Não é raro encontrarmos em Paraíso talentos preciosos e que poucos conhecem ou não fazem ideia das suas capacidades. Uma dessas joias é Alessandra Fernandes de Souza Duarte, que encantou e vem encantando a todos com sua voz que não perde em nada para talentos renomados do Brasil e do mundo. Quando conhecemos a sua história, e descobrimos que ela nunca frequentou uma escola de canto ou treinamento técnico para atingir notas difíceis para qualquer profissional da área, ficamos ainda mais impressionados e temos a certeza de que alguns dons são realmente inatos. De um carisma único, a filha de Sebastião Honório de Souza e Maria Vandelina de Souza (em memória), esposa do Higor Antônio Duarte e mãe da jovem Rhêndriga de Souza Duarte, Alessandra, aos 36 anos, nos ensina que a simplicidade é a chave que precisamos para a felicidade, e que a família é todo o bem que necessitamos para continuar a vida e construindo, pouco a pouco, nossa história.
Jornal do Sudoeste: Conte-nos um pouco da sua infância...
A.F.S.D.: Eu fui criada nessa rua, a João Ponte. Lembro de brincar muito, e na minha época tinha muita criança aqui e minha mãe brincava com a gente... É difícil (lembrar desses momentos). Faz sete anos que a perdi. Ela brincava com a gente de corda, vôlei, foi uma infância muito boa. Estudei no Ana Cândida de Figueiredo e do Clóvis Salgado. Não cheguei a fazer ensino superior. Logo quando terminei, engravidei e me casei.
Jornal do Sudoeste: Na juventude, como foi esse momento em sua vida?
A.F.S.D.: Meu pai era um pouco rígido, não deixava a gente sair muito. E fui mãe muito cedo. Lembro-me que foi um momento muito difícil dar essa notícia para meus pais na época. Minha irmã Andreia foi a primeira pessoa a saber, e ela sempre foi uma mãe para mim, e ainda hoje faz tudo por mim e pela minha filha. Foi ela quem deu esta notícia.
Jornal do Sudoeste: A música sempre esteve presente na sua família?
A.F.S.D.: Sim. Minha irmã cantava e, casamentos, e eu cresci vendo meus pais cantarem. Meu pai é violeiro, e na época dele, ele cantava muito nos circos com seu irmão, e também nas rádios, era raro alguém ter televisão naquela época. Quando ele perdeu o irmão, parou de se apresentar, mas continuou cantando em casa com a gente.
Jornal do Sudoeste: É impressionante lhe ver cantar. Você chegou a estudar música?
A.F.S.D.: Infelizmente não. Passei por coral, e minha mãe sempre gostou também, então íamos à Igreja. Minha família é muito religiosa, somos católicos. Foi muito bom crescer nesse ambiente porque sempre estamos nos reunindo, e tenho outros parentes também envolvidos com música, entre eles o Alexandre Dias, que é meu primo e também faz parte da Academia Paraisense de Cultura. Ele é professor de música e suas irmãs, que são mais velhas que eu, também são cantoras. Cresci nesse ambiente, vendo tudo isso e gostando. Infelizmente, não é algo que dá para viver porque não pude me dedicar, tendo em vista as muitas responsabilidades que eu tive e ainda tenho.
Jornal do Sudoeste: E viver de música é muito difícil...
A.F.S.D.: É complicado. Precisamos ter um suporte, e mesmo quem é professor de música, não é fácil.
Jornal do Sudoeste: Você também cantava na igreja, em casamentos...
A.F.S.D.: Eu comecei a cantar na Igreja, e a partir dessas apresentações as pessoas começaram a pedir para que eu cantasse em casamentos. Foi nesse momento que chamei o Luciano Altran, mas antes eu já tinha cantado com o Ivan e o Messias, que era maestro na cidade.
Jornal do Sudoeste: E como foi esse processo? Você chegou a formar uma banda?
A.F.S.D.: No começo era somente eu, o Luciano e a esposa dele, a Larissa (nessa época eles ainda namoravam). Ela tocava flauta e ele teclado ou saxofone. Com o tempo, e a necessidade de outros instrumentos, além dos muitos pedidos para que tocássemos nos casamentos, com a graça de Deus, começamos a agregar outros instrumentos: percussão, bateria, violino. Quando somos contratados, sinto-me no céu porque é o que eu amo fazer.
Jornal do Sudoeste: Atualmente, vocês continuam com as apresentações?
A.F.S.D.: Continuamos, mas este ano, infelizmente por decorrência do corona, tivemos que parar, mas se Deus quiser, no próximo ano será agenda cheia (risos).
Jornal do Sudoeste: E suas influências?
A.F.S.D.: Eu sou muito eclética, gosto de tudo um pouco, mas o meu sonho é poder estudar música lírica, que é o que eu gosto. Amo Andrea Bocelli, André Rieu, Carmen Monarcha. Mas eu não treino, é algo espontâneo. Gostaria muito de fazer aula de canto ou, como aqueles cantores que fazem fono e usam aqueles aparatos para fazer oxigenação das vias respiratórias, acho aquilo incrível! No máximo, bebo uma aguinha (risos).
Jornal do Sudoeste: Já pensou em fazer audição para o The Voice?
A.F.S.D.: Eu, particularmente, não consigo. Penso que por não ter estudo específico sinto que não tenho competência para tanto, entende? Quando me disseram que a Denise Gonzaga viria a Paraíso e que eu iria cantar com ela, passei mal. Achei que não daria conta, mas meu marido me tranquilizou. Disse “você sabe fazer”, mas eu não pensei que pudesse dar conta, tendo em vista que ela já cantou até no exterior. Mas ela chegou, toda simples, humilde e me deixou muito à vontade. Eu me emocionei muito nessa apresentação. Recordo-me que quando terminei a minha parte na apresentação, chorei muito. Aquela apresentação para mim foi como se eu estivesse no céu.
Jornal do Sudoeste: Como foi essa experiência de poder cantar com a Denise?A.F.S.D.: Não tenho palavras, de tão incrível que foi. Fiquei muito feliz, um sonho realizado. Estava a banda inteira ali, foi incrível. Para mim, o dia poderia parar ali.
Jornal do Sudoeste: Como nasceu essa relação sua com a Academia Paraisense de Cultura?
A.F.S.D.: Foi uma surpresa muito grande também. Eu não tenho uma formação acadêmica, como que eu iria participar? Quando o André Cruvinel, atual presidente da APC, me chamou para ser membro honorário, primeiro pensei que não conseguira apresentar nada, de tão nervosa que eu fiquei na época. Mas todos me receberam com muito carinho. Estou muito feliz de poder fazer parte.
Jornal do Sudoeste: Seu vídeo interpretando “Somewhere over the rainbow”, teve grande repercussão!
A.F.S.D.: Teve muita repercussão, e eu amo musicais. Eu sinto que todo mundo gostaria de ter a chance de ter uma vida melhor, oportunidades melhores, viver em um lugar melhor, é isso que eu entendi d’O mágico de Oz. Eu me apaixonei por este filme, por toda essa fantasia. O Homem de Lata, por exemplo, queria um coração, era algo simples, mas o que ele mais queria. São significados que marcam muito.
Jornal do Sudoeste: Você não pretende estudar música?
A.F.S.D.: Morro de vontade, principalmente o canto lírico. Tenho muita vontade em aprender a ler partituras. Certa vez a Miriam Lauria se voluntariou para me ensinar, mas eu tive um pouco de medo e vergonha por não saber nada, então não acabei indo atrás. Isso é algo que tenho vontade de aprender ainda, além de música canto lírico. Também gostaria de aprender a tocar piano e acordeom, que acho lindo. Fui a primeira aluna do Alexandre Dias, ele me ensinou a tocar violão, quando eu era bem criancinha. Quando era criança, adorava pegar a escova de cabelo, subir na cama, porque sempre fui miudinha (risos) e cantar. Minha mãe ficava no canto, assistindo, porque se aparecesse eu parava na hora.
Jornal do Sudoeste: Você imagina uma vida sem música?
A.F.S.D.: Não consigo, da mesma forma que não consigo me ver sem a minha família. Perder a minha mãe, a dor que isso causou, a falta que ela me faz... o desespero é tanto que não consigo me ver sem mais alguém. A música para mim é a mesma coisa, de tão importante que é. Posso não ter estudo, entender de notas, mas eu gosto.
Jornal do Sudoeste: Falando um pouco sobre sua rotina, como você concilia família, trabalho, e o canto?
A.F.S.D.: É uma luta. Mas minha família me ajuda muito, me apoia, isso que é o importante. Minha filha também canta, mas ela é mais tímida que eu (risos). Quando ela vem, entra para quarto e fecha a porta e começa a cantar (achando que não estamos ouvindo). Eu fico muito orgulhosa, porque ela é muito inteligente e muito responsável, graça a Deus.
Jornal do Sudoeste: Atualmente você trabalha na Farmácia Ana Terra?
A.F.S.D.: Sim, lá sou atendente e já estou, ao todo, há cerca de 14 anos. Eu gosto muito do que eu faço. Sou muito atenciosa com os clientes, principalmente àqueles que são mais assíduos. Eu gosto muito dessa troca de carinho, que acredito que o que falta na nossa cidade. Há lugares que nem vou justamente por essa falta, nem é tanto de carinho, mas educação. Acredito que tudo é, primeiramente, educação, o respeito com o próximo, a empatia. Acredito que falta muito no comércio. E eu gosto dessa troca de carinho e faço questão de atender nossos clientes desta forma, isto também me faz feliz.
Jornal do Sudoeste: Qual o significado da família para você?
A.F.S.D.: Significa tudo, tudo mesmo. Não só meu marido, minha filha, mas meu pai, meus irmãos, meus tios, primos e minha madrasta (com a graça de Deus, meu pai consegui encontrar alguém para seguir com a vida, uma pessoa que trata ele muito bem).
Jornal do Sudoeste: Qual é o balanço que você faz dessa trajetória?
A.F.S.D.: Que a vida é linda, por mais problemas que tenhamos, por mais difícil que seja viver, é tão bom viver, sentir, chorar, sorrir, abraçar. É bom viver. Temos que ter fé, em primeiro lugar, e agradecer a Deus pela oportunidade de estarmos aqui, vivos.