DIA DOS PAIS

Ser pai na pandemia

Por: Roberto Nogueira | Categoria: Entretenimento | 07-08-2021 05:05 | 4728
Foto: Reprodução

Pais de primeira, segunda ou de muitas viagens lidam com sentimentos semelhantes como o de encontrar o equilíbrio entre prover, cuidar e participar. Com a pandemia, a rotina que antes se resumia somente aos jantares juntos muitas vezes, hoje é praticamente compartilhada em tempo integral entre pais e filhos. No início do isolamento, as mudanças necessárias foram desafiadoras. Superada a fase de transição, o home office, também conhecido como trabalho em casa, acabou sendo um bom tempo para estreitar os laços afetivos. Muitos foram os porquês, de não ter ido ao trabalho e a resposta foi de que era possível executar a função sem estar presente na empresa.

Exercer a paternidade em um contexto de home office envolve também participar de tarefas domésticas. Muitos maridos e, pais passaram a ser mais colaborativos e até ajudam nos afazeres domésticos, auxiliando a lavar a louça do almoço, por exemplo.  De acordo com uma pesquisa feita com 1.019 pais, 40% deles consideraram que a Covid-19 teve impacto positivo na paternidade, 52% estão mais conscientes de sua importância como pai e 60% se sentiram mais próximos de seus filhos. No Brasil, com a vacinação em andamento, a tendência é que a volta aos escritórios e demais locais de trabalho aconteça de maneira gradual.

Ser pai na pandemia pode ser uma oportunidade ou um desperdício da paternidade. Depende das escolhas que fizermos enquanto durar este momento esquisito da humanidade. Se a escolha é tirar proveito da situação, curtindo mais de perto os filhos, então talvez seja a maior oportunidade das nossas vidas em muito tempo. Mas se a decisão é encarar como um problema, aí é desperdiçar as chances de transformar a relação com os filhos para melhor.

De ruim, talvez só as coisas práticas, como o cansaço, a impaciência e a divisão de tempo menos clara entre o cuidado dos pequenos, a relação a dois e a rotina da casa. Mas, na essência, nada deveria ser diferente. Afinal, seus filhos são os mesmos de sempre e o seu amor por eles continua igual, ou a proximidade faça até aumentar esta sensação.  Ou seja, ninguém espera mais do que o que se deveria ser: um pai dedicado. Por isso, ser pai na pandemia é mais do mesmo. E a boa notícia é que dá para tirar proveito, apesar dos pesares.

O tal “novo normal” trouxe mais intensidade a tudo, mesmo para as coisas mais banais, como comprar comida. E isso é verdade também nas relações humanas, afinal as pessoas da família estão agora muito mais próximas (dentro de casa) e distantes ao mesmo tempo (videochamadas). Uma maluquice sem tamanho, mas a maluquice que tem para hoje. O relacionamento com os filhos entra nessa conta. Ou seja, o que já não tinha receita (ser pai), agora está ainda mais incerto (ser pai na pandemia). O mundo está de pernas para o ar, girando no espaço e com a gente dentro. Por isso, a paternidade também está mexida e tentando se encontrar em meio à nova realidade.

É certo que já deu para aprender alguma coisa, como a arrumação perfeita da casa pode esperar. E este aprendizado desde que a pandemia começou ajuda agora a vitaminar a paternidade. Um primeiro passo para aproveitar melhor a paternidade nesse momento é ter uma rotina minimamente definida. Já que se passa mais tempo em casa, com mais ansiedade, ter uma organização faz toda a diferença.

Detalhes como combinar entre todos os horários da casa (refeições, banhos, hora de dormir, estudos etc.). Também entra nesta sequência a divisão de tarefas (pôr e tirar a mesa das refeições, recolher o lixo, arrumar os brinquedos); ter uma melhor definição da hora de brincar mais clara para os pequenos; reservar um tempo para exercícios (e gastar energia); bem como a determinação de momentos coletivos (comidas, contar histórias, brincadeiras etc.) são essenciais. Com uma rotina familiar bem definida, os pequenos têm mais facilidade de entender as coisas e torna-se possível aproveitar melhor o tempo com eles.

A dedicação aos filhos é talvez o calcanhar de Aquiles desse desafio de ser pai na pandemia. Afinal, agora todos estão mais unidos fisicamente e isso precisa se refletir de verdade em uma maior intensidade no relacionamento com os filhos. De nada adianta não ter mais que perder horas no trânsito se você não consegue desligar o computador (ou a cabeça) depois do expediente. Sim, é certo que parece fácil dizer, mas é preciso prestar atenção a esses pontos. Com os pais em casa, as crianças esperam mais porque elas nunca tiveram essa oportunidade. Por isso, é preciso tentar realmente aproveitar o que o confinamento pode proporcionar.

O trabalho em casa é um dos motivos mais citados por pais e mães que têm dificuldade para dar atenção aos filhos desde de que a crise começou. O home-office é intenso, cansativo e intrometido. Afinal, ele não respeita horários em vários momentos do dia e pode atrapalhar muito a rotina da família. Não são raros casos de pessoas que passam manhãs e tardes inteiras passando da videoconferência para video-conferência por causa do trabalho remoto. E isso impacta na paternidade e na maternidade, claro.

Por isso, é importante também tentar colocar em prática melhores hábitos para este período. Entre as dicas estão detalhes como ter instantes de descanso entre as reuniões, não se irritar com as interrupções dos pequenos e respeitar os horários de começo, almoço e fim do expediente. Todo mundo sabe que não é fácil colocar tudo em prática. O ideal é tentar encontrar o melhor equilíbrio para o trabalho remoto não ser o grande vilão da sua rotina familiar.

E quando esta situação acabar? Não se sabe, mas o importante é curtir este momento de paternidade bem junto deles na medida do possível. Não é, mas ter a oportunidade de estar efetivamente mais próximo dos filhos é, sim, uma novidade que não deve ser desperdiçada. É muito provável que o mundo se recupere neste ano ou no próximo. As velhas ideias de todos trabalhando no escritório, tendo que se deslocar para isso, podem voltar. E, com elas, a rotina manjada de antes, em que estar juntos era mais difícil. A melhor relação entre pais e filhos, o desenvolvimento das crianças mais conectado aos pais e a paternidade com home office são realidades agora.

E se custou tanto a aprender nos últimos meses, então melhor aperfeiçoar em vez de abrir mão. E sem esquecer: são os filhos que agradecem. Por hora ficam os parabéns aos pais que se adaptaram ou não a nova realidade. Como já dizia o velho bordão, “não basta apenas ser pai, tem é que participar”. Parabéns a todos os papais que mesmo na pandemia estão levando a vida, numa boa.