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Adriana Batista: Enfrentando adversidades sem nunca perder a fé

“São os sonhos que nos movem, que nos tornam felizes e realizados”
Por: João Oliveira | Categoria: Entretenimento | 02-08-2020 08:38 | 5450
Adriana Batista é formada em Comércio Exterior pela UNIP e hoje trabalha com revenda de semijoias em Paraíso
Adriana Batista é formada em Comércio Exterior pela UNIP e hoje trabalha com revenda de semijoias em Paraíso Foto: Arquivo Pessoal

A paraisense Adriana Santos Batista já passou por diversos momentos de dificuldade e perdas que a tornaram um ser um humano mais forte e capaz de enfrentar qualquer obstáculo que se interponha em seu caminho. Ainda muito jovem, perdeu seus entes mais próximo em um acidente de carro, em outubro de 2009. A partir daí, teve que lutar muito para manter-se firme. Sempre muito apegada à sua religiosidade, ela destaca que a fé que tem em Deus foi um dos pilares que a manteve sã diante de tantas perdas. Filha de Luzia dos Santos (em memória) e João Batista Filho, hoje, aos 31 anos, ela destaca que não importa o quão difícil possa parecer uma situação, há sempre um propósito e não podemos perder a confiança em Deus.

Jornal do Sudoeste: Conte-nos um pouco da sua criação, as raízes da sua família e como foi esse convívio familiar...
A.S.B.: Minha mãe, Luzia, nasceu em Capitólio, e meu pai, João, em São José da Barra. Eles se casaram e vieram morar aqui em Paraiso, meu pai era comerciante, tinha um empório de mercadorias chamado Santa Cruz, que ficava em frente ao Posto Guará, na esquina (onde atualmente está localizado o Mimos presentes). Meus pais se separaram quando eu tinha apenas dois anos de idade. Meu pai mudou-se de cidade, deixando minha criação na responsabilidade da minha mãe e meus irmãos, que já eram bem mais velhos que eu, o Ademir já tinha 21 anos e a Andréia 13 anos, quando eu nasci. Fui criada com muito amor, carinho, educação e com muitos princípios. Desde criança, sempre fui muito incentivada a estudar, cuidar da minha saúde e a ser uma pessoa honesta e de caráter. Embora meus irmãos fossem mais velhos, nossa convivência era ótima, era bem mimada por eles e por minha mãe, que sempre atendia meus desejos, gostava de me pentear, colocar roupas igual uma boneca e ficar no alpendre da minha casa para todos que passassem pudessem me ver. 

Jornal do Sudoeste: Quais suas memórias mais marcantes da infância e a fase de escola? 
A.S.B.: Morávamos na rua La Salle, próximo a Santa Casa, onde vivi em um tempo que podíamos brincar na rua, soltar pipa, tocar campainha na casa dos outros, brincávamos de elefantinho colorido na rua, passa anel e balança caixão. Tenho muitas lembranças boas daquela época de menina, e sinto saudade dos vizinhos, entre eles a Dona Abadia, Dona Margarida, Dona Rosa, Dona Geralda, Ailton da padaria em frente, e seus filhos que fizeram parte da minha infância, na qual eu fui muito feliz e tenho muita saudade de todos. Sobre a fase de escola, também tenho muito carinho pelas escolas, diretoras e professoras com quem convivi. Estudei primeiramente na escola Noraldino Lima, onde conheci a professora Walterce Grillo, que me incentivou ao teatro. Apresentei algumas peças na escola e outras no Teatro Municipal; e até hoje seus conselhos servem para minha vida, ela sempre me dizia: ”Tudo que precisa ser feito, merecer ser bem feito”. Depois estudei para a escola Paraisense na minha adolescência, onde continuei sendo incentivada ao teatro pela professora de matemática, Regina Benassi. Na época fiz uma peça da qual até hoje as pessoas que estudaram lá se recordam: “Alice no país dos números”. Em seguida passei a estudar no ‘Ditão”, onde sempre fui uma aluna esforçada, inteligente, nunca repeti de ano, era sempre a primeira da carteira e muito elogiada pelos professores por minha sabedoria, principalmente pela minha professora de Português na época, Claudia Zanin, que foi uma excelente professora e me incentivou ao aprendizado de línguas. No ano passado, finalmente consegui concluir meu tão almejado sonho que era me formar em uma faculdade: conclui o curso de Comércio Exterior pela Unip.

Jornal do Sudoeste: Você era uma jovem que gostava muito de sair e se divertir, o que mais gostava de fazer nesta época? 
A.S.B.: Eu sempre fui uma jovem que gostou muito de estudo e igreja. Sempre gostei muito de ler, pesquisar sobre vários assuntos, sou muito eclética e aberta sobre todos os assuntos, tenho sede por aprender! Eu gostava mais de participar de teatros, ficar em casa com minha mãe assistindo programas e novelas na TV. Ir à igreja e grupos de jovens também faziam parte da minha rotina. 

Jornal do Sudoeste: Você passou por um grande trauma em 2009, gostaria de falar sobre isso? 
A.S.B.: Sim, hoje em dia e mais fácil falar sobre esse assunto tão delicado e que mudou minha vida totalmente. No dia 11 de outubro de 2019, em um domingo, minha mãe, irmã, meus tios e uma prima foram visitar minha avó em Capitólio, e quando estavam retornando aqui para Paraíso, na altura da antiga “curva da morte”, um carro colidiu contra o deles, vindo a falecer meus tios (José e Maria), minha mãe Luzia e minha irmã Andreia. Um dia antes do acidente, minha irmã, na época com 33 anos, chegou de surpresa em casa (pois ela não morava aqui, ela tinha uma franquia e morava em Campinas). Eu é quem iria junto com eles visitar minha tia, mas por obra de Deus (ou do destino), minha irmã pediu para ir no meu lugar, e eu disse que ela poderia ir, pois ela estava passando por um momento muito difícil na época e queria ir para se distrair. No momento exato do acidente, eu estava na igreja, onde passei mal e quase cheguei a desmaiar, até hoje não consigo explicar essa sensação que senti, esse pressentimento se posso dizer assim. Senti-me mal e tive que ir para casa. Chegando em casa, infelizmente tive a triste notícia do acidente, que me deixou em estado de choque, a ficha não caia, pois acordei com elas nesse dia, as vi saindo para a viagem, e quando cheguei em casa, me comunicaram que não estavam mais vivos. Eu desenvolvi a síndrome do pânico, fiquei tremendo muito na hora, assustada, sem saber o que fazer e na fase de negação, não queria que ninguém se aproximasse de mim. Fiquei muito nervosa, muito rebelde, muito perdida naquele momento. 

Jornal do Sudoeste: Como foi lidar com esse luto e tentar se reerguer mesmo diante de perdas tão marcantes? 
A.S.B.: Eu busquei ajudas profissionais na época, e até hoje faço terapia e sou amparada por médicos e amigos que foram anjos na minha vida, e sou muito grata a eles (são vários nomes, então deixo aqui um agradecimento a todos) pelo apoio naquele momento tão dolorido. Confesso que passei por um período de muita revolta, melancolia, uma angustia muito grande no peito que parecia que iam acabar comigo, mas sempre tive muita fé, e foi a fé em Deus que me manteve, e com ajuda dos amigos e alguns familiares consegui me reerguer.

Jornal do Sudoeste: Como teve que lidar com isso, depois do acidente?
A.S.B.: Em 2009, apenas com 20 anos, tive que mudar da minha casa, pois houve partilha da herança de minha mãe. Eu não sabia cozinhar nada, pois minha mãe era uma eximia cozinheira e eu sabia apenas algumas coisas básicas como sobremesas, então o Google foi meu melhor amigo. Eu escrevia na busca: como cozinhar arroz, como cozinhar feijão, como fazer carne etc. Além de ter que lidar com o luto, tinha que pensar nessa partilha de bens, buscar um lugar novo para morar, aprender a ser sozinha e independente do dia para a noite. Eu precisei passar por médicos e um afastamento pelo INSS também, e na época a empresa que eu trabalhava rescindiu o meu contrato de trabalho. Então foi uma preocupação a mais, de onde arrumar dinheiro para sobreviver? E tive que me virar, fazendo bicos, trabalhando de freelance, até conseguir o emprego em uma franquia de cursos de idiomas. A vida tem que continuar! Luto até hoje para me distrair, tentar não pensar em tantas coisas que já aconteceram, faço terapia, meditação, procuro sempre estar envolvida em ambientes positivos e com amigos queridos que me ajudam a ter momentos de felicidade e prazer.

Jornal do Sudoeste: Você chegou morar nos EUA. Por que tomou esta decisão e como foi esse período longe do Brasil? 
A.S.B.: Sim, eu morei nos EUA entre 2016 e 2017. Comecei a trabalhar nessa escola de idiomas como divulgadora de cursos/vendedora, onde fiquei por dois anos. Como eu ainda não tinha condições de fazer uma faculdade, a escola oferecia o Inglês gratuitamente para os funcionários. E eu me esforcei muito para aprender bem o idioma nesse curso, pois sempre soube que o Inglês é uma língua muito necessária, tanto para o trabalho como para a vida em geral. Certo dia recebi um e-mail de uma rede de intercâmbios que ia fazer uma parceria com essa escola em que eu trabalhava, e achei esse tipo de intercambio interessante e vi que era perfeito para o meu perfil, eu já tinha todos os requisitos necessários. Então comecei, a partir dali, a pesquisar sobre agências de intercâmbio para fazer esse programa chamado de AuPair (que seria uma babá que cuida das crianças e mora com uma família americana). Logo já fechei meu contrato com uma empresa de Franca, passei por todos os testes e exames necessários, e encontrei uma família para fazer esse tipo de intercâmbio. Eu tomei essa decisão, pois meu inglês já estava em um nível intermediário, e queria muito melhorar, conhecer uma nova cultura e ter um ganho cultural e pessoal. Esse período fora do país foi de grande aprendizado e desafios. 

Jornal do Sudoeste:  E como foi esse período vivendo por lá?
A.S.B.: Tive que recomeçar do zero, sem amigos, sem família, com outro tipo de clima e comida naquele lugar estranho para mim. Em 2016, quando eu estava lá, infelizmente meu pai veio a falecer em decorrência de câncer. Esse dia foi muito dolorido para mim, visto que as pessoas lá são bem mais frias do que aqui e não recebi um abraço sequer. Apesar de meu pai ter sido um pai ausente e distante de mim, sempre tive muito carinho e preocupação com ele. Havia conseguido conversar melhor com ele através de Skype dias antes desse acontecimento, onde ele se dizia muito orgulhoso e feliz por eu estar lá, lutando por meus sonhos e que ele me amava muito. Apesar dessa e outras situações acontecidas em minha estada nos EUA, meu ganho cultural e fluência no inglês foram muito vantajosos. Lá pude ter contato com pessoas de diversos países, aprender mais sobre a cultura, culinária, hábitos... foi uma experiência que vou guardar sempre comigo, além dos certificados de cursos que trouxe de renomadas universidades, como as de Washington e Liu Post de Nova York. Com certeza foi um período de grandes perdas e ganhos, pois pude vivenciar momentos inesquecíveis, conhecer pessoas e lugares fantásticos que via apenas em filmes, entender mais como funciona o país, o que todo mundo tem dúvidas, pude vivenciar na pele e esse ganho realmente foi de grande valia para minha vida. Porém, ficar longe da família e de amigos foi um tanto ruim também, por ser um lugar tão longe, não dava para pegar um avião e vir para cá a qualquer hora, então muitas vezes a saudade batia e eu tinha que me segurar, pois tinha o objetivo de ficar o tempo necessário para meu desenvolvimento e realização de projetos. 

Jornal do Sudoeste: Qual o conselho que você deixa para nossos jovens que têm esse sonho de morar fora? 
A.S.B.: Primeiro para ir atrás dos seus sonhos, pois são os sonhos que nos movem, que nos tornam felizes e realizados. Morar fora do país abre muito a sua cabeça, lhe transforma completamente, proporciona outra visão da vida e de todas as coisas. Agora para esse programa que eu fui, especificamente, eu peço muito cuidado na hora de fechar com uma agência e com uma família, pois morar com os chefes, ter que conviver 24 horas com eles, cuidar de crianças e de tudo dentro da casa, isso sem sábado, domingo e feriado é bem puxado, não e um programa para todo mundo, tem que ter realmente o perfil. 

Jornal do Sudoeste: Conte-nos um pouco sobre sua trajetória profissional... 
A.S.B.:  Comecei a trabalhar como estagiaria do CIEE (Associação Comercial) aos 15 anos, no setor de empregos SINE, no antigo Psiu. Como sempre fui muito estudiosa, após terminar meu estagio, passei no concurso da Prefeitura como Auxiliar Administrativa, e continue lá, não mais como estagiária, mas concursada, porém fiquei apenas três meses. Em 2008 passei em um processo seletivo de uma empresa que presta serviços às Secretarias de Estado, aos Órgãos, Autarquias, Fundações, Sociedade de Economia Mista, Empresas Públicas e Entidades Públicas do Estado de Minas Gerais e pedi exoneração da prefeitura para ir para essa empresa por questão salarial, que na época era bem melhor. Continuei trabalhando no Psiu, porém comecei a trabalhar no setor da Policia Civil, na parte administrativa, fiquei nesta empresa até 2010. Após eu ter passado pelo acidente e precisado recorrer ao INSS, pois desenvolvi pânico e ansiedade, a empresa infelizmente me dispensou.

Jornal do Sudoeste: E o que você fez neste momento?
A.S.B.: Comecei a correr atrás de empregos, tendo que trabalhar como freelancer até ser contratada por uma nova escola de idiomas que tinha chegado à cidade. Em 2012, comecei a trabalhar como divulgadora/ vendedora de cursos de idiomas, onde fiquei por dois anos. E através da escola descobri o programa de intercâmbio e fui para EUA, onde fiquei por um tempo. Quando retornei, fiquei na casa de uma prima até decidir que rumo eu iria tomar, e decidi ir morar em Ribeirão Preto, onde morei por um ano. Lá eu iniciei meus estudos na Unip, e fazia também uns freelances como promotora de vendas, eventos e secretaria. Retornei a Paraiso em 2018, e venho fazendo freelances desde então como professora de inglês, promotora de vendas em mercados, e esse ano também trabalhei um período como secretária contratada pela Prefeitura de Paraiso, onde conheci pessoas maravilhosas nas escolas por onde passei e na Secretaria de Educação. Deixo aqui minha profunda gratidão a Maria Ermínia, Eduardo Vieira, Regiane Antunes, Elisângela Rabelo, Elaine Lavez e Adilson Riva, pessoas maravilhosas e profissionais que trabalhei e me ensinaram muito com toda competência e profissionalismo que lhes cabem. Nesse momento sou revendedora de semijoias, trabalho com produtos diferenciados daqui de Paraiso, tenho buscado parcerias, aprendendo mais sobre essa nova e desafiadora área, mas já muito feliz com os retornos e com muitos planos de divulgações em mente. 

Jornal do Sudoeste: Você é uma pessoa de muita fé? Como é sua relação com Deus? 
A.S.B.: Sempre fui uma pessoa de muita fé, venho de uma família muito religiosa e estou sempre engajada na igreja e em grupos de orações. Minha relação com Deus é incrível, eu posso senti-Lo comigo todo tempo, todos os dias acordo, ajoelho, agradeço, peço iluminação e forças para o dia, sempre peço que seja sempre feita a vontade Dele na minha vida, e para que Ele sempre me dê paciência, sabedoria e discernimento para continuar conduzindo minha vida. Ele é o meu sustento, o meu melhor amigo, e me carrega nos Seus braços o tempo todo. 

Jornal do Sudoeste: Qual a mensagem que você deixa para nossos leitores? 
A.S.B.: Você, que leu toda minha história e pode começar a pensar “nossa coitada, passou por tudo isso...”. Sim, passei e ainda passo porque a luta ainda e grande, mas eu consigo, tudo posso Naquele que me fortalece. A mensagem que deixo é: mesmo que venham dias, noites traiçoeiras, difíceis, insuportáveis; nunca duvide do poder e do amor de Deus por você e a capacidade Dele de mudar sua vida e a sua situação. Tudo é possível naquele que crê, Deus opera milagres.  

Jornal do Sudoeste: Você se considera uma vencedora? Qual foi a lição mais importante que você aprendeu diante de todas essas adversidades? 
A.S.B.: Eu credito que todas as minhas vitórias e conquistas a Deus, pois Ele é quem comanda minha vida e permite tanto minhas derrotas quanto as minhas vitorias, claro que vendo minha vida, tudo que passei e como estou agora, permaneço firme com minha fé e determinação, então sim, me considero uma grande vencedora de Deus. Aprendi a ter mais paciência, a confiar e aceitar os planos de Deus para minha vida. Eu, que só ficava em casa estudando, tinha planos de morar com a minha mãe para o resto da vida e um emprego público (garantido), mas não eram esses os planos que Ele tinha para mim, e sou muito grata pois Ele foi perfeito em tudo, tudo tem sua hora, seu momento, hoje agradeço por coisas que achava na época que eram perdas, mas foram livramentos e Deus traçou minha vida da maneira mais linda e perfeita possível, não tenho como ser mais grata a Ele. 

Jornal do Sudoeste: Qual a balanço que você faz da sua trajetória? 
A.S.B.: Hoje eu me considero uma mulher forte, corajosa, desbravadora, aventureira, honesta, bem articulada, comunicativa, uma pessoa de boa índole, determinada e batalhadora. Estou sempre com um sorriso e tenho um coração enorme também. Sou uma mistura da educação que me foi concedida e das batalhas e momentos que vivi. E foram exatamente estes (momentos bons e ruins) que me tornaram essa mulher tão bonita e especial que acredito que eu seja.