PARAÍSO 200 ANOS

Pioneirismo, ciência e muito trabalho levam o abacate de Paraíso para o mundo

Aproveitamento de 100% da fruta rende azeite, cosméticos e até inseticida
Por: Heloisa Rocha Aguieiras | Categoria: Entretenimento | 28-10-2021 05:44 | 5465
Engenheiro agrônomo José Carlos Gonçalves
Engenheiro agrônomo José Carlos Gonçalves Foto: Reprodução

“A gente nunca para de sonhar, pois sonhar é viver”. Essa frase é do engenheiro agrônomo José Carlos Gonçalves e é o ponto de partida para o seu negócio, que tem crescido a cada dia – a Flor de Abacate e a marca Paraíso Verde.

Há cerca de seis anos, José Carlos, maior produtor do país de abacate da variedade Breda – a predileta dos brasileiros – tinha o sonho de acabar com o desperdício da cultura, dando destino aos frutos que, com defeitos, não podiam ir para o mercado. Hoje, com a sua marca e produtos patenteados, autorizados pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e registrados na FDA (Food and Drug Administration/Estados Unidos), José Carlos diz que a realização do seu sonho veio com um grande projeto transformador.

Com uma produção média de 4 a 5 mil toneladas por ano, o engenheiro agrônomo abastece o mercado de abacate do Oiapoque ao Chuí, literalmente. A variedade Breda é exigente, requer cuidados a mais em relação a outras variedades da fruta, com pomar plantado em 600 hectares de área, em sete propriedades diferentes, em São Tomás de Aquino, Jacuí, Cássia, Ibiraci, em São Sebastião do Paraíso e uma em Cajuru (interior de São Paulo). Propriedades que geram a própria energia, reutilizam água da chuva, reutilizam madeira (lenha é oriunda das podas no cafezal e nos abacateiros) e trabalham de maneira sustentável ambientalmente.

Essa distribuição da produção por vários outros municípios forma uma rede no entorno de São Sebastião do Paraíso que, segundo José Carlos, dificulta um pouco a administração do negócio, mas facilita o escoamento da fruta para todo o território nacional.  O centro de gestão e a fábrica, no entanto, estão em Paraíso. “Um dos meus objetivos é sempre levar o nome da cidade para onde os produtos forem”, diz ele.

O azeite de abacate
Em 2014, em parceria com a Epamig (Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais), fez a primeira extração de 100 litros do azeite de abacate para testar o maquinário que até então havia instalado.

Para começar a realizar seu sonho, José Carlos Gonçalves passou a estudar muito mais do que já o fazia normalmente. Viajou muito e se cercou dos melhores especialistas em farmacologia, química, em bioquímica, engenharia e tantos outros profissionais que formam sua equipe. Somado a eles está a família – “trabalhamos todos juntos: minha mulher, meu filho, minha filha e até minha nora, que deixou o consultório de fonoaudiologia e há dois anos contribui conosco. Minha filha mora nos Estados Unidos e está abrindo caminhos por lá, obteve até o registo na FDA”, conta ele, orgulhoso.

Para fazer o azeite, enfrentou uma série de problemas que foram surgindo ao longo dos anos e de toda a implantação da atividade. “Tivemos que aprender a desenvolver os produtos e, para isso, tivemos que aprender também a desenvolver processos, a desenvolver modos de gestão e muito mais. É preciso humildade para entender que nessa vida aprendemos todos os dias e foi assim que chegamos até aqui”. O resultado é uma indústria que possui equipamentos totalmente nacionais.

O “até aqui” a que se refere José Carlos inclui um contrato de fornecimento do azeite extravirgem de abacate com a rede de supermercados Pão de Açúcar, que vai revender o produto em todo o Brasil. E o desenvolvimento, por meio de tanto estudo e pesquisa, de mais produtos que podem ser extraídos do abacate, como, por exemplo, a farinha comestível feita com a polpa.

“Pioneirismo custa caro, desenvolver essa tecnologia foi muito difícil e estamos aprimorando ainda. Temos consultores nos atendendo constantemente, estudos e investimentos permanentes”, conta ele.

E como uma coisa levou à outra, os estudos sobre os produtos possíveis do abacate levaram à produção de uma linha de cosméticos, também feita com o azeite, com creme hidratante para as mãos e corporal, sabonete líquido facial, creme nutritivo para o rosto, hidratante labial, manteiga corporal, sabonete tradicional e muito mais. A fruta é rica em vitaminas A, E, em ômegas, e é poderoso antioxidante, qualidades fundamentais na cosmética, tendo a Coréia como um cliente poderoso em um futuro próximo, país com larga experiência na indústria cosmética de alta qualidade.

E os estudos não param. Estão sendo desenvolvidos três tipos de maionese feitos, claro, com abacate: o convencional, o light e o vegano. Já foram enviadas ao Japão amostras de azeite comestível em pó, a pedido daquele país. Há planos de fabricar manteiga de abacate.

E como José Carlos sempre trabalhou para que a fruta fosse inteiramente aproveitada e para que não haja nenhum tipo de desperdício nos processos, está também sendo desenvolvido um inseticida, totalmente natural, feito com o caroço de abacate. Inicialmente, deve ser utilizado como formicida, mas possivelmente será potente para controle de outros insetos.

 

O que é que o azeite de abacate tem?

O azeite do abacate possui enzimas e ômegas 3 e 6 que combatem a leucemia, outros tipos de cânceres e protege a próstata. O abacate contém mais luteína que qualquer outra fruta e essa substância é importante para prevenir catarata e a degeneração macular; tem também vitaminas A, B6, C e E, que são fundamentais para proteção da vista. A luteína também é capaz de melhorar o raciocínio. As taxas de vitamina E encontradas na fruta são capazes de controlar os níveis de açúcar no sangue e ajudar a combater o envelhecimento precoce.

O ácido oleico que existe no azeite de abacate é uma gordura boa que ajuda a reduzir o colesterol ruim (LDL) e a aumentar o colesterol bom (HDL). Tem também uma substância chamada betasitosterol, que auxilia a manter em dia a saúde do coração. Ainda seus lipídios, vitaminas, ácidos graxos, ômegas e antioxidantes alimentam a produção de células de defesa, fortalecendo a imunidade e tem propriedades cicatrizantes. Tem poder de fornecer saciedade, ajudando quem precisa fazer dietas para perda de peso.

Por tantas potencialidades, José Carlos diz que há ideia de buscar parcerias com a indústria farmacêutica. “O abacate está dominando o mundo, porque se descobriu que ele é como um elixir de longa vida. Há inúmeras aplicabilidades na medicina, para manutenção da saúde e na cosmética. É uma fruta muito versátil e seus benefícios são incontáveis”, ressalta o engenheiro agrônomo.

José Carlos acredita que há muito ainda por fazer, mas, para ele, incentivo é o que não falta: “Estou descobrindo coisas que jamais pensei que iria conhecer e com muita empolgação. Tenho 80 anos e necessito me atualizar sempre, é um desafio bom e muito prazeroso trabalhar com produtos saudáveis e poder auxiliar na saúde das outras pessoas”.

Por ocasião de sua visita a Paraíso no início do mês, o governador de Minas Gerais Romeu Zema e sua equipe estiveram na empresa Paraíso Verde, sendo recepcionados pelo proprietário José Carlos Gonçalves e seus colaboradores. O governador elogiou a produção de azeite do abacate e todas as instalações que chamou de “muito bem estruturadas. É um mercado promissor, hoje quase inexistente, e que pode dinamizar o agronegócio na região”, disse.

Por ocasião de sua visita a Paraíso no início do mês, o governador de Minas Gerais Romeu Zema e sua equipe estiveram na empresa Paraíso Verde, sendo recepcionados pelo proprietário José Carlos Gonçalves e seus colaboradores.