POLE POSITION

A mão de Deus, a segurança e as chances

Por: Sérgio Magalhães | Categoria: Esporte | 06-12-2020 10:55 | 1087
Com Pietro na Haas, a terceira geração dos Fittipaldi estreia na F1 
Com Pietro na Haas, a terceira geração dos Fittipaldi estreia na F1  Foto: Haas / Divulgação

O Brasil volta a ter um piloto no grid da F1 depois de três anos, desde a despedida de Felipe Massa no final de 2017. Pietro Fittipaldi está substituindo o acidentado Romain Grosjean neste final de semana na mesma pista do Bahrein, só que desta vez num traçado inédito pelo anel externo do Circuito de Sakhir onde os carros devem percorrer voltas abaixo de 1 minuto.

E a tão esperada chance de Pietro, aos 24 anos, vem de uma forma que certamente não era a que ele queria, mas não é todo o dia que se tem a oportunidade de correr de F1, daí a necessidade de agarrá-la. Pietro é neto de Emerson Fittipaldi, e piloto de testes e de desenvolvimento da Haas desde 2018. É o 31º brasileiro a disputar um GP de F1, o quarto integrante da família Fittipaldi que já teve os irmãos Emerson e Wilsinho, e Christian Fittipaldi (filho de Wilsinho) que correu entre 92 e 94. Um recorde na F1 que jamais abrigou tantos membros de uma mesma família, número que no futuro pode até ser ampliado já que o irmão de Pietro, Enzo Fittipaldi, atualmente na F3 Internacional, é membro da Academia de jovens pilotos da Ferrari.

Mas é bom que não se crie expectativas sobre a estreia de Fittipaldi porque a Haas é um dos carros mais fracos da temporada, a frente apenas da Williams no Mundial de Construtores com 3 pontos, e o traçado da pista de Sakhir exige muita potência do motor, o que não é o forte para quem usa o motor Ferrari, como a Haas.

Não há vagas para Pietro como titular no ano que vem e a Haas já anunciou nesta semana as estreias de Mick Schumacher e Nikita Mazepin. Mas Pietro está tendo sua primeira grande chance, fruto de sua dedicação e perseverança no trabalho de simulador da equipe.

Chance também está tendo George Russell de substituir Lewis Hamilton na Mercedes. O já campeão da temporada testou positivo para Covid-19 e está fora do GP de Sakhir, e Jack Aitken também está tendo a chance de estrear na F1 substituindo Russell na Williams. 

Mas nada se compara a chance que teve Romain Grosjean depois do impressionante acidente de domingo passado lá mesmo no Bahrein. Chance de continuar vivendo e poder contar o drama que viveu na primeira volta da corrida depois que seu VF-20 da Haas explodiu ao bater de frente e penetrar entre as lâminas do guard-rail

Não há como não relacionar a Mão de Deus e o piloto saindo sozinho do meio das chamas. A batida frontal a 221 km/h causou um impacto absurdo de 53Gs, que significa 53 vezes o peso do piloto. Mais impressionante ainda foi Grosjean não ter perdido os sentidos e depois de 26 segundos dentro do que sobrou do carro ardendo em chamas, conseguir sair sozinho apenas com queimaduras leves nas mãos. 

Há uma junção de fatores que ajudaram a salvar a vida de Grosjean. O primeiro deles o halo, aquela peça de titânio que envolve o cockpit com o objetivo de proteger a cabeça do piloto, introduzido nos carros em 2018. O próprio Grosjean foi um dos críticos da peça no começo. Tem mais: O Hans, suporte que prende o capacete aos ombros do piloto impedindo movimentos bruscos em caso de desaceleração, o macacão, capacete, luvas e sapatilhas anti-chamas cada vez mais aperfeiçoados, a célula de sobrevivência, que é o cockpit onde o piloto fica e que jamais pode-se romper; a eficiência da equipe médica, além do preparo físico do piloto.

Tudo isso foi posto a prova e funcionou. Mas automobilismo sempre será esporte de risco. E por mais que a F1 passa a impressão de segurança - e ela é muito segura -, a forma como o guard-rail se abriu, a explosão, o fogo que não se via em acidentes desde 1989 foi um alerta de que sempre há margens para tragédias. E é em cima de acidentes como este que a Federação Internacional de Automobilismo se debruça para aperfeiçoar ainda mais a segurança.  

Afinal, o halo é fruto do acidente de Felipe Massa em 2009 quando uma mola do carro de Rubens Barrichello se desprendeu e acertou a cabeça de Felipe, na Hungria. Dali surgiu a necessidade de melhorar a proteção da cabeça dos pilotos. E de tão criticado por ter alterado a estética dos carros, o halo evitou uma tragédia no domingo.