ELE por ELE

EDILBERTO MUMIC

Por: Reynaldo Formaggio | Categoria: Entretenimento | 11-07-2021 07:49 | 1804
Edilberto Mumic
Edilberto Mumic Foto: Arquivo Pessoal

Em suas veias corre sangue europeu, índio e negro. Até "sangue azul" da casa real espanhola está em seu DNA! Mais do que esta mistura genuinamente brasileira, a generosidade, altruísmo, sensibilidade e muita intuição, estão fortemente presentes em Edilberto Mumic. Terceiro dos oito filhos do saudoso casal Alípio Mumic e Alice do Nascimento Mumic, Edilberto celebrou no último dia 27 de junho, 88 anos de vida e 67 de casamento. Ao lado da esposa Cezarina Josefina Porto Mumic, criou os sete filhos com sólidos valores alicerçados na fé e união. Nesta entrevista Edilberto compartilha sua trajetória permeada por muito trabalho e aprendizados.

Primeiras memórias
Nasci onde foi a origem do Curtume (Cortume Santa Cruz Mumic, conforme grafia da época, que permaneceu com este nome durante quase toda sua centenária existência). Meu avô Carlos Mumic veio de São José do Rio Preto acompanhando uma boiada e de passagem por Paraíso viu o potencial da cidade e aqui se radicou com a família. Foi um dos fundadores do Curtume Paraisen-se e poucos anos depois saiu da sociedade para fundar o Mumic, que se tornou o maior do Estado. Cresci conhecendo o trabalho, a amizade, valores muito importantes à época. Somos muito unidos e os oito irmãos estão bem e com saúde!

Tempo de escola
Cursei o grupo na Escola Coronel José Cândido e o curso ginasial no então Ginásio Paraisense, dirigido pelos Irmãos Lassalistas. Tinha facilidade nos estudos e naturalmente, estava entre os primeiros da turma.

Vida de trabalho
Aos 13 anos comecei a ajudar minha tia Carolina Mumic no escritório do curtume. Fazia cartas de cobrança e agradecimento, faturas, tudo datilografado. À época ela estudava Enfermagem e quando decidiu seguir nesta área, continuei na administração. Meu sonho era partir para o Rio de Janeiro e seguir carreira na aviação, mas meu pai me pediu para dar continuidade na empresa e acatei. Aos 35 anos, por ter iniciado ainda muito jovem, me aposentei formalmente, mas continuei por mais 35, me dedicando à empresa até os 70 anos. Ali aprendi muito, tanto na parte administrativa, relação com o cliente, todo o processo do couro. Posteriormente vimos que era importante tratar os resíduos, cuidar da água... Fiz muitos cursos (na área administrativa, mecânica, eletrônica, exportação) aperfeiçoamentos, viagens. Tudo foi uma grande escola! Trabalhei com muito amor e carinho. Às vezes penso o que levou a indústria para um caminho de falência. Hoje tem muito sintético, o couro foi perdendo seu status, mas certamente ainda tem mercado. Enfim, fechou-se um ciclo. Também atuei por 10 anos como juiz de paz e por um curto período como delegado e juiz de direito substituto.

Família e política
Conversávamos muito em família. Tive essa formação política em casa. Meu tio Alberto Mumic tinha sido vereador, vice-prefeito e prefeito. Quando meu pai decidiu ser prefeito (Alípio Mumic comandou o Executivo por duas gestões, entre 1967/71 e 1973/77), o apoiamos. Quem se candida-tava era por vocação, um ato de doação à cidade. Não se ganhava nada, pelo contrário, tirava-se dinheiro do bolso. Acompanhei meu pai em inúmeras viagens, tudo era pago do bolso dele. Se ele queria implantar algo aqui, ia até outras localidades conhecer e estudar a melhor opção para nossa cidade. Foi assim por exemplo com a Fonte Luminosa (Praça Com. João Alves), inspirada em uma similar em Poços de Caldas. Na inauguração a música sincronizada com as águas dançantes emocionou muita gente! Ainda exerço meu direito ao voto, mas comparando a política daquele tempo com a de hoje, posso dizer que é como comparar dia e noite, mudou demais! Havia um entendimento da política em benefício da cidade e seu povo.

As flores do jardim da nossa casa
Sempre gostei da natureza. Cultivava horta com meu pai. Ajudei meu avô materno a plantar café, regava todo dia, naquele tempo o processo era diferente. Tinha prazer em colher! Tia Carolina fundou a primeira floricultura de Paraíso e região, a Santa Isabel. Era uma pessoa muito especial, todos recordam de sua dedicação à enfermagem e depois à floricultura. Assumi este novo desafio, fiz curso em Holambra e foi muito gratificante resgatar esse contato com a natureza. Era um prazer receber os clientes amigos, os vizinhos.

67 anos de união
Conheci minha esposa aos 16 anos e ela estava com 13 para 14 anos. Minha primeira aquisição com o dinheirinho do meu trabalho foi uma bicicleta que adquiri na agência de automóveis do Fúlvio Guidi (risos)! Passeava com os amigos de bicicleta, quando conheci a Cezarina junto às suas amigas. Da amizade, nasceu o namoro e o casamento. Nos casamos no dia do meu aniversário de 21 anos. Ela me ajudou muito, sempre unidos, temos muita fé. Éramos muito próximos ao Monsenhor Manci-ni, uma pessoa excepcional. Eu era “mariano” e ela das “Filhas de Maria”, organizávamos missões, encontros, festas... Da nossa união tivemos sete filhos, 16 netos e três bisnetos.


Tive duas situações marcan-tes. Ainda bem jovem, na época do ginásio, caí na escola e machuquei a perna. Esse machucado evoluiu para uma grave infecção que se alastrou e tomou parte do intestino. Entrei em coma. Tive uma experiência de ouvir o Dr. Urias dizer ao meu pai que sentia muito, mas eu não era mais filho dele... Um dos médicos da equipe mencionou que no Rio de Janeiro já estavam utilizando um medicamento para infecções graves, criada anos antes e muito utilizada na 2ª Guerra Mundial. Era a penicilina! Fizeram contato via telégrafo e mandaram o remédio de avião para Guaxupé e de lá veio no expresso misto da Mogiana. Me recuperei e relatei o que havia ouvido do médico com meu pai. Eles não acreditaram, disseram que alguém tinha me contado! A fé foi se fortalecendo em mim... E mais recentemente, no ano retrasado, conversando na floricultura sobre política, o contexto mundial, disse que iriámos passar por uma grave situação e que haveria muitas mortes. Não sei porque falei isso, mas meu pai sempre disse que eu era muito intuitivo. Enfim, a fé, para mim, é saber das adversidades e em momento algum perdê-la.

O sentido da vida
Baseado na minha, aprendi com meus pais e avós que a vida não é só da gente. Fazemos parte de um estágio em que temos que fazer tudo pensando no hoje e esperando no amanhã. Tudo que queremos construir para o amanhã, temos que preparar hoje...