A psicóloga Any Bícego Queiroz, descobriu sua vocação para a psicologia ainda na infância. Formada pela UNESP Bauru, com pós-graduação em Terapia Cognitivo Comportamental pela CBI, MBA em Gestão Estratégica de Pessoas pela FGV e, em via de finalizar sua formação avançada em ABA (Applied Behavior Analysis), com enfoque no atendimento pessoas com autismo, Any, aos 39 anos, decidiu abandonar uma carreira de destaque em São Paulo para voltar a Paraíso e construir sua vida do zero. Filha do contador Ug Queiroz e da professora Ana Maria Bícego Queiroz, e mãe do pequeno Davi, de cinco anos, aos poucos tem conquistado um novo espaço sempre em busca de novos desafios na terra onde decidiu voltar para fincar suas raízes.
Jornal do Sudoeste: Quais as memórias mais marcantes você guarda da sua infância em Paraíso?
A.B.Q.: Tive uma infância repleta de boas memórias! Brincava muito na “rua de baixo” com vizinhos e amigos, de queimada, bets, pique-esconde etc. E no quintal de casa também era uma diversão só! Além das brincadeiras, gostava de passear na roça da minha tia, andar a cavalo, colher (e comer) frutas direto no pé. Além das brincadeiras, guardo com carinho lembranças de amigos que fiz na infância, alguns com os quais mantenho contato e proximidade até os dias atuais!
Jornal do Sudoeste: Percebemos que seus pais têm um valor muito significativo em sua vida, como foi sua criação e como é hoje essa relação?
A.B.Q.: Meus pais são pessoas maravilhosas! Com eles aprendi e aprendo o tempo todo! Nós crescemos em uma atmosfera de valores sólidos, como honestidade, respeito e com muito amor também. Eles sempre valorizaram a educação, e diziam que os estudos vêm em primeiro lugar. Fui muito incentivada pela minha mãe a ler, e esse é um hábito que trago comigo até os dias de hoje! Já meu pai era o homem dos números, e com ele desenvolvi um pouquinho o meu lado para a área de Exatas. Sou muito grata por tê-los em minha vida e sei que sou privilegiada por tudo o que eles fizeram e fazem por mim.
Jornal do Sudoeste: Hoje é psicóloga, e sabemos que para isso é preciso saber ouvir. Você sempre foi assim?
A.B.Q.: Eu sempre gostei de pessoas, de estar com elas, de ouvir suas histórias, desde pequena. Acredito que vamos aprimorando e desenvolvendo as habilidades com o tempo. Ouvir é uma tarefa difícil e ouvir com empatia, mais difícil ainda! Mas posso afirmar que sou realizada com o que faço!
Jornal do Sudoeste: Por que decidiu estudar Psicologia, o que te motivou a esta carreira?
A.B.Q.: Decidi estudar Psicologia quando estava na sétima série (atualmente, o que se conhece por oitavo ano). Eu estava voltando da escola com meu pai e minha irmã, quando meu pai parou para socorrer uma menina que estava caída e estava tendo convulsão. Ela melhorou, e eu queria muito entender o que tinha acontecido com ela. Foi aí que decidi estudar psicologia, porque descobri que era uma área que investigava aspectos da Epilepsia. Durante a faculdade, fui seguindo outros caminhos e me interessei por outras áreas também, mas o que despertou o meu interesse foi esse episódio na infância.
Jornal do Sudoeste: Conte-nos um pouco da sua trajetória profissional...
A.B.Q.: Após completar os estudos em Psicologia, ingressei em uma multinacional japonesa na cidade de Ribeirão Preto, como coordenadora de franquias. Era responsável pela seleção de novos franqueados e pelo treinamento e desenvolvimento de algumas unidades da regional pela qual era responsável. Após um ano, fui promovida e consegui a transferência para São Paulo, e lá permaneci por 10 anos, na mesma empresa. Fui subindo gradativamente de posição e cheguei a assumir a gerência de um setor, na qual fiquei durante meu último ano na empresa. Eu já era mãe, e a rotina em São Paulo estava ficando cada vez mais puxada (apesar de eu gostar muito do que fazia lá). Quando voltei para Paraíso, precisei começar tudo novamente, e retomei o meu contato com a psicologia clínica, atendendo a crianças, adolescentes e adultos.
Jornal do Sudoeste: Você decidiu largar uma carreira promissora e começar sua vida do zero em Paraíso. Foi uma decisão difícil?
A.B.Q.: Toda grande decisão é muito difícil. Tem os prós e contras e precisamos ponderar muito antes de fazer uma escolha. O que teve mais peso na minha decisão em voltar para São Sebastião do Paraíso foi a minha proximidade com a minha família, que foi o que mais pesou nesta escolha, além da qualidade de vida que eu teria aqui. Foram esses dois pontos que pesaram bastante nesta tomada de decisão.
Jornal do Sudoeste: Como tem sido essa nova fase em sua vida, está gostando? O que mudou entre o seu partir e voltar a Paraíso?
A.B.Q.: Está sendo uma fase muito boa. Mudou bastante coisa entre a minha partida e o retorno a Paraíso, mas muitas coisas permaneceram. Eu mantive, e ainda mantenho, contato com pessoa queridas que são minhas amigas desde a infância, e fiz também novos amigos. A maturidade também me faz enxergar com outros olhos as minhas relações e meu retorno para Paraíso. Acredito que foi uma escolha bem acertada.
Jornal do Sudoeste: Entre os muitos desafios que você encara no seu dia a dia, qual é o maior deles?
A.B.Q.: Entre os maiores desafios que eu encaro no meu dia a dia, está conciliar a maternidade com o trabalho. Eu amo meu filho, ele é o que tenho de mais importante na minha vida, mas por outro lado também amo o que faço. Eu gosto de me sentir útil, produtiva. Tentar achar esse equilíbrio tem sido um dos maiores desafios que eu enfrento atualmente. Porém, consigo contar com um apoio imenso da minha família e isso tem me ajuda muito e fez total diferença para eu ter voltado para cá.
Jornal do Sudoeste: Tempos de pandemia. Qual o papel do psicólogo frente ao atual momento que vivemos?
A.B.Q.: Estamos vivemos tempos muito difíceis. A ansiedade, angústia, medo, são todos sentimentos provocados pela atual situação e a insegurança de saber quando isso vai terminar. O psicólogo desempenha neste contexto um papel fundamental para acolher esses sentimentos, dividir essas questões com os pacientes, para que eles tenham em quem se apoiar e enfrentar, conhecer e controlar os sentimentos que surgem diante deste cenário.
Jornal do Sudoeste: Como a pandemia impactou no dia a dia do profissional da psicologia. Também precisou se reinventar?
A.B.Q.: Com a pandemia, muitos cuidados precisaram ser implementados e até mesmo redobrados, como o uso de máscaras, a higienização do ambiente com o uso de álcool em gel, manter o distanciamento entre o paciente e o profissional: estas são algumas questões que temos todo o cuidado de manter e que precisam ser levadas em consideração devido a pandemia. Outro fator que surgiu, e que tem sido bastante usual para este momento, é o atendimento online. Alguns pacientes optaram por fazer os atendimentos pela internet e tem sido uma experiência muito bacana, é uma alternativa para que eles tenham acesso ao atendimento psicológico.
Jornal do Sudoeste: Para além de profissional, também é mãe. Como tem sido essa jornada?
A.B.Q.: A maternidade, com toda a certeza, foi a experiência mais transformadora da minha vida. Depois que o Davi nasceu, eu consegui ressignificar vários papeis enquanto filha, mulher, profissional, enfim, enquanto mãe. Cada dia é um novo aprendizado. Longe de querer romantizar a maternidade, pois sabemos que não é um mar de rosas e há muito desafios: cada etapa e cada idade, traz consigo novos desafios, novos ensinamentos, é uma experiência única e eu aprendo muito com isso. E há momentos que faz tudo valer a pena!
Jornal do Sudoeste: Qual a mensagem que você deixa para nossos leitores?
A.B.Q.: Não estamos passando por tempos muito fáceis, sei que as pessoas estão se sentindo um pouco ansiosas e angustiadas, e a mensagem que deixo é: você não precisa passa passar por isso sozinho, procure ajuda e, mesmo que precise fazer uma escolha, o que também pode trazer angustia e ansiedade, também procure por um profissional para fortalecer suas relações e entender que não está sozinho.
Jornal do Sudoeste: Qual o balanço que você faz da sua trajetória até aqui?
A.B.Q.: Primeiro lugar, é agradecer a oportunidade de poder contar um pouco da minha trajetória e aos leitores, que tiveram interesse de ler um pouco deste depoimento. O balanço que eu faço é muito positivo. Todas as escolhas trazem perdas e ganhos, mas olhar para todas as escolhas que eu fiz, incluindo os erros e os acertos, me fortaleceu muito neste processo e acredito que amadureci muito. Aprendi e aprendo sempre, o tempo todo. Vejo-me em constante transformação, em busca sempre por algo diferente e acredito que tenho colhido bons frutos pelas escolas que fiz.