Eleito vereador para seu quarto mandato à Câmara Municipal de São Sebastião do Paraíso, Antônio César Picirilo, conhecido por todos como Toninho Picirilo, ao longo de sua vida tem trabalhado para tentar mudar a realidade daqueles menos favorecidos. Em prol do próximo, ajudou fundar diversas entidades no município que ainda se mantêm firmes, mesmo diante de tantas dificuldades. Filho mais velho de 12 irmãos, do casal João Picirilo e Maria Abadia Picirilo, casado com Vilma Aparecida, pai da Elaine Cristina, Patrícia Aparecida e Antônio Marcos Picirilo, aos 69 anos Toninho retorna ao Poder Legislativo para dar, mais uma vez, sua parcela de contribuição para uma Paraíso melhor.
Jornal do Sudoeste: Essa não é sua primeira legislatura...
A.C.P.: Não, já concorri seis vezes. Três vezes efetivamente exerci o mandato como vereador, uma fui suplente e outra concorri como vice-prefeito, e agora concorri como vereador e fui eleito. Tenho uma longa carreira na política, no entanto, já queria ter encerrado. Mas, a política é o meio que temos para servir as pessoas e acaba sendo apaixonante porque na caminhada são tantos desafios que enfrentamos que nos sentimos até bem.
Jornal do Sudoeste: Quando o senhor resolveu entrar para a política?
A.C.P.: Eu entrei um pouco na marra. Por ter contribuído com a criação de várias entidades, que hoje prestam serviços relevantes para a comunidade, esse grupo ao qual eu fazia parte colocou na minha cabeça que eu teria condições de ajudar um pouco mais se representasse as entidades na Câmara Municipal, não só as que criamos, como também as demais. Diante disto, e de muita insistência, resolvi concorrer o pleito e ganhei a eleição. Fui o sexto mais votado num universo de 15 vereadores, com 674 votos. Na segunda vez, fui o mais votado na história da cidade até então, com 1.554, e no meu terceiro mandato com 854. No meu quarto pleito, fiquei como suplente com 853 votos, isso porque todos queriam ir para o DEM, e aquela eleição foi muito concorrida. Mas, não deixou de ser um aprendizado.
Jornal do Sudoeste: Sempre esteve envolvido com causas sociais?
A.C.P.: Sempre tive a vocação, mas nem imaginava que seria algo que faria parte da minha vida. Ainda muito jovem já me preocupava com a vida das pessoas, a pobreza extrema. Tinha na cabeça que precisava ajudar as pessoas, fazer alguma coisa por aqueles menos favorecidos. Morávamos na roça, e apesar dos obstáculos, meu pai deu conta de nos criar. Ele era um homem que depois que parava o serviço, no domingo, principalmente, que ficava até mais tarde na cama, nós sentávamos em volta dele e ele nos dava vários conselhos. A vocação religiosa mesmo, isto comecei a aprender com meu avô: ir à missa, vendo minha avó rezando terço, ouvindo a Rádio Aparecida. O lado caritativo, esse aprendi com muita gente boa, a começar pelo meu pai, que acudia as pessoas em casa, e se não tinha onde colocar, ele dava um jeito de acolhê-las mesmo assim.
Quando vim para a cidade, cheguei a arrombar cerca de bambu do Asilo para levar um café para aqueles que tinham vontade, fritava ovo para àqueles que reclamavam que estavam com vontade, ia para lá à noite conversar com eles. Entre os 16 e 17 anos, entrei para a Conferência Vicentina. Os vicentinos são muito ativos, e têm essa característica de fazer as coisas muito silenciosamente, e sempre fazendo o bem. Tudo isso, foi alimentando a vontade de ser alguém que trabalha em prol do outro. Com 18 para 19 anos, fui indicado pelos vicentinos para ser presidente do Asilo São Vicente, diante do meu empenho em sempre ajudar o próximo, todavia, as autoridades da época acharam por bem eu não assumir, uma vez que tinha pouca idade.
Jornal do Sudoeste: Outras figuras foram importantes nesse processo, não?
A.C.P.: Sim, entre elas o Monsenhor Mancini. Saíamos lá da Vila Helena, a pé, com a minha avó, para que pudéssemos assistir à missa. Até que um dia o Monsenhor me viu, sentado lá na frente, e ao terminar a missa mandou me chamar. Ele perguntou se eu queria fazer um curso em Guaxupé, o Treinamento de Liderança Cristã (TLC), que estava começando. À época, ele bancou tudo, eu não tinha condições de arcar com as despesas. E assim saímos de trem para Guaxupé, onde fiz o curso. Naquele tempo, nos anos 70, eu já saía de madrugada pelas padarias pegando pães que sobravam para distribuir para as famílias carentes. Foi assim, a minha vida. Como vicentino, surgiu a necessidade de criar alguma coisa que pudesse ajudar. Foi quando começamos a pensar em construir um lugar para ser o Lar Pedacinho do Céu, isso em 1975. À época estivemos em muitos lugares em busca de ajuda para que isso pudesse se tornar realidade, o prefeito Waldir e o Wando Marcolini nos ajudaram e assim concluímos a construção do prédio. A luta foi grande e fizemos, para época, um prédio bastante moderno.
Nessa época eu já fazia um trabalho com pessoas em situação de rua, abrigando-as até na minha própria casa, fazia o “absurdo” de dar banho em mendigos, digo absurdo porque já tinha família e colocar alguém em situação de rua dentro da sua casa não é comum. Eu já tinha um nome como vicentino, e consegui internar algumas pessoas no Asilo. Um ano após a criação do Lar, pensei na necessidade de se criar um lugar para acolher esses andarilhos, foi quando o Moacir Mariano, que também era vicentino, adquiriu uma chácara, onde hoje é a Chácara Pedacinho Céu. Lá, aos poucos, fomos construindo e hoje é aquele lugar que é muito importante para a cidade. Tudo construído com muito pranto, muito choro, perseguição, carência... Depois vieram outros locais, a Casa Menino Jesus, Casa São Francisco... E assim me mantive nesse campo da filantropia e nunca nem pensei em deixar de fazê-la, mesmo diante de tanta perseguição, tanta calúnia, me mantive firme, sempre com muita fé em Deus e convencido de que Ele este estava comigo e que eu poderia vencer todos os obstáculos.
Jornal do Sudoeste: O que lhe motivou a voltar para a política?
A.C.P.: Os mesmos ideais, e a pedido de muitas pessoas que queriam que eu voltasse. Graças a Deus, muitos com saudade da época em que fui vereador. Eu já enfrentei inúmeros problemas de saúde, porém, hoje estou bem e pensei que pudesse contribuir mais um pouquinho para com a sociedade. Recebi o resultado com muita alegria, pois foram pessoas que lembraram de mim e acharam que eu deveria estar lá (Câmara Municipal) mais uma vez. Fui eleito e vou corresponder àqueles que votaram em mim e trabalhar muito para aqueles que não votaram, e provar a eles que eu amo o povo da minha cidade e que quero dar mais uma parte da minha vida para contribuir para com o desenvolvimento da minha Paraíso.
Jornal do Sudoeste: O senhor acredita que a política mudou desde a época em que foi vereador pela primeira vez?
A.C.P.: Muito pouco. Hoje, felizmente, as pessoas têm um pouquinho mais de consciência política, não tenho dúvidas de que houve essa evolução, mesmo que pequena. As próprias leis ajudaram, e nessas eleições tivemos o prazer de ver pouca sujeira nas ruas com esses santinhos, eu mesmo não permiti que fossem jogados santinhos meus na porta dos locais de votação. Sobre a política, temos muito a caminhar ainda. Precisamos acabar com a política da acusação, a política da fake News, da covardia, da baixaria, que infelizmente ainda temos. Já evoluímos bastante nesse sentido, mas ainda está muito longe do ideal, na minha opinião.
Jornal do Sudoeste: É significativo para o senhor assumir o mandato no período em que Paraíso completa 200 anos?
A.C.P.: Sem dúvida. Não tinha pensado muito sobre, mas me sinto ainda mais honrado de estar representando o povo da minha cidade, e em uma data tão simbólica. Vejo com bons olhos essa nova legislatura e estou muito confiante no nosso prefeito eleito, nos vereadores. Acredito que está na hora de se fazer um pacto na política de Paraíso, para que possamos unir todas as nossas forças e tirar a cidade do marasmo em que caminhamos durante tantos anos. Uma tristeza ver o jovem sem emprego, a cidade sem desenvolvimento, entretenimento, cursos superiores que deem conta de atender a demanda da sociedade, além de acesso à moradia. É muita coisa para ser feita, e quero contribuir com isso. Paraíso não tem um parque industrial, não tem um parque elétrico que possa satisfazer a demanda de grandes empresas que queiram vir para a cidade, temos que estruturar nossa cidade para que ela possa crescer e desenvolver mais. Apesar dos desafios, Paraíso insiste em crescer sem nenhuma estrutura. Paraíso, por ser tranquila e calma, passou a ser conhecida como cidade dos aposentados, mas, é uma cidade onde os pais e avós sonham em ver seus filhos e netos ficando aqui, em seus campos de trabalho, e quando isso acontecer, aí sim vamos ver nossa cidade desenvolver, com muita estrutura, e vamos ver uma Paraíso muito melhor. Não sei se vou ver isso acontecer, mas quero contribuir.
Jornal do Sudoeste: A nova administração tem demonstrado um interesse muito grande em fortalecer os trabalhos sociais no município. Como você encara isso?
A.C.P.: Essas entidades trabalham para o município, para o governo, e trabalham como loucos e sem recurso nenhum. São belas entidades que são muito bem administradas, porém, sem recurso nenhum do município, mesmo tendo lei, apesar de que esta deixa brecha para que essa ajuda financeira só aconteça caso haja disponibilidade de caixa. É terrível. Quando fui presidente da Câmara, repassei em dia, à vista, e antecipadamente, o duodécimo, para que este recurso pudesse ajudar as entidades, e até mesmo o nosso município que sofria com a falta de verbas. Sabemos que é um recurso que não pode ser direcionado, mas se houver a boa vontade do chefe do Executivo, ele pode ser utilizado para ajudar, e isso só foi possível porque os prefeitos da época foram sensíveis. Precisamos criar meios, maneiras para ajudar nossa cidade. Sempre há meios para deixar nossa cidade bonita, um Natal bonito, e tudo isso sem despesa. Eu sou um “velho novo”, que tem ideias e vontade de ver nossa cidade bem, de ver novos filhos em uma cidade boa para se viver, trabalhar.
Jornal do Sudoeste: Qual é o balanço que você faz dessa trajetória?
A.C.P.: Eu sinto não ter sido o melhor, porque queria poder ter feito mais pelos outros, não para mim porque eu sou um homem muito feliz e tenho uma família muito bonita, que me respeita muito. Tive pais, avós, bisavós maravilhosos, que nunca me ensinaram algo errado, sou muito honrado por ter tido uma família assim. Era o filho mais velho, de 12 irmãos, e precisei ajudar muito o meu pai na criação dos meus irmãos e, por isso, não tive condições de estudar adequadamente, o que serviria muito para que eu tivesse condições de ajudar ainda mais, mas continuei lutando, corri atrás e tenho muito orgulho do meu passado. Posso andar em qualquer lugar da cidade de cabeça erguida, e em qualquer lugar, não importa a hora, porque sempre vou encontrar as pessoas que ajudei, dentro das minhas limitações e da minha reserva, porque não é um trabalho que eu faça e saia gritando. E tenho muitas amizades, graças a Deus. Temos que aproveitar esse momento que estamos vivendo, devido essa pandemia, converter, aprender a amar Cristo, que foi a coisa mais fantástica que já aconteceu em todo o universo. Esse Natal vai ser mais enxuto, mas o que importa é que a festa seja para o aniversariante. Precisamos esquecer um pouquinho da gente e orar muito por aqueles que estão sofrendo nessa pandemia. O pior, no meu ponto de vista, por conta desta pandemia, ainda está por vir, e vamos enfrentar muitos desafios nessa legislatura, e é por isso que precisamos fazer um pacto para que possamos conduzir nossa cidade por um bom caminho. Se houver consciência, principalmente dos políticos, vamos chegar lá no fim do mandato com as coisas melhores. O paraisense é gente muito boa, trabalhadora, e vamos trabalhar muito para mudar a realidade da nossa cidade.