O padre Ailton Goulart Rosa, que assumiu a paróquia de Nossa Senhora da Abadia em novembro do ano passado, completa neste domingo 67 anos de vida. Natural de Pratápolis, ele foi professor, bancário, e aos 44 anos com o falecimento de sua mãe decidiu abraçar o sacerdócio. Apesar de sempre sentir a vocação, foi ordenado padre aos 50 anos. De lá para cá, o padre Ailton esteve à frente das paróquias de Alpinópolis, de Passos e, agora, em Paraíso, terra que conhece desde sua infância quando ainda muito jovem vinha passar às férias na casa dos tios. Filho de Geraldo Goulart Rosa e Pulcina Maria de Jesus (em memória), hoje ele nos brinda com esta entrevista para contar um pouco da sua trajetória, e aqui nós redemos à sua pessoa, votos de feliz aniversário por seus 67 anos de vida!
Jornal do Sudoeste: Você é natural de Pratápolis. Viveu lá até que idade?
A.G.R.: Sim. Vivi em Pratápolis até meus 21 anos. Depois que terminei o segundo grau, fui para São Paulo, em 1973, onde trabalhei por um período, mas acabei voltando. Era professor e lecionava na zona rural, mas depois prestei concurso e, em 1974, comecei a trabalhar no Banco Itaú, em Furnas, onde fiquei até 1979, quando fui transferido para Goiás, já como subgerente. Passei por várias cidades como Gurupi, Guimarânia, Lagamar, Abadia dos Dourados, Jataí e Ituiutaba, que foi a última cidade em que trabalhei para o Banco Itaú, isso em 1987. Quando deixei o banco, voltei para Pratápolis e, 1988 coordenei a campanha política em Pratápolis, ganhamos a eleição e fui ser assessor do prefeito, à época o Francisco Antônio Novelli de Souza, até 1992. Depois disso tive uma loja na cidade.
Jornal do Sudoeste: E quando surge o sacerdócio na sua vida?
A.G.R.: Em 1998 eu recebi esse chamado maior de Deus, já estava com 44 anos. A vocação para ser padre vem desde criança, mas não foi trabalhada. Venho de uma família pobre, onde todos precisavam começar a trabalhar desde cedo. Tive uma infância tranquila em Pratápolis. O emprego já era necessário, e fui assistente de alfaiate no período em que estudava. Recordo-me que quando estava na sétima série, passou por Pratápolis um padre que distribuiu uns folhetinhos com profissões que podíamos escolher, e me recordo de ter colocado padre. Ele conversou comigo, e disse que quando eu terminasse a oitava série, ele voltaria para que conversássemos mais. Mas ele não voltou, e como o trabalho era necessário, a vida continuou. Mas ser padre estava dentro de mim. O interessante é que em cada cidade em que passei para trabalhar nas agências do Banco Itaú, antes mesmo de visitar a agência, primeiro eu visitava a igreja.
Jornal do Sudoeste: Você sempre carregou essa religiosidade...
A.G.R.: Sim, eu nunca perdi uma primeira sexta na vida. Minha mãe tornou isso muito marcante, a primeira sexta do Sagrado Coração de Jesus. Eu tive uma infância e adolescência normal, como a de todas as pessoas, namorei, fiquei noivo, mas não era esta a minha vocação. Cuidei dos meus pais todo o tempo, mas depois que minha mãe faleceu em 1997, o chamado se tornou mais forte. Eu já ajudava na Igreja. Recordo-me que quando falecia alguém, que era anunciado no autofalante da Igreja, eu já sabia que teria serviço para fazer. Poder colaborar me causava uma satisfação muito grande. Nesta época, já aos 44 anos, e com o falecimento da minha mãe, já não tinha nenhum vínculo e decidi responder a esse chamado.
Jornal do Sudoeste: E como foi esse processo até se tornar padre?
A.G.R.: À época conversei com o padre Donizete, de Pratápolis, que à época era o pároco, e ele ficou muito entusiasmado, mas me levou para conversar com o promotor vocacional, que era o Padre Arnoldo, de Juruaia, e de lá ele já nos encaminhou para Guaxupé, para conversar com o reitor no Seminário. Minha vocação já era um pouco tardia, eu estava com 44 anos e isto seria uma barreira, mas tive a graça, e agradeço muito ao Dom José Geraldo por ter me aceitado. Foi uma experiência muito boa a que tive no seminário, mas foi um tempo um pouco difícil de adaptação, porque convivia com meninos de 17 e 18 anos, eu já estava com 44. Nesta época já tinha passado por algumas formações, tinha Filosofia, era formado em Letras. Então fiz uma adaptação de um ano em Guaxupé e, em 1999, fui para Pouso Alegre, onde estudei Teologia por quatro anos, depois fiz um ano de pastoral e, em 2003, aos 50 anos, me ordenei padre.
Jornal do Sudoeste: Como foi o processo de ordenação e esse início?
A.G.R.: A minha ordenação foi interessante. Quando Dom José Geraldo foi fazer a minha ordenação ele disse para que eu aproveitasse muito o sacerdócio, porque provavelmente eu não faria 15, 25 ou 50 anos de sacerdócio e, graças a Deus, irá completar 17 anos que estou como sacerdote e estou muito feliz. A primeira paróquia onde atuei foi em Alpinópolis, em 2003, onde já estava como diácono, e permaneci lá até 2015. Foi um período muito proveitoso, uma cidade muito boa, muito religiosa e onde aprendi a ser padre. Tenho um carinho muito grande por todos os paroquianos de Alpinópolis. Depois fui transferido para a paróquia da Nossa Senhora da Penha, em Passos, onde fiquei até 2019. Foi outra realidade, Passos já contando com oito paróquias, já era um diferencial muito grande essa convivência com outros padres e outras realidades. O santuário da Nossa Senhora da Penha é um marco naquela cidade, e, tendo em vista o Hospital do Câncer, é muito próximo, as pessoas iam para a paróquia rezar antes de voltar para a casa. Aquele espaço acabou se tornando um “estacionamento”, e atendíamos as pessoas que iam para fazer o tratamento no Hospital, e esperavam o momento de voltar para casa.
Jornal do Sudoeste: Como foi sua chegada a Paraíso?
A.G.R.: Assumi a paróquia da Nossa Senhora da Abadia em 20 de novembro de 2019. É uma outra realidade, mas eu já conhecia Paraíso. Na minha infância eu tinha muitos contatos aqui. Nas férias, vínhamos à casa da tia Zumira, que morava ao lado do Posto Colega. Todo esse território da Abadia já era familiar para mim. Eu também tinha um tio, José Goulart, que também morava aqui em Paraíso, além de muitos outros familiares. Eu tenho esse reduto familiar na cidade.
Jornal do Sudoeste: Como foi sua receptividade?
A.G.R.: Eu fui muito bem acolhido, agradeço de coração a todos que me receberam. São pessoas muito fervorosas também. Estou muito feliz de estar aqui, os desafios são muitos, mas agradeço por estar trabalhando. Não temos uma cidade e um local fixo, ordenamos para a Diocese, onde o bispo nos pede temos que responder ao chamado.
Jornal do Sudoeste: A fé, principalmente para este momento que estamos vivendo, é muito importante, não?
A.G.R.: A fé é muito importante. Recentemente enfrentamos um pequeno problema, porque até então estávamos realizando as missas com um número reduzido de pessoas, mas depois fomos informados de que não poderíamos mais. Mas a fé é essencial! Quando dizem que a loteria é essencial, que o comércio é essencial, eu também questiono sobre a papel da fé. Ela não é essencial? Eu acredito que sim, e que faz parte da vida das pessoas. Há aqueles que não possuem fé, mas cada um tem sua individualidade e temos que respeitar, mas neste momento que vivemos vejo que a fé é muito essencial. A minha grande preocupação com as igrejas fechadas e o não atendimento é com o aumento do número da depressão. Cheguei a conversar com o prefeito sobre isso e sobre o mal-estar que a situação está causando nas pessoas pela falta de emprego, redução de salário entre outras questões. Eu abro a igreja às 13h e fico até às 16h atendendo as confissões, claro que tomando todos os cuidados e respeitando os limites. Apesar de ter a possibilidade de ficar isolado, ao mesmo tempo eu preciso receber essas pessoas para dar um alento, uma palavra de conforto, e esperança.
Jornal do Sudoeste: A fé é um pilar importante na vida das pessoas...
A.G.R.: Sim, quando a pessoa tem fé, ela consegue transcender às situações e fortalecer nossa esperança para vencer todas as dificuldades.
Jornal do Sudoeste: Recentemente, o Papa Francisco realizou uma missa com o Vaticano deserto devido a pandemia da Covid-19. Como foi para você ver essa cena?
A.G.R.: O mundo inteiro se emocionou, não tem como não se emocionar. Foi um momento muito impactante e ninguém esperava uma imagem daquela, um Papa sozinho, caminhando por aquele pátio imenso, mas com o propósito e olhar fixo em Jesus. Aquele olhar dele fixo em Jesus... o caminhar... a chuva fina, foi uma simbologia muito grande da presença de Deus e uma emoção muito grande poder ver aquilo. Diante de tudo o que está acontecendo, precisamos despertar, buscar novas maneiras de viver e viver, principalmente, o hoje. Agora, com essa pandemia, não temos certeza do amanhã, então aquela toalha bonita que você estava guardando, use hoje. Tudo aquilo que puder fazer, faça hoje, faça bem feito e faça com amor.
Jornal do Sudoeste: Qual a mensagem você deixa para nossos leitores...
A.G.R.: Gostaria de desejar aos leitores e a todos da comunidade paraisense que tenham sempre fé, esperança e que não descuidem jamais da caridade. O Sagrado Coração de Jesus tem uma mão apontada para o coração, que simboliza o amor, Deus; e a outra mão está estendida para o irmão. Só chegaremos ao céu se tivermos amor em Deus e segurando a mão de nossos irmãos. Sozinhos, nunca chegaremos a lugar algum.
Jornal do Sudoeste: Qual o balanço dessa caminhada até aqui?
A.G.R.: Tudo na minha vida sempre busquei fazer com perfeição, e aquilo que não posso fazer, faço com o meu máximo, e isso em tudo o que vivi. Agradeço todo o aprendizado que tive com a minha família, aquilo que minha mãe e meu pai me passaram; agradeço a todos que me deram oportunidade, me estenderam a mão. Ao Banco Itaú tenho um carinho muito grande, aprendi muito nos 14 anos que trabalhei ali; também, no poder público, trabalhei com carinho, e apesar de não ter sido a melhor fase, aprendi muito. Só tenho a agradecer, principalmente a Deus, a quem sou grato todos os dias. Completar 67 anos é uma graça de Deus. Tenho força, saúde perfeita, esperança, e quero permanecer aqui até quando Deus permitir. A todos meus mais sinceros agradecimentos