ELE por ELE

WALKER MARINZEK

Por: Reynaldo Formaggio | Categoria: Entretenimento | 26-06-2021 10:26 | 6662
Walker Marinzek
Walker Marinzek Foto: Divulgação

Desde muito cedo Walker Marinzek aprendeu o significado da palavra desafio. Mais do compreendê-los, Walkinho, como é carinhosamente chamado, soube superá-los. Ao lado dos irmãos Luiz, Laércio e Lúcia, teve uma infância feliz, também repleta de aprendizados e conquistas diários. Superação bem poderia ser seu sobrenome. O terceiro filho do casal Laércio Luiz Marinzeck e Maria Lúcia de Pádua Marinzeck, nasceu com uma rara condição genética, nunca se privou de nada e com muita fé e otimismo, galgou degraus que nem alguns médicos acreditavam ser possível. Aos 52 anos, Walker percorreu uma estrada com muitas pedras pelo caminho. Das pedras, forjou-se homem forte e determinado. Nesta entrevista, Walkinho abre o coração e generosamente, deixa seu exemplo de obstinação, gratidão e muito bom humor

Walker, nos conte sobre suas origens. O que a família representa pra você?
Nasci com uma má formação na medula chamada mielomeningocele, o que na circunstância que nasci era sinônimo de pena de morte. Mas a minha família, principalmente meus pais, foram primordiais para que eu sobrevivesse e recebesse os milagres que ocorreram em minha vida.

A deficiência certamente está mais nos olhos de quem vê e a informação é sempre o melhor caminho. Qual sua condição enquanto pessoa com deficiência e como foi o começo dessa luta?
Bom, os médicos sempre diziam que eu jamais andaria, aliás sequer conseguiria mover as pernas, mas minha família sempre me tratou como uma pessoa normal, e assim eu me vejo. Com a persistência e dedicação da minha mãe, hoje levo uma vida absolutamente normal.

Por quais escolas passou e qual sua formação acadêmica? Algum professor em especial o marcou?
Sempre estudei em escolas “normais”, como o Coronel José Cândido, Colégio Paula Frassinetti, Escola Técnica de Comércio São Sebastião e FACEAC (hoje Libertas) Sou formado em Ciências Contábeis e Administração de Empresas. Tenho grande carinho e gratidão por toda classe de professores, afinal todas as outras dependem de professores pra existirem.

Hoje fala-se muito em bulling. Sofreu algo desse gênero?
Sempre, principalmente na infância, mas desde cedo aprendi com minha família que ofensa é igual um presente, quando você não o recebe ele continua sendo da pessoa que lhe enviou. E nunca me afetou gravemente, sou da época que a gente resolvia essas questões depois da aula na pracinha (risos).

Você é hipnoterapeuta, certo? Nos conte sobre sua atuação profissional atualmente.
Desde menino eu sempre fui o paizão, vivo dando conselhos e sempre adorei estudar sobre a mente humana, desde então venho estudando sobre isso. Daí eu me preparei e comecei a fazer isso profissionalmente. A hipnose é mais uma ferramenta que ajuda no trabalho do terapeuta. Não é sempre que se usa. Muitas vezes a hipnose acelera o tratamento e ajuda a amenizar os sintomas tais como depressão, ansiedade, vícios, gagueira, fobias e por aí vai. É muito gratificante poder ajudar ao próximo e isso é uma constante em minha vida, mas eu costumo sempre creditar na conta de Deus, sou apenas um instrumento. Mas não posso deixar de assumir que é muito boa a sensação de dever cumprido!

Atualmente vemos progressos em relação a acessibilidade de modo geral, mas certamente há um longo caminho a ser percorrido. O que você pensa a respeito das políticas públicas de inclusão?
Nossa política num modo geral é muito deficitária, em todos os aspectos, não só em se tratando de acessibilidade. Mas com certeza essa parte já está muito melhor do que na época da minha infância e adolescência.

Nos conte sobre sua trajetória de superação. Quais foram os momentos mais desafiadores?
Vai precisar de algumas edições pra descrever todos (risos). Mas vem desde o nascimento, quando minha expectativa de vida era de 48 horas e já estou com 52 anos. Depois falaram que eu jamais iria mover as pernas; ando, dirijo e levo uma vida normal. E muitas outras.

E sobre a família que constituiu? Algo mudou após a paternidade? E como está sendo a experiência como vovô?
Eu sempre sonhei em constituir uma família, ter filhos e tal, com a graça de Deus consegui isso! Costumo dizer que a gente só aprende o significado da palavra incondicional quando se tem filho. Sou pai do Sanderson, que é solteiro e mora comigo e da Silvania, que é casada e me deu dois netos maravilhosos: o Eduardo, de 4 anos e a Isabelle, de 2 meses. Ser avô é maravilhoso, é pai com mel. Ter um filho que não precisa educar é bom demais. Minha filha que conserte (risos)!

Você é muito espirituoso e transmite muita positividade. De onde vem esse bom humor?
Bom, isso me acompanha desde o nascimento, segundo me dizem, mas creio que vem da minha mãe e da minha fé. Sempre procuro ver o lado bom das coisas e aprender com as não boas.

Tem algum hobby?
Adoro estar com pessoas, principalmente jovens, dar conselhos, abraços... Como disse, sempre fui o paizão da turma e esse contato com pessoas me faz muito bem. Agora com a pandemia está complicado, mas existe a internet pra gente ir quebrando o galho. Também adoro dançar, nadar e tantas outras coisas que as pessoas ditas “normais” não fazem dizendo que é difícil. No caso da dança, eu adoro, principalmente a dança de salão. Modéstia à parte, danço bem (risos)!

Você também é palestrante. Como surgiu esta atividade?  O que aborda em suas palestras?
Surgiu ainda na adolescência, pois sempre frequentei grupos de oração na igreja, e gosto de falar em público. Depois montei uma palestra sobre a minha vida e minha história de superação pra motivar as pessoas.

É um homem de fé? Qual a importância de se ter algo em que acreditar?
Sim, de muita fé. Afinal sou prova viva da existência do divino, pois a ciência não explica o fato de eu andar e fazer tudo que faço. Até dirigir sem ter sensibilidade nas pernas e pés.

Você recebe o poder de mudar apenas uma coisa no mundo. Qual seria sua escolha?
Só um? Sacanagem (risos)! Acho que teria o poder da real globalização, onde todos seriam iguais de verdade, onde não haveria diferenciação entre negros e brancos, homos e héteros, e tantas outras diferenças. Seríamos todos humanos, irmãos, um cuidando da evolução dos outros.

Você se vê frente a frente com Deus. O que diria?
Só agradeceria a oportunidade de servi-lo e aproveitaria pra deitar um pouquinho no colo Dele. Faço sempre essa mentalização, mas geralmente no colo de Maria (que eu chamo de Mãezinha). É minha oração diária.

Que conselho você dá para quem enfrenta alguma dificuldade e aparentemente não vê saída?
Comece a focar a sua atenção nas graças que recebe todos os dias, tais como saúde, casa, comida, família e tantas outras; e comece a se sentir grato. Vai se sentir muito melhor e em condições de encontrar uma saída para qualquer “problema” que esteja passando.

Walkinho, que mensagem você pode deixar para nossos leitores?
Lembrem-se que o impossível é inversamente proporcional à vontade humana, então levanta a cabeça e ‘bora’ ser feliz, uai! Fiquem todos com Deus e abrabeijão no coração de cada um!