Era para estarmos no final de semana do GP da França, 10ª etapa do Mundial, mas a temporada vai começar somente no próximo domingo, na Áustria, e o citado GP da França sequer vai acontecer por causa da pandemia, juntando-se a outros seis que também já foram cancelados, e a previsão é de que não fique só nesses.
O formato dos finais de semana de corrida foi mantido com as duas sessões de treinos livres na sexta-feira, uma no sábado, o treino de classificação, e a corrida no domingo.
Cogitou-se uma mini corrida no sábado como forma de definir o grid das corridas que serão disputadas em dois finais de semana seguidos na mesma pista, mas a Mercedes vetou a ideia que por outro lado não foi descartada para o próximo ano.
Achei louvável o veto da Mercedes porque sempre fui contra regulamentos que adotam inversão de grid e essa tal mini corrida teria as posições de largada invertidas de acordo com a classificação do campeonato, com o líder largando em último, e o lanterna em primeiro, e assim sucessivamente. O resultado dessa mini corrida seria a formação o grid da prova do domingo.
Uma das atrações da F1 sempre foram os treinos de classificação com os pilotos andando no limite e extraindo tudo de seus carros numa volta voadora, o que não aconteceria numa corrida, ainda que com apenas um terço do total de voltas.
Mas como deverá ser a F1 em tempos de pandemia? Com certeza muito diferente. Se para o bem ou não, só o tempo dirá. Há um extenso protocolo a ser seguido pelo reduzido número de integrantes que vão viajar para as corridas para evitar o contágio pelo corona-vírus, e esse será um dos grandes desafios que todos terão que lidar, mas não é só.
Por conta do calendário apertado - as oito primeiras corridas serão disputadas em 10 finais de semana - e o reduzido número de mecânicos e engenheiros, deverá tornar o trabalho mais demorado que o normal. Por mais que a F1 seja excelência em qualidade, agilidade e eficiência em suas operações, com menos integrantes os reparos, troca de peças, e de motor, deverão ser mais demorados. Dependendo do dano, levará o dobro do tempo que normalmente se gasta. E se o piloto bater numa sessão de treinos poderá comprometer sua participação na sessão seguinte por falta de tempo para que o carro seja refeito.
Tudo isso terá reflexo na pista. É esperado que os pilotos sejam mais cautelosos e corram menos riscos, o que por si só diminui as chances de acidentes e consequentemente reduz os gastos numa época em que nunca se pensou tanto em economizar dinheiro na F1 como agora.
Mesmo com a maioria das corridas disputadas na Europa, próximo das fábricas das equipes, as condutas adotadas para que os integrantes não se locomovam além do trajeto hotel-pista e vice-versa, impedirá as equipes fretar vôos para trazerem peças de reposição.
Isso também poderá tornar as disputas menos acirradas para evitar o risco de acidentes, e dá até para afirmar que raramente deveremos assistir duelos entre companheiros de equipe, como o de Vettel x Leclerc que resultou no abandono dos dois no ano passado, em Interlagos.
Se em condições normais os chefes de equipes ficam arrepiados quando seus pilotos encontram na pista, será surpreendente se eles deixarem a disputa rolar solta. A menos que, por ironia, isso aconteça na própria Ferrari já que Vettel está de saída e com o gosto amargo na boca de ser preterido por Leclerc. Talvez essa possa ser a única chance de vermos dois companheiros duelarem caso Vettel receba ordem para dar passagem ao monegasco e se recuse a ceder, ou ignore ordens para não atacar o rival.
Se Vettel ainda almeja algo mais na F1, sair novamente derrotado por Leclerc poderá decretar o seu fim de carreira.
O mundo está diferente diante da pandemia e não há como não ser também com a F1 e o esporte em geral.