A economia solidária como resposta para a reinserção social de ex-dependentes químicos é o tema da dissertação de mestrado, da paraisense Gabriela Zanin, na Escola de Enfermagem, da USP (Universidade de São Paulo), campus de Ribeirão Preto. De acordo com a pesquisadora a iniciativa pode funcionar como fator que gera empregos e possibilita a inclusão de pessoas marginalizadas. “É uma alternativa de trabalho que contraria todas as formas de marginalização e exclusão de pessoas vulneráveis, pois não há acúmulo de capital, foco nos lucros ou precarização do trabalho”, afirma Gabriela.
Tudo começou há 10 anos quando Gabriela Zanin finalizou mais uma etapa de estudos e especialialização. “Decidida a explorar a área, conclui, no ano de 2011, minha especialização em Enfermagem do Trabalho”, comenta. A escolha do curso se deu pelo desejo em atuar profissionalmente no ambiente de trabalho das populações, além de atuar na prevenção e promoção dos agravos à saúde dos sujeitos através do trabalho. “Não diria que foi difícil chegar ao tema da minha pesquisa, mas para mim, era uma nova área a explorar”, descreve.
A visão do contexto do trabalho como meio de promoção e prevenção de agravos à saúde e o entendimento que, muitas vezes, é através dele que muitas pessoas se colocam como sujeitos sociais, tiveram seus primeiros passos ainda na sua graduação em Enfermagem. “Já no início da minha experiência profissional, com pessoas portadoras de transtornos mentais graves, pude perceber como o trabalho é significante para a inserção social desta população na sociedade e seu reconhecimento como sujeitos dotados de valores, talentos e capacidades”, explica.
Em meio a este contexto e sua afinidade com a temática, as ideias sobre a dissertação foram ganhando forma após várias discussões com a orientadora, a professora e doutora Regina Célia Fiorati. “Eu ainda não conhecia o tema da Economia Solidária e, foi a partir daí que meu estudo se iniciou”, relata.
Para Gabriela a economia solidária pode ser considerada um empreendimento coletivo, passível de ser gerador de empregos, inclusive para pessoas marginalizadas. “Compreendo que com a precarização do trabalho das populações contemporâneas, formas de sobrevivência econômica precisaram ser encontradas, então, pode-se dizer que a Economia Solidária é uma perspectiva de atividade econômica. É uma forma alternativa de trabalho que contraria todas as formas de marginalização e exclusão de pessoas vulneráveis, pois não há acúmulo de capital, foco nos lucros ou precarização do trabalho”, descreve. A Economia Solidária visa o respeito às limitações de cada sujeito, resume.
“Compreendo que com a precarização do trabalho das populações contemporâneas, formas de sobrevivência econômica precisaram ser encontradas”, salienta. “É uma forma alternativa de trabalho que contraria todas as formas de marginalização e exclusão de pessoas vulneráveis, pois não há acúmulo de capital, foco nos lucros ou precarização do trabalho. A Economia Solidária visa o respeito às limitações de cada sujeito”.
Gabriela cita que as vantagens deste modelo de economia para a sociedade são muitas. “A Economia Solidária permite que as pessoas, principalmente as mais vulneráveis, possam ser inseridas ou reinseridas no mercado de trabalho, permite que as pessoas conheçam todo o processo de produção e não somente partes dele, permite uma divisão igualitária do dinheiro, valorização de talentos, habilidades, capacidades e responsabilidades”, afirma. Em seguida complementa dizendo que também permite a reapropriação dos sujeitos, de suas vidas, seus valores, bem como sua recolocação na sociedade através do trabalho.
Por outro lado, entre as dificuldades em fazer emplacar este sistema está a falta de conhecimento das pessoas sobre o tema. “Isto parte de toda a população e de profissionais das diversas áreas do conhecimento. Outra dificuldade que identifico é a crença de que o capitalismo é a única forma viável de economia, que privilegia todas as esferas das populações e, sabemos que não é bem assim”, ressalta. O capitalismo excludente também influencia, segundo Gabriela. Infelizmente muitas pessoas são marginalizadas pelas formas excludentes de economia propostas pelo capitalismo que excluem cada vez mais aqueles que possuem qualquer necessidade que não se enquadra nos padrões formais propostos por tal modelo econômico.
Sobre a pesquisa realizada a atividade teve como ponto de partida a sede do Centro de Atenção Psicos-social, CAPS-ad II, em Ribeirão Preto (SP). “Com o aceite do Caps, pude acompanhar o grupo de sapoaria (grupo de fabricação de sabonetes artesanais) que ali trabalha baseado na perspectiva da Economia Solidária. Acompanhei o grupo, realizei observações e entrevistas com todos seus membros e também com a coordenadora do grupo, uma terapeuta ocupacional”, descreve. A pesquisa também possibilitou a Gabriela Zanin o contato direto com membros da Incubadora Tecnológica de Empreendimentos Solidários (Co-Labora ITES), que é formada por docentes e discentes da USP e UNESP.
De acordo com Gabriela observa, o futuro da sociedade, envolvendo a economia, como algo que vai além do acúmulo de lucros, o que a economia solidária é capaz de viabilizar. Segundo ela, mesmo com o objetivo de valorizar o ser humano e seu trabalho, as Prefeituras da região de Ribeirão Preto, por exemplo, “falham em promover feiras de economia solidária, onde as pessoas em reabilitação podem mostrar o trabalho e produtos que têm feito”. A conclusão é de que a divulgação desses trabalhos deve ser maior, mostrando a recuperação dos indivíduos sociais e sua força de produção econômica e não apenas “buscar o acúmulo de lucros”.
A atividade conforme a pesquisadora deve ser observada como algo opcional. “Vejo a Economia Solidária como alternativa de ressignificação das pessoas, seus valores e suas crenças, que por algum motivo encontram-se excluídas das formas tradicionais econômicas. Seja por necessidades de saúde ou sociais, principalmente”, finaliza. O trabalho de Gabriela Zanin foi tema de reportagens no Jornal da USP e também na Rádio USP.