Aos 38 anos a paraisense Rejane Aparecida Dias tem o violino como extensão de seu corpo e personalidade. Seja abrilhantando os eventos em que se apresenta ou ao ensinar o instrumento a seus alunos, Rejane crê no poder transformador da arte e da Educação. Oriunda de uma família de musicistas, a filha de Maria Aparecida Dias e João Machado Dias, irmã de Renata e Rodrigo, acalenta o sonho de ver sua arte reconhecida e a cidade valorizando ainda mais seus artistas e talentos.
Rejane, a música sempre esteve presente em sua casa? Qual a primeira memória musical que você guarda?
Sim, sempre esteve. Meu avô materno sempre tocou acordeon e violão. Achava e ainda acho o acordeon um dos instrumentos mais fascinantes! Minha intenção era aprendê-lo, só que anos depois meu avô acabou o vendendo. Na adolescência meu irmão começou a aprender violino e quando o vi, foi amor à primeira vista!
Como foi seu tempo de escola?
Sempre gostei muito de estudar. Tentava sempre ser a primeira da turma, não sei se era, mas me esforçava para ser. Estudei sempre em escola pública, todos os mestres que passaram na minha vida escolar foram importantes!
Por que escolheu o violino como seu instrumento?
Porque o violino é um instrumento que instiga quem o toca. Meu professor sempre me dizia que era o violino quem escolhia seu tocador e não o contrário. Um instrumento que exige disciplina e persistência, isso sempre me chamou muita atenção.
E como a música entrou profissionalmente na sua vida?
Tudo começou quando comecei a ter aulas com meu irmão Rodrigo Dias que também atua como professor de música. Ele me incentivou a estudar em Ribeirão Preto. Lá estudei violino por dez anos com o spalla da Orquestra Sinfônica de Ribeirão Preto, Petar Vassilev Krastanov. Depois estudei com a professora Íris Goulart, no polo São José do Rio Pardo do Conservatório Dramático e Musical de Tatuí “Dr. Carlos de Campos”.
Quais suas principais influências na música?
Sempre gostei muito de assistir aos concertos de Sarah Chang e Itzhak Perlman, que são violinistas renomados. Também me chamaram atenção bandas que utilizam o violino em suas músicas como Sigur Rós, The Frames, Liah e Hugar.
Sabendo que não é fácil viver de arte em qualquer tempo, como tem sido pra você pessoal e profissionalmente, vivenciar essa pandemia?
Infelizmente o setor musical sofreu bastante com essa pandemia. Minha carreira musical é mais voltada às aulas particulares e também toco em casamentos. Quanto às aulas particulares, o impacto foi menor, pois são individuais. Agora quanto aos eventos, foi assustador pra mim. Tinha casamento quase todo final de semana, com a pandemia toquei no máximo em cinco no ano passado.
Recentemente celebramos o centenário de nascimento de Paulo Freire, educador respeitado mundialmente. Como pedagoga, como você vê a Educação atualmente e a tentativa de desqualificar ícones como ele?
Penso que a elite de extrema direita quer apagar as honrarias desse homem, sendo que a maioria não compreende nem estudou as obras freirianas. Ele criou, por exemplo, o método para alfabetização de adultos. Sobre o momento atual, tentam culpá-lo pela situação da Educação do Brasil, mas as causas são estruturais, excludentes e não culpa das ideias desse grande pensador.
Rejane, em sua opinião Paraíso e nossa população valorizam a cultura?
Não generalizando, não só em nossa cidade, mas no Brasil, a arte é vista como “dispensável”, algo apenas para divertir. A arte educa, amplia a sensibilidade e percepção.
São Sebastião do Paraíso se aproxima de seu bicentenário. Que presente gostaria de dar para nossa cidade?
Eu daria mais oportunidades de acesso à cultura. Gostaria também de deixar um legado de pessoas que amam música e arte no geral.
Quais projetos musicais você já fez parte? E atualmente, de quais participa?
Fiz parte do musical do nosso querido Tullio Costa e do Adriano Lima (Lua Cheia – O Galo Socorro). E que projeto maravilhoso! Atualmente toco no grupo para casamentos do Luciano Altran, que é um grupo de um nível alto como músicos. Sinto-me honrada por fazer parte! Cada ensaio é uma aula para mim. Tornaram-se grandes amigos e parceiros de vida e música.
Há cerca de três anos, a cantora lírica Denise Gonzaga promoveu alguns concertos em igrejas de nossa cidade, reunindo músicos de diversos estilos e arrecadando doações para entidades beneficentes. Pra você faltam mais iniciativas como essa?
Sem dúvida. Denise foi muito corajosa e louvável sua iniciativa! Todos os envolvidos ajudaram em trabalho de “formiguinhas”, posso dizer. Quem sabe quando tudo voltar ao normal, exista a possibilidade de se realizar novamente eventos assim.
Rejane, no que você acredita? O que te move?
Me move ver a bondade das crianças, por exemplo aquelas para as quais dou aula. É ver uma pessoa cuidando de um animal de rua ou quando presencio alguém tratando por igual uma pessoa em situação de rua. Pode parecer “clichê” mas ainda sigo acreditando no amor fraternal e no respeito ao próximo.
Como professora, o que diria para quem sonha em aprender a tocar o violino ou outro instrumento?
A música é um aprendizado sem fim. Quando pensamos que chegamos lá, ainda não chegamos nem no meio. Acho que todos deveriam tocar algum tipo de instrumento, não interessa o motivo, quer seja profissional ou por diversão. Como profissional diria que é preciso ter paciência, disciplina, perseverança e sempre acreditar que é possível.
Rejane, qual seu maior sonho?
Poder viver apenas da música e ser reconhecida por isso. Viver dela e por ela.