Autenticidade, extroversão, bom humor. Talento, dedicação e disponibilidade. No artesanato, arte que domina muitíssimo bem, a paulistana Rosê Marí Barbeta poderia ser definida como patchwork. Tal qual a colcha de retalhos, ela reúne diversas facetas, costuradas ao longo do caminho. Arlequina, com seu traje feito com tecidos multicoloridos, também seria uma boa definição para "aquela que nos mata de rir", nas palavras de seus amigos. Seja se jogando no chão, qual soldado camuflado, para atender ao pedido de um amigo para fotografar "discretamente" um evento ou se fantasiando de "noivo" na festa junina, estar em sua companhia é garantia de sorrisos e gargalhadas. Para celebrar seus bem-vividos 63 anos, comemorados neste 22 de agosto, Rose desvela as páginas do livro de sua vida.
Rose, nos conte sobre suas origens. Algum fato especial marcou sua infância?
Nasci na Vila Esperança, zona leste de São Paulo, filha de Antonio Barbeta e Helena Durlo Barbeta (ambos falecidos). Éramos em sete irmãos, sendo dois já falecidos. Sempre estudei em escolas estaduais, com exceção da faculdade. A minha infância foi marcada por muitos fatos, já que eu era muito levada e arteira. Mas uma lembrança muito nítida é meu pai e minha mãe dançando “Boneca Cobiçada” (Euclides Pereira Rangel/Sebastião Alves da Cunha).
Como era a cidade de São Paulo na sua juventude? Sente saudades dessa época?
A cidade era muito tranquila. A maioria das pessoas andava a pé e as ruas nos bairros ainda não tinham asfalto. Íamos sozinhos para a escola, que não era perto, mas não tinha perigo como hoje. Sinto saudades de jogar bola e empinar papagaio com meus irmãos no campinho que tinha perto de casa. Também foram eles que me ensinaram a assoviar com dois dedos na boca! E de “brigar” de boneca com minha irmã caçula! (risos).
Você é formada tradutora e intérprete em quais línguas? Por quais empresas passou e como era desempenhar este trabalho?
Inglês e Francês. Ser tradutor e intérprete (em cabine) não é fácil. É um trabalho muito solitário. Não era a “minha praia”. Eu gosto de gente, estar com gente. Então, aproveitei meu conhecimento e trabalhei como secretária executiva bilíngue na diretoria de empresas multinacionais como a CGEE ALSTHOM do Brasil, Deustch Zudamerikanische Bank e Banco Europeu para a América Latina.
Você já morou fora do Brasil?
Sim, por duas vezes. Morei na França (Paris) e nos Estados Unidos (Indianapolis). Fiquei um ano em cada lugar, em épocas bem diferentes da minha vida, mas sempre só estudando para aperfeiçoar meus conhecimentos. Foram experiências valiosas que me ajudaram muito a ser a mulher independente que sou.
Paralelo a isso, você sempre apreciou todo tipo de arte. De onde vem esse interesse?
Acredito que venha, principalmente, do tempo que morei em Paris e da minha formação como tradutora e intérprete. Você não escolhe o que vai traduzir/interpretar. Você precisa ter cultura geral. Ler muito, prestar atenção como as pessoas se expressam, conhecer expressões idiomáticas... Sempre gostei de pintura e sempre morri de amores pela arte de Van Gogh e sua história. As outras artes só foram acrescentando.
Hoje você desenvolve um trabalho relacionado ao artesanato. Como surgiu o Ateliê Pau de Canela e o que ele oferece de diferente?
O Ateliê surgiu da necessidade que tive de uma terapia ocupacional. O diferencial do Ateliê são os trabalhos personalizados. Faço desde um pano de prato até bolsas e malas para maternidade. Outro diferencial é que como atuo sozinha, não pego trabalho para enlouquecer, mas o suficiente para me manter ocupada e fazer tudo com muita qualidade, carinho e profissionalismo, além de sempre me atualizar.
A pandemia a afetou pessoal e profissionalmente?
Na verdade, no início da pandemia, as informações eram bem desencontradas, soltas.... Ninguém sabia ao certo o que fazer, mas tínhamos que ficar em casa. E eu fiquei bem, porque amo ficar em casa. Mas o fato de não poder mais ir a São Paulo ficar com minha família, me fez sofrer muito. Com relação ao Ateliê, foi um ano de muito trabalho. Muitas máscaras e porta máscaras. E daí surgiu uma parceria, mantida até hoje, com o Estúdio de Dança Daniela Prado. Faço as máscaras personalizadas (infantil e adulto), as lembrancinhas das aniversariantes, porta álcool em gel, necessaires e o que mais a Dani precisar.
Você também é uma grande apreciadora de vinhos. Além do prazer que a bebida traz, o que mais você destacaria para quem tem vontade de se aventurar na enologia?
No início da pandemia comprei uma pequena adega climatizada e fiz uma assinatura de vinho. Eu não entendo nada de vinho, até porque acho um assunto muito difícil. Tem a questão da safra, do tipo de uva, a região, etc. Coisa demais. Então, tomo uma taça de vinho todas as noites como memória afetiva de meus avós, imigrantes italianos da Sicília e Calábria. Mas o Casillero del Diablo (chileno) e, agora, o Altos de Tamaron (espanhol), são meus preferidos.
Rose, além do vinho, você tem outros hobbys?
Sim! Cozinhar! Gosto de preparar minha comida. Inclusive, o pão, o iogurte, as geleias, o pão de queijo, etc. Gosto de receber as amigas em casa (agora, já está sendo possível), então sempre estou procurando alguma receita diferente.
Como você veio para Paraíso? O que mais aprecia em nossa cidade e o que acha que poderia melhorar?
Vim para Paraíso acompanhando meu primeiro marido. Após o falecimento dele, eu já tinha emprego fixo e acabei ficando porque gosto demais da conta de ser mineira! (risos). Gosto da cidade por tudo. Aprendi a viver fora de São Paulo e me adaptar. Acredito que a cidade já está bem melhor do que era há 23 anos, quando cheguei aqui. E creio que essa administração tem se esforçado para realizar um trabalho digno.
Você é uma mulher de fé?
Sim. Não acredito que eu sozinha possa qualquer coisa nessa vida. Preciso de Deus! Não consigo me imaginar sem Deus. E a minha fé me faz enfrentar as coisas acreditando que “o que não é bênção é livramento”.
Indique um livro, um filme e um disco inspiradores.
Indico o livro “O Menino do Dedo Verde” de Maurice Druon. Filme, são três: “Les uns et les outres” (Retratos da Vida, de Claude Lelouch), “Em algum lugar do passado” (Jeannot Szwarc) e “Casablanca” (Michael Curtiz). Como música, “Andan-ça” (Danilo Caymmi/Paulinho Tapajós) na voz da Beth Carvalho e quando meu humor está lá no pé, “Carmina Burana” (Carl Orff) no maior volume! (risos).
Viajar é outra de suas paixões. Que local indicaria para alguém que quer conhecer um lugar inesquecível?
Já visitei dezessete países, mas Paris sempre será o meu lugar preferido. Paris é cultura, igrejas, museus, jardins maravilhosos, sonho, romantismo, música, boa comida, vinhos...
Rose, qual seu maior sonho?
Hoje eu só quero que a pandemia acabe, para poder abraçar algumas pessoas bem apertado!