alguém e nos sentimos úteis é aí que descobrimos a felicidade, porque ao fazermos alguém feliz, consequentemente ficamos felizes. Obrigado, Paz!