Quem são os palhaços?
Todo servidor público possui poder de polícia, que é aquele indispensável para por ordem na casa dentro do seu ofício e no exercício de sua atividade estatal. Exerce poder de polícia o carteiro que não entrega a carta para um destinatário suspeito, um juiz que retira da audiência pessoa inconveniente ou cassa a palavra de um orador ofensivo, ou uma atendente de enfermagem que impede um visitante de bater fotos de um doente internado em um hospital público – tudo isso é o exercício do poder de polícia. Poder policial é outra coisa, e só o possuem as polícias brasileiras, a civil e a militar dos estados e a Polícia Federal. Para perseguir, autuar e prender em flagrante ou impedir que o crime ocorra, o dever é das polícias e não do Presidente da República. Mesmo assim, diante da prática de crimes possíveis, não dos impossíveis pela absoluta ineficácia de meios, que é o caso da compra da Covaxin. A discrepância de valores e o aspecto mambembe das negociações eram tão gritantes que aquelas atrapalhadas tratativas acabariam barradas pelos órgãos controladores governamentais, tão escandalosas que assustaram ao próprio Bolsonaro quando delas ouviu em uma conversa informal com os irmãos Miranda. Instaurar inquérito para apurar prevaricação de um presidente que não tinha dever funcional algum de ação para apurar peculato impossível de ser cometido é uma tolice tão grande que nos mostra que o picadeiro do circo pode ser na CPI da Covid, mas é a nós que querem fazer de palhaços.
Dissonância Cognitiva
Diz-se agir com dissonância cognitiva a pessoa que aplica dois pesos e duas medidas distintas para tratar situações semelhantes – um veneno marxista que por vezes é inoculado em juízes e jornalistas. Os filhos de Bolsonaro são execrados porque abrem lojas de chocolate, são ativistas em redes sociais ou suspeitos de “rachadinha”, ou porque compram casas luxuosas em condomínios fechados. O filho de Lula salta em míseros meses de gerente de zoológico a um dos mais vertiginosamente prósperos empresários do Brasil.. e fica por isso mesmo. Esse tal de Lulinha deve ser um gênio das finanças, ao menos aos olhos daqueles que não querem ver.
A Suspeição
Declarar-se suspeito é um direito do magistrado e ocorre quando, por exemplo, ele se surpreenda com um parente seu no banco dos réus, ou um amigo íntimo. No primeiro caso impedido, no segundo suspeito, basta que o juiz assim se declare para que não seja obrigado a atuar no respectivo processo. A bronca fica feia quando o magistrado se cala sobre a suspeição ou o impedimento e este, posteriormente, vem a ser declarado por tribunais superiores, como no caso do ex-juiz Sérgio Moro. Outra peculiaridade do caso Moro: apesar dos inúmeros atos questionáveis anteriores, dentre os quais a condução coercitiva desnecessária de Lula e o vazamento seletivo de áudios de grampos telefônicos, sua suspeição é póstera, ocorreu depois dos julgamentos que proferiu e quando aceitou ser ministro do governo Bolsonaro. Sucede daí que todos os julgamentos anteriores que direta ou indiretamente tenham afetado ao ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva devem ser anulados, se já não o foram. Não dá para aproveitar a nenhum deles, o que dá uma ideia do desserviço que foi para a nação a opção de Moro pela atividade política.
A Camisa 24
O futebol é uma atividade privada ainda quando seja financiada com dinheiro público. Por isto soa surreal quando juízes determinam se copas vão ou não se realizar, ou interpelam a CBF para saber por que os jogadores de nossa seleção não usam o número 24 às costas. Ainda assim, a resposta deve vir na lata e não causar constrangimento: em um meio tradicionalmente machista, jogadores e dirigentes evitam utilizar o número que é folcloricamente ligado à homossexualidade, porque 24 é o veado bicho no jogo do bicho, e o veado é o símbolo pejorativo de homens gays no submundo da bola e da vida. Boleiros evitam o número para não ser alvo de chacotas nas arquibancadas ou vestiários. Não querem sofrer bullying. O receio, no entanto e hoje, parece tolo e fora de moda. Está virando mérito ser GLBT, que o diga o governador gaúcho Eduardo Leite, aplaudido por afirmar-se homossexual, mesmo quando todos já o sabiam. Que coragem é esta, aliás, para declarar o óbvio? E Eduardo (veja-se a ironia), é gaúcho de Pelotas e sua procedência geográfica é também alvo de perseguições culturais homofóbicas tradicionalíssimas no Rio Grande do Sul e no país. Algo a ser combatido, mas que não pode ser negado. Coragem possuíram, cada qual a seu tempo, Fred Mercury e Ney Matogrosso. O primeiro se tornando um ícone pop homossexual quando a Inglaterra em que vivia era, além de berço do rock, também o país em que até o começo dos anos 1980 se punia com prisão ou castração química cidadãos acusados de homossexualismo. Ney se pintava de lobisomem e subia ao palco com plumas e paetês desfilando sua virtuose de cantor inimitável e sua coragem de homem gay décadas a frente de seu tempo. Esses caras eram “veados machos”. O gaúcho de Pelotas Eduardo Leite apenas surfa na onda do politicamente correto declarando o óbvio, com ou sem a camisa 24 às costas.
O dito pelo não dito
“O povo gosta de luxo; quem gosta de miséria é intelectual”. (Joãozinho Trinta, carnavalesco brasileiro e ativista LGBT).