ELE por ELE

BRUNO VERGANI

Por: Reynaldo Formaggio | Categoria: Entretenimento | 06-06-2021 09:23 | 6533
Bruno Vergani Garci
Bruno Vergani Garci Foto: Arquivo Pessoal

Aos 33 anos Bruno Vergani Garcia já passou por muitas experiências marcantes. Seja na música, nos cargos que desempenhou profissionalmente ou mais recentemente, ao enfrentar e vencer a covid-19. Nestes momentos, a família se torna ainda mais importante e o filho da Regina, irmão da Mariana, esposo de Cristiane e pai da pequena Isabeli, se fortaleceu com a corrente de amor e fé que recebeu. Por falar em pai, durante sua internação, Bruno perdeu seu tio Célio Vergani, sua referência como pai, vitimado pela mesma doença. Com sinceridade e coração aberto, Bruno compartilha nessa entrevista parte de sua trajetória e a emocionante luta pela vida.

De onde vem o Bruno?
Nascido em Franca, mas criado desde criança em São Sebastião do Paraíso, cidade que sou apaixonado!

Que memórias você traz de seu tempo de escola?
Completei o ensino médio pela Escola Estadual Benedito Ferreira Calafiori e me lembro de vários momentos daquela época. Um bem peculiar que hoje dou risada, mas na época não foi nada engraçado, é que minha mãe era minha professora de Artes, e por ironia do destino, ela precisou me reprovar. Na verdade, eu abusei e ela não deu trégua. (risos) Outros momentos bem legais eram os Festivais de Inglês e MPB, eu participava de todos.

Como surgiu sua relação com a música?
Franca é uma cidade famosa por ter muitas duplas sertanejas e comigo não foi diferente. Ainda lá, com dez anos formei minha primeira dupla. Já em Paraíso iniciamos uma pequena banda que se chamava Power Brasil e em seguida mudamos o nome para Acquarius. A Banda Acquarius foi crescendo aos poucos e logo estávamos fazendo muitos shows na região. Já um pouco mais velho entrei em uma banda de baile de proporção maior que chamava Banda Pantheon. Daí em diante conheci diferentes estados do nosso Brasil e toquei em grandes palcos, como por exemplo, o Palco Explanada da Festa do Peão de Barretos, em 2010.

Quais suas influências musicais? O que gosta de escutar?
Tenho várias. Passo do rock internacional do Metallica ao nacional dos Raimundos e Charlie Brown Jr. Vou do axé do Jammil e Uma Noites à Banda Eva. E do reggae do Armandinho ao sertanejo do Jorge & Mateus.

Atualmente você atua como gerente de compras. A música ficou de lado? Se sente realizado profissionalmente?
Minha vida profissional se iniciou aos 14 anos como entregador de medicamentos, passando por algumas empresas do comércio de Paraíso. Ao mesmo tempo atuei como vocalista de bandas variadas. Em 2014 me bacharelei em Direito pela Libertas Faculdades Integradas e em 2020/21 cursei a pós-graduação em Gestão Estratégica de Compras pela UNIP–SP. Em janeiro de 2016 fui convidado para o cargo de Gerente de Compras na Fábrica De Calçados Cacique, que produz a tradicional marca Andacco. Cargo que ocupo atualmente. É uma profissão que se tornou minha paixão e me sinto muito realizado com meu trabalho. Mas a música continua muito forte na minha vida, porém como passatempo. Aquele violão com os amigos acompanhado de um bom churras e regado a cerveja gelada, não pode faltar. (risos)

Recentemente você enfrentou a covid-19 e passou por momentos muito difíceis. Como foi viver essa experiência?
Pois é! Testei positivo em novembro de 2020 com sintomas leves e agora em março de 2021 houve a reinfecção e nessa segunda vez passei maus bocados. Foram oito dias em casa monitorando febre e saturação e no oitavo dia não teve jeito, fui internado e fiquei por mais nove dias na Santa Casa. Olha, eu com 33 anos, saudável e não fumante, passei por momentos muito difíceis lá dentro. Esse vírus é muito forte! Dei entrada na Santa Casa como o nível 1 de oxigênio e saturando 95. Já no outro dia eu estava no nível 6 de oxigênio saturando 89/90. Neste momento, para se ter uma ideia geral do meu quadro, eu mal conseguia andar. Do terceiro dia de internação foi ladeira abaixo até o sétimo dia, onde meu corpo já reagiu e dois dias depois tive alta.

Jovem, saudável, casado e com uma filha pequena. O que passava pela sua cabeça nos momentos mais difíceis da internação?
Já no momento da internação eu pensava muito na minha filha Isabeli Soares Vergani e na minha esposa Cristiane Soares de Souza. Eu também pensei muito na minha mãe Regina e na Vó Lucy. Mas tomei uma atitude que eu tenho certeza que foi de grande importância para a minha recuperação. Eu desinstalei Whatsapp, Instagram e todos os aplicativos que poderiam tirar meu foco no tratamento. Não liguei televisão, não atendi ligações e só conversava com minha esposa por mensagem de texto. Só, mais nada! Ali, a bomba de medicamentos trata seus sintomas, mas o que te faz ter alta é a sua cabeça. A internação por si, abala muito o seu emocional e eu lutei contra pensamentos ruins e o medo o tempo todo. E uma coisa que eu não posso deixar de falar é sobre a equipe da Santa Casa. Mega competente e ativa. Da limpeza, enfermeiros, fisioterapeutas e psicólogos aos médicos. Todos! São muito comprometidos.

Temeu pela morte?
Sim, muito! Nos primeiros dias de internação, como meu corpo não reagia, temi muito a morte. Como eu disse, sua cabeça te dá a sentença, daí é com você.

Durante sua internação você perdeu um tio, vitimado pela mesma doença e sua família se uniu em vigília e oração pela sua vida. Acha que isso ajudou? Você é um cara de fé?
Na verdade, eu perdi um pai. Eu perdi o homem que me fez homem. Ele substituiu meu pai desde muito pequeno e era minha referência, é ainda! Eu sou religioso e um homem de fé, mas nunca fui muito ativo. Diferente da família da minha esposa que é muito ativa na religião católica e até minha família também é muito mais ativa do que eu, minha tia por exemplo no Espiritismo. Também não sou de vitimismo e sensacionalismo, mas foi incrível como as orações surtiram efeito. Como eu não usava telefone, televisão e outros tipos de entretenimento eu fiquei sozinho, certo? Que nada! Eu senti, muitas vezes, muitas vezes mesmo, que estavam fazendo algo lá fora por mim. Eu não sabia quem, como, ou o que estavam fazendo. Mas por diversas vezes a equipe médica saía e eu fechava o olho de dor e parece que tinha gente ali em volta da minha cama me curando, parecia ter muitas pessoas, mas não tinha ninguém. Parece loucura, né? Mas é verdade, eu sentia! Algumas vezes durante a internação meu corpo parecia que não tinha nada, parecia limpo e bem. Em seguida eu mandava uma mensagem para minha esposa relatando o fato e ela falava que a família dela estava rezando naquele momento. É surreal!

O que você diria para quem não dá muita importância a esta pandemia?
Para não brincar e dar sorte para o azar. Sou relativamente novo, saudável, ativo e me prevenia. As sequelas de uma infecção de covid são muito sérias, para aqueles que sobrevivem. Virei um pré-diabético, não tenho mais o fôlego que tinha antes. Estou em tratamento de fisioterapia pulmonar e potencializou um diagnóstico de apneia, que eu já tinha, mas agora preciso tratá-la com urgência. Este vírus te arrebenta. É muito perigoso!

Qual a primeira coisa que você fez ao receber alta do hospital? Acha que saiu transformado dessa experiência?
Como eu não me permiti chorar durante a internação, chorei assim que saí e vi a luz do sol. Agradeci a Deus e a equipe que me tratou. E pedi para Deus transferir todo aquele esforço que teve comigo para os que ainda estavam ali. No dia seguinte fui até a casa da minha tia para eu poder sentir o luto do meu tio ao lado deles. Eu precisava disso! Sou outra pessoa! Entendo melhor as situações e as pessoas sem ser ranzinza. Eu era muito ranzinza! (risos)

Como enxerga as transformações que nosso planeta está passando?
Eu ainda não tenho um conceito formado sobre isso. Para mim, é tudo muito novo. Jamais imaginei que eu passaria por isso por uma internação tão séria e ainda estou meio perdido. Mas eu enxergo com muita tristeza. Sou o homem do aperto de mão, do abraço e do beijo e isso acabou. Mas, é a realidade, né? ‘Bora’ adaptar e seguir a vida. A única coisa que desejo é que isso acabe logo. Com vacina, com remédio ou com a tal imunidade de rebanho, não importa como isso vai acabar, mas que acabe logo! Não quero que minha filha viva isso. Ela precisa correr, brincar, machucar e conviver com pessoas. Tanto ela como todas as crianças, merecem viver de verdade!

Bruno, qual balanço faz da sua trajetória até aqui? Tem algum sonho que pretende realizar?
Que sou um homem forte. Saí muito mais forte, principalmente minha mente. Aprendi que ao longo da vida coisas vão acontecer, boas e ruins. As boas são fáceis de lidar, mas e as ruins? Na verdade, não são os acontecimentos ruins que te machucam. É o que você faz com você mesmo porque aconteceu algo ruim. Você é o diretor da sua mente. E eu decidi dirigir a minha de maneira segura e estável, assim farei. Meu sonho é ver minha filha curtir a vida de verdade e se Deus quiser isso logo acontecerá.