Semelhante a outros bares e restaurantes que marcaram época em São Sebastião do Paraíso, o Bar do Padrinho tem lugar assegurado na história paraisense. Pelo frango com arroz, pela canja, arroz bife acebolado e ovo frito, que se tornaram carro-chefe e tantos outros pratos, mas principalmente pela forma de atendimento e o tempero humano, que é marca registrada de Lionir Rodrigues da Costa, o Padrinho.
Lionir trabalhou em marcenaria e farmácia (aplicou injeções indo à casa de quem estava doente). Trabalhou em indústria de calçados. Um dia resolveu deixar de ser empregado. Começou com um bar pequenininho onde, segundo ele, cabiam três clientes, “um comodozinho de três por dois metros na rua Heloisa, Vila Santa Maria, onde atualmente é sua residência. “Não me lembro a data, mas faz mais de 40 anos”, disse.
Explica que “era um botequinho”, e foi onde ganhou mais dinheiro. Peguei época de inflação, crises violentas na economia (Plano Cruzado, Cruzeiro, falta de produtos. Enquanto preocupavam com a falta, eu fui estocando mercadorias. Deixava minha mulher (Luzia Rodrigues) tomando conta do bar e enfrentei outros serviços. Trabalhei recebendo café de apanhadores na fazenda do Juarez Pedroso Gonçalves, e por mais de dois anos na Fábrica de Calçados Cacique. Todo dinheiro que ganhava, empregava no bar.
Houve época que faltavam mercadorias, principalmente bebidas, e eu conseguia comprar bastante, cervejas de diversas marcas, tinha facilidade em adquiri porque sempre andei certo, afirma.
Padrinho recorda que um belo dia foi à Casa Brasil que revendia produtos Antártica e solicitou que Dona Sebastiana lhe enviasse alguns produtos. À tarde parou um caminhão na porta do bar e “foram descendo muitos engradados”. Vendo sua preocupação o entregador lhe informou que Dona Sebastiana pediu para lhe dizer que ele teria prazo até na semana seguinte para efetuar o pagamento.
Como faltavam cervejas em diversos bares, e no do Padrinho havia estoque de sobra, o número de clientes foi aumentando. “Vinham de todos os bairros para o meu botequinho. Tomavam o quanto queriam, mas eu não vendia para que levasse para casa. No começo éramos eu, minha esposa e minhas filhas. Minha mulher fazia salgados muito bem, de primeira qualidade, além de petiscos, língua, beiço de porco, suã, costelinha, tudo isso era feito. Eu que sempre tive muitos amigos, ampliei a amizade e o número de fregueses”, explica Lionir.
O espaço estava pequeno para o atendimento e o bar foi transferido para um cômodo nas proximidades, e também se tornou sorveteria, onde anteriormente havia a eletrônica do Canarinho. Tempos depois mudou-se para a rua Geraldo Marcolini, 1551, onde se expandiu ainda mais.
Padrinho começou servir refeições numa época de carnaval. Era uma canja reforçada para os foliões que varava a noite até o amanhecer. “O Tião, do Original, tinha o Bate Papo, e trazia clientes para mim. O cômodo era grande. Comprei mesinhas metálicas daquela da Coca-Cola, fui ficando conhecido “e pegou geral, graças a Deus”, diz Lionir.
O cardápio foi sendo ampliado aos poucos, arroz com frango, com bife, sanduiches carne e queijo, o mexidão, JK, parmegiana, pratos mais sofisticados. Refeições passaram ser servidas no almoço. Fui melhorando as instalações. Nosso ambiente é frequentado por pessoas de todas as classe sociais. Pobre, rico, para mim são todos iguais. E se chegar um mendigo, será bem tratado da mesma forma, salienta.
Perguntado de onde surgiu o nome “Padrinho”, Lionir disse que sempre teve apelidos, um para cada época de sua vida. E fazia que o apelido pegasse. No restaurante comecei brincar com crianças que iam acompanhando seus pais. Eu as chamava de padrinho, e madrinha. Aquelas crianças foram crescendo e passaram me chamar de Padrinho. Hoje já têm seus filhos, que também carinhosamente assim me tratam, “e pegou geral”.
Há algum tempo, os filhos se integraram de vez ao Bar do Padrinho. Lesler e Leslí, diariamente, Lenilson e Luciene como free lancers além de nove funcionários. “Os filhos todos passaram a me ajudar, são pessoas em que posso confiar”, afirma.
Por conta da pandemia, Padrinho restringiu suas atividades “Afastei-me porque a gente tem que respeitar. Não podemos agredir essa doença que ela nos agride. Tenho evitado. Ultimamente faço serviços fora do bar, mas às vezes vou lá um pouco. Quando a pandemia terminar voltarei, porque gosto. Trabalhar para mim é hobby. Gosto de estar “com o povão e as minhas crianças que adoro. Criança para mim é o céu”.
Por conta das restrições nesse período, o bar esteve fechado por alguns dias. Lionir salienta que deu férias coletivas e não demitiu funcionários, “mesmo ficando três meses no vermelho porque a pandemia não nos deixou ganhar”. Aguentei as pontas, demitir funcionários num período desses, no meu ponto de vista seria covardia, opina.
“Tenho só elogios, sempre me deram apoio e atenção, sempre fui convidado a participar e participei. É um local agradável que nos trata bem”, disse Lionir sobre a Associação Comercial, Industrial, Agropecuária e Serviços.
Lionir Rodrigues da Costa herdou o gênio alegre e expansivo de seu pai, senhor Braulino, que muito trabalhou por Paraíso. E esse é outro ponto comum entre pai e filho, porque Lionir também começou trabalhar bem cedo.
E com todos os méritos, pelo cidadão paraisense exemplar e comerciante que tem escrito seu nome na história do município, que chega ao seu bicentenário, Lionir Rodrigues da Costa, o Padrinho, foi homenageado em 2017 pelo Rotary Club com o título de “Pai do Ano”, e pela Câmara Municipal com a Ordem do Mérito Municipal.
“Quero que meus clientes sejam muito felizes, e desejo o fim desta pandemia para podermos viver em liberdade novamente, e todos torcendo para o Corinthians que é uma dádiva divina” diz Padrinho, não perdendo a oportunidade de reverenciar o time de seu coração.
Brincadeiras a parte, ele frisa que toda vida fui popular. E conclui: “Se alguém não gosta de mim, está perdoado, eu não tenho inimigo”.