Terceiro filho do casal Thougo Cosini e Nair Bevilacqua, José Roberto (Zequinha para os chegados) muito se orgulha de suas origens italianas. Ao lado de seus irmãos Waldir (médico pediatra, falecido em 2019), Mauro (odontologista) e Maria Solange, teve uma infância feliz e proveitosa, onde todos eram amigos de todos. Sempre curioso para saber o funcionamento das coisas, exerceu inúmeras profissões. Atualmente divorciado, casou-se aos 29 anos com Rejane Furtado (Miss Paraíso 1971), de quem continua amigo e parceiro de trabalho e juntos tiveram três lindas filhas: Bianca, Bruna (que lhe deu as netas Luma e Lis) e Brenda (que lhe deu Alice e também foi Miss Paraíso, em 2008). Idealista por natureza, ainda com o senso crítico afiado, Zequinha compartilha nesta entrevista um pouco de sua rica trajetória.
Graduado em Ciências Biológicas, você exerceu inúmeras funções e profissões, entre elas gerente do Hotel Cosini e do Cine São Sebastião. Qual atividade mais te marcou? Como é se reinventar ao longo da vida?
Me formei na Faculdade de Ciências Médicas da Universidade da Guanabara (Rio de Janeiro) em 1974 e não havia mercado de trabalho nesta especialidade. Fiquei um ano em Paraíso e no ano seguinte tentei fazer medicina na mesma faculdade, mas por alguns empecilhos da direção, resolvi abandonar os estudos. Então, fiquei no Rio de Janeiro, fiz um curso de fotografia e junto com dois amigos, Estevão Pereira (advogado) e o Chico Pinto (jornalista e repórter da Auto Esporte), montamos um laboratório de revelação em preto e branco na casa do Estevinho, em Santa Tereza. Nascia a PAPIPRESS, onde fazíamos assessoria de imprensa para pilotos de competições, e sobrevivi um ano nesta atividade quando resolvi voltar a Paraíso. Em 1976 resolvi me candidatar a prefeito pelo MDB fazendo oposição à ARENA, que era ligada ao governo militar. Fui avançado demais para a época, não acreditaram em mim... (risos). Fui trabalhar com o arquiteto Rubens Rocha Gonçalves, o Rubinho, querido amigo que partiu muito cedo, infelizmente. Fui mestre de obras e depois desenhista de projetos. Foi meu primeiro registro em carteira. Nesta época fui um dos organizadores do JAP (Jogos Abertos Paraisenses), e acontecia também a Semana Cultural em julho, onde participei cantando uma música do Haroldo Garcia do conjunto Os Sapos, que me acompanhou na apresentação lá no Cine Recreio. Me casei com Rejane e fui trabalhar no hotel do meu pai, organizando, reformando, fazendo instalações e consertando coisas, que é o que mais gosto. Como precisavam de um gerente para a Empresa de Cinemas Paraíso Ltda., e como meu pai era sócio, me cedeu algumas cotas para que eu pudesse ser nomeado gerente, o que fiz durante três anos, quando então a maioria resolveu vender a empresa que já não auferia bons lucros em virtude da concorrência do videocassete. Jesser Esper, que adquiriu a empresa, ainda tentou tocá-la por mais um ano com seu sobrinho na gerência, mas desistiu. Deixando a empresa, me tornei mecânico de motocicletas de pequeno porte. Fiz um curso de mecânica por correspondência e aprendi a consertar motos de pequena cilindrada. Minha oficina era no Hotel Cosini que havia sido vendido ao Orlando Muschioni e me deixou ficar lá por algum tempo quando então fui contratado para gerenciar a MOTOPAN na área técnica e comercial. Montamos oficina, seção de peças e loja tudo sob minha orientação. Terminado meu contrato fui então o 1º repórter da TV Paraíso e lá trabalhei por um ano. Quando Orlando terminou a reforma do Hotel Cosini, me convidou para administrá-lo. Aceitei o desafio e consegui exercer com sucesso a empreitada por mais de três anos. Ao sair do hotel, fui chamado pela política novamente e trabalhei na campanha para a eleição de Pedro Cerize para prefeito, que ao ser eleito, me convidou para assumir o cargo de Assessor de Imprensa e assim foi durante os quatro anos de mandato do Pedro. Fizemos a melhor administração que Paraíso já teve. Fiz vários cursos pelo SENAC nesta época. A reinvenção foi necessária para a sobrevivência e assim fui trabalhar na Rejane Imóveis como vistoriador de imóveis, fazendo laudos das condições dos imóveis de aluguel. Faço isso ainda hoje.
Por falar em cinema, você se recorda do dia da inauguração e qual o filme que estreou o Cine São Sebastião? Que outros momentos e filmes você destacaria nas quase três décadas de funcionamento?
A data exata não me lembro, foi entre 1958/59. O filme foi “A Lenda da Estátua Nua”, estrelado por Sophia Loren. Procurei trazer os melhores filmes da época como Gandhi, All That Jazz, Mad Max...
Você foi um dos fundadores do bloco carnavalesco “Bafo da On-ça”. Como era o carnaval de antigamente e, em sua opinião, porque ele acabou em nossa cidade?
O Bafo da Onça foi fundado em 1959, foi o 1º bloco carnavalesco com bateria de escola de samba. O professor Carmo Perrone nos emprestava alguns instrumentos da fanfarra, fazíamos os tamborins e reco-recos, panelinhas e saíamos cantando o samba carioca do Bafo da Onça: “Nessa onda que eu vou, nela eu vou me acabar, é o Bafo da Onça, que acabou de chegar...” O carnaval era de muita alegria e animação. Tinha bailes e matinês em todos os clubes, muita serpentina, confete e até peguei a época do lança perfume “Rodouro” ... (risos). Acabou por desinteresse das administrações e também pelas aposentadorias dos titulares dos blocos e escolas de samba que não tiveram substitutos para conduzir os grupos.
Você é um homem politizado e já se envolveu com a coisa pública. Como foi essa experiência e o que, em sua opinião, poderia mudar no Brasil nesta seara?
Fui candidato a prefeito em 1976, e a vereador por três vezes. Como nunca aderi ao sistema de compra de votos, não conseguia me eleger e confesso que me decepciono com o processo eleitoral até hoje. São necessárias várias mudanças, entre elas, o fim do voto obrigatório, implantar o voto distrital além de acabar com a eleição de vereadores pelos votos de legenda (tem que ser o mais votado). No âmbito da justiça tem que ter prisão em 2ª instância e o fim do foro privilegiado.
Qual momento vivido por você, destacaria na história de Paraíso. Recorda algum show marcante ou personalidade que recebeu aqui?
O momento da eleição do Pedro Cerize foi marcante porque aconteceu como agora, a quebra de um grupo político que não largava o osso de forma alguma. Faziam loteamentos na época de eleições e distribuíam para ganhar os votos. Assim, até eu... (risos). Também, quando recebi o deputado Tancredo Neves lá no Hotel Cosini quando ele era candidato a senador, e foi eleito. Infelizmente não tenho nenhum registro fotográfico do evento. Shows foram muitos, mas o melhor era dançar com a Orquestra Laércio de Franca que imitava o Ray Conniff... (risos). Hoje, tenho dó da música brasileira, o nível é muito baixo, sofrível.
Paraíso se aproxima do seu bicentenário. Tem orgulho do lugar que nasceu? O que você daria de presente para a cidade?
Sim, tenho, mas lamento que algumas ações administrativas não permitiram que Paraíso fosse ainda melhor. Fazer loteamentos com lotes de 10x25 metros é um absurdo, não deveria ser permitido. Faltam áreas verdes, saneamento e educação de qualidade, estamos construindo favelas de cimento.
Você morre e é recebido por Deus. O que diria a Ele?
Diria para Ele iluminar os idiotas do mundo, senão eles vão dominar o planeta Terra.
Viver é um grande desafio e você enfrentou muitos nestes 73 anos de vida. Valeu e tem valido a pena? Mudaria algo?
Sobrevivi. Luto até hoje. Lamento a ignorância do mundo atual e o número de idiotas que só aumenta. Como disse Fernando Pessoa; “Vale a pena se a alma não for pequena”. Deixo aqui uma citação de Cícero: “Não podemos desprezar o nosso passado. Desprezar o passado denota, no indivíduo, degradação intelectual e, em um povo, demonstra que este povo está em estado de infantil selvageria porque, ignorar o sucedido antes de nós é a nossa condenação a sermos crianças perpetuamente”. Obrigado Reynaldo. Abraço a todos leitores do Jornal do Sudoeste e em especial ao seu diretor Nelson Duarte.