A paraisense Vera Lúcia Marinzeck de Carvalho é uma das autoras que mais vende livros no Brasil. Suas mais de 70 obras mediúnicas publicadas atingem milhões de pessoas, que buscam em suas páginas, consolo e explicação para inúmeras questões que os afligem. Somente “Violetas na Janela”, ditada pelo espírito Patrícia, já alcançou a impressionante marca de mais de 2,5 milhões de exemplares. Otimista, de hábitos simples, determinada e altruísta, enxerga tudo como aprendizado e oportunidade de evolução. Sempre com olhar de esperança e fé para o futuro da humanidade, Vera compartilha nesta entrevista, um pouco de sua experiência e visão de mundo.
Conte um pouco das suas origens e sua trajetória com o Espiritismo, desde o primeiro contato até sua atuação como médium.
Sou, com muita alegria, de São Sebastião do Paraíso, cidade que amo e que ocupa um lugar de destaque no meu coração. Desde menina vejo e converso com espíritos, então sou médium. Com dezenove anos quis entender o que ocorria comigo; procurei e encontrei explicações no Espiritismo, então passei a trabalhar, a fazer o bem com a mediunidade.
Como começou seu trabalho com a psicografia? É um trabalho muito desafiador?
Assim que escolhi seguir o Espiritismo, passei a estudar a Doutrina, a fazer cursos, e comecei a psicografar. Pelo emprego de meu esposo, mudamos muito de cidades e conheci muitos centros espíritas, treinando sempre. Treinei nove anos para escrever o primeiro livro, e estes são feitos, no mínimo, cinco vezes cada trecho. Livro é um desafio que eu, junto com o autor espiritual, faço com muita dedicação e amor.
A série de livros ditados pelo espírito Patrícia é um grande sucesso literário e o primeiro contato de muitos espíritas e não espíritas com a doutrina de Kardec. Sabendo que a série se encerrou após os 4 títulos publicados, Patrícia seguiu para outras missões? Ainda lhe é permitido contato com ela?
Eu já tinha livros editados quando Patrícia veio escrever comigo, treinamos por três anos para escrever o primeiro: Violetas na Janela. Ela completou as quatro obras que estavam na programação e deu por encerrado seu trabalho com a Literatura. Após, foi fazer o que havia planejado, o que queria: estudar e depois lecionar. Já faz anos que leciona na Espiritualidade. Patrícia ama o que faz. Ela vem raramente à Terra e, quando o faz, é para visitar seus pais e irmãos. Patrícia afirma que não mantém contato mediúnico, sua tarefa é outra, ensinar desencarnados.
Você já sofreu algum tipo de preconceito de credo?
Não, nunca sofri preconceito. Respeito muito todas as crenças, penso que seja por isto que tenho a minha respeitada. Atualmente, é impossível termos um credo padrão, igual para todos. O princípio básico é um somente, eterno e imutável, mas que varia de pessoa para pessoa conforme nosso entendimento. O importante é estar numa religião que nos torne uma pessoa melhor. Boa para nós é aquela que nos faz bem, e o Espiritismo fez isto comigo. O principal é estarmos no caminho certo e termos certeza desta verdade.
Ciência, filosofia e religião. O Brasil é o país com o maior número de adeptos do Espiritismo e simpatizantes à doutrina. O que isso significa?
O Brasil é um país muito religioso, e isto leva as pessoas a quererem saber mais, como: “De onde viemos?” e “Para onde iremos quando nosso corpo físico parar suas funções?”. São respostas que o Espiritismo nos dá dentro da Ciência, complementando com a Filosofia. Uns complementam os outros numa combinação perfeita.
Enfrentamos atualmente a maior pandemia mundial dos últimos 100 anos. De tempos em tempos vivenciamos grandes desafios para toda a humanidade. O que tirar de lição dessas provas que nos são apresentadas?
Em tempos difíceis, as pessoas costumam orar mais, se voltar para a religiosidade. Penso que a lição mais preciosa é saber que somos vulneráveis a doenças e que necessitamos uns dos outros. Podemos, nestes tempos, exercer mais a caridade e lembrarmos daqueles que, no momento, necessitam, porque talvez também venhamos a precisar.
Ansiedade, angústia, depressão, pânico, doenças psicossomáticas, câncer. O mundo nunca esteve tão doente?
Doenças sempre existiram e existirão até nos tornamos seres humanos melhores. Mente sã, corpo são, ou espírito sem erros, corpo físico sadio.
Observamos, tristes e estarrecidos, vários líderes religiosos, de diversas organizações, se corrompendo pelo poder, luxúria e ganância. Qual o papel primordial de um religioso?
Infelizmente algumas pessoas usam de religiões para se promover, para ter poder sem ter Deus em si, sem serem de fato religiosas. Com certeza a responsabilidade deles é maior. Pena que, com estes atos errôneos, levam muitos à descrença. Religiosos e todos nós devemos ser verdadeiros nas nossas atitudes e nos espelhar nos bons líderes religiosos, que são muitos e, para os reconhecermos, basta ver se eles seguem os ensinamentos de Jesus.
Acompanhamos diariamente notícias chocantes e violentas em toda parte do mundo. O homem tem evoluído a contento moral e espiritualmente?
Infelizmente sempre houve violência no nosso planeta. Atualmente, pela mídia, sabemos tudo ou quase tudo o que acontece. Porém, entre muitas notícias chocantes, temos tantas boas, e é nestas que devemos focar. Oportunidades de nos melhorar, todos temos; cabe, a cada um de nós, caminhar para a evolução, e muitos o estão fazendo.
Se pudesse mudar algo no mundo, mudaria algo? O que seria?
Tudo o que Deus fez, faz, é perfeito. Pensei muito em sua pergunta e até quis responder: tiraria o sentimento de crueldade, que ainda muitos de nós têm em si. Porém aqueles que outrora foram cruéis tiveram a oportunidade de aprender a não ser mais pela dor, tendo a reação de seus atos, e se regeneram. Temos o nosso livre-arbítrio para fazer nossas escolhas. O cruel de hoje terá oportunidades de aprender. Não mudaria nada, tudo tem razão de ser.
Chico Xavier, Dalai Lama e Papa Francisco. Todos pregam ou pregaram o amor, a paz e o diálogo. O ecumenismo será o futuro? A humanidade está no caminho certo?
Temos, de tempos em tempos, líderes religiosos que encarnam no nosso planeta para nos lembrar os ensinamentos de Jesus. Penso que ainda estamos muito longe de um ecumenismo, mas vejo, com alegria, líderes, principalmente religiosos, dialogarem. Todos nós deveríamos respeitar a crença do outro como gostaríamos que a nossa fosse respeitada. Quando isto ocorrer, com certeza, nosso futuro será bem melhor.
Aproveito para desejar a todos muita paz em 2021. Que Deus nos abençoe!