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Joster Mara Paes

Por: Reynaldo Formaggio | Categoria: Entretenimento | 19-06-2021 10:11 | 1387
Joster Mara Paes
Joster Mara Paes Foto: Arquivo Pessoal

A paraisense Joster Mara Paes é a primeira de sete filhos dos saudosos Terezinha Lizarelli Paes e José Paes. A mãe, costureira; o pai, sapateiro, acadêmico e poeta, tendo sido um dos fundadores da Academia Paraisense de Cultura. De seus genitores recebeu o exemplo do estudo, trabalho e honestidade. Tornou-se uma mulher de hábitos simples, olhar terno e doçura nas palavras. Com 70 anos de vivências e constantes aprendizados, Joster compartilha nessa entrevista parte de sua trajetória e visão de mundo.

Joster, seu nome é uma junção dos nomes de seus pais, certo? Quem foram e o que eles representam pra você?
Sim. JOS (José) e TER (Terezinha). Meu pai, José Paes, poeta e sapateiro, passou-nos rígidos conceitos morais, válidos até hoje. Minha mãe, Terezinha Lizarelli Paes, era filha de italianos, mulher sábia, mãe amorosa de sete filhos, representa para mim a base do amor familiar e de belos exemplos para a vida toda. Faleceu aos 62 anos.

Ainda jovem você vivenciou uma situação dramática ao ver seu pai ser preso por motivações políticas. Que lembranças guarda desse episódio?
As memórias estão nítidas, pois conheci desde então, a crueldade existente na polarização ideológica, a injustiça, a truculência e todo mal resultante dessas atitudes. Mas guardo também boas lembranças ligadas ao episódio: a solidariedade de pessoas amigas com apoio e presença, provando que o oposto do ódio e da ignorância são fundamentais sempre.

Que memórias você traz de seu tempo de escola?
São memórias gratificantes. No Grupo Escolar Interventor Noraldino Lima, até o quarto ano e depois no Colégio “Paula Frassinetti”, por 7 anos, até o Curso Normal (magistério). Tive ótimas mestras! Nossos pais sempre nos incentivaram ao estudo. Meu pai só teve oportunidade de se alfabetizar aos 14 anos, pelo professor particular Antônio Roque Martins, posteriormente sendo escolhido como seu patrono na Academia Paraisense de Cultura. Logo ele começou a criar seus poemas, lembro que o primeiro foi intitulado “O Gato Branco”! E minha mãe, igualmente, sempre leu muito. Na Escola Noraldino Lima sempre me destaquei de forma natural, tinha facilidade e gostava de estudar. Foi quando Edmeé Amaral, a diretora da escola à época, procurou meu pai e disse que eu deveria continuar os estudos após a conclusão do primário. Para continuar a única opção era o Colégio e meu pai disse que não tinha condições de pagar a escola particular. Dona Edmeé disse que resolveria isso e conseguiu junto às Irmãs, bolsa para meus sete anos de estudo. Tenho muita gratidão a Edmeé e às Irmãs, que acolherem seu pedido. O ensino era de excelente qualidade. Tive ótimas professoras de português, literatura, matemática... Com apoio dos meus pais e da escola, tomei ainda mais gosto por estudar.

Nos conte um pouco sobre sua trajetória com a “lousa e giz”. Por quais escolas passou e quais os maiores desafios da profissão? Exerceu outras atividades?
Desde pequena tinha essa vontade de ensinar. Como professora atuei pouco tempo, na zona rural de Pratápolis. Na época, o maior desafio era o financeiro, pois o Governo Estadual não pagava em dia, atrasava o pagamento em meses. Resolvi prestar concurso público para a Minas Caixa (extinta Caixa Econômica de Minas Gerais), lá trabalhei por 19 anos e quando foi extinta, fui trabalhar na Secretaria da Fazenda do Estado de Minas Gerais, até a aposentadoria. Tive a opção de me aposentar cedo e assim o fiz para acompanhar os estudos e a educação das minhas filhas, à época pré-adolescentes. Como me aposentei ainda jovem, e de modo proporcional, precisava complementar a renda e voltei à Educação com as aulas particulares, atividade que exerço até hoje. Faço com gosto e muito amor!

Qual a importância da Educação?
Aprendemos desde cedo a importância da Educação. Meu pai trabalhando o dia todo na sapataria, sabia e nos transmitia o valor do conhecimento. Além de provedor do lar, desde mocinho era arrimo da mãe, que ficou viúva muita jovem e de uma irmã. Ele ouvia muito rádio e se inteirava das notícias também através dos jornais e livros. Minha mãe igualmente, mesmo tendo um filho a cada dois anos e trabalhando como costureira, acordava antes de todos, colocava a mesa do café e quando levantávamos, ela já estava lendo. E mamãe adorava cinema! Ficava com meu irmão Luiz Carlos aguardando ansiosos nossos pais voltarem do cinema. Nossa mãe contava histórias muito bem, então ela narrava os filmes em detalhes, ficávamos encantados! Esse incentivo pela cultura e educação, herdamos deles e também procurei passar para minhas filhas. A Educação é importantíssima!

Nos conte mais sobre a família que constituiu. É do tipo mãe leoa, coruja ou galinha que quer sempre os filhos sob as asas?
Sou divorciada e tenho duas filhas, minhas joias: Maria Tereza, contadora e Cris-tina, advogada. Meu ex-marido trabalhava como viajante e estava em casa apenas aos finais de semana. Deste modo, acompanhei de muito perto o desenvolvimento delas. Conferia o que havia de dever, se tinham dúvidas estudávamos juntas, corrigia as provas com elas. Quando crianças fui mãe galinha, querendo-as sob minhas asas, fui mãe leoa, quando precisaram e coruja ainda sou.

A Língua Portuguesa é um idioma complexo e cheio de possibilidades. Que dica daria para quem pretende aprimorá-lo?
Ler, ler, ler e estudar sempre a gramática.

Tem algum autor favorito? Porque ele (ou ela) tem sua predileção?
Fernando Pessoa, Rabindranath Tagore, Jorge Luís Borges, Carlos Drummond de Andrade, Rubem Alves, Adélia Prado, Clarisse Lispector, Aldir Blanc, Chico Buarque, etc. Tenho predileção pela veia poética e filosófica na maioria deles.

Comente cada um dos trechos das seguintes obras literárias: “Mestre não é quem sempre ensina, mas quem de repente aprende” - Grande Sertão: Veredas (Guimarães Rosa)
Ensinar e aprender estão intimamente ligados, acho fantástica a percepção dessa realidade.

“Nunca me esquecerei que no meio do caminho tinha uma pedra, tinha uma pedra no meio do caminho” - No meio do caminho (Carlos Drummond de Andrade)
Há sempre, não uma, mas várias pedras no meio dos nossos caminhos e contorná-las representa a grande sacada da vida.

 “Cuidado com suas preocupações, dizem que dá ferida no estômago”. – A Hora da Estrela (Clarice Lispector)
Acredito também que não só as preocupações, mas todos os sentimentos e emoções angustiantes fazem mal à saúde.

Joster você é politizada? Como enxerga essa divisão presente no atual cenário brasileiro?
Procuro ler para conhecer e aprender sobre política e o que acontece nos bastidores. Não sou partidária e considero péssimo o extremismo e as “fake news”, que levam as pessoas à desinformação.

É uma mulher de fé? Qual o sentido da vida? Para onde vamos?
Sim, sou uma mulher de fé cristã e não ligada a nenhuma religião institucionalizada. O sentido da vida, para mim, é a evolução e esta determina para qual dimensão seguiremos.

São Sebastião do Paraíso 200 anos. O que nossa cidade tem de melhor e o que deveria melhorar?
Gosto das pessoas, do clima, da natureza. Temos ótimas escolas, mas precisamos de maior limpeza e cuidado com nossas ruas e praças, mais arborização e geração de empregos.

Tem algum hobby?
Caminhadas e cinema (filmes).

Se arrepende de algo? Faria escolhas diferentes?
Não me arrependo de nada.

Joster, qual o balanço você faz da sua trajetória até aqui? Tem algum sonho que pretende realizar?
Cada decisão tomada, acredito ter sido a melhor para o momento. Quanto a sonho, viver intensamente cada instante da vida, aprendendo e evoluindo até o momento de seguir viagem.