PARAÍSO 200 ANOS

Paraíso dos escritores

Por: Reynaldo Formaggio | Categoria: Agricultura | 25-10-2021 21:49 | 1655
Foto: Reprodução

Revisitar a história através de seus registros é fundamental na construção da identidade de um povo. Atas, documentos, fotografias, objetos, relatos, jornais, revistas, livros. Vários escritores deixaram sua contribuição à cidade com a publicação de suas obras. Um dos pioneiros foi o advogado e político José de Souza Soares. Em 1922 Souza Soares publicou “Notícia Histórica de São Sebastião do Paraíso” (Casa Espíndola, São Paulo). A obra contempla os 100 primeiros anos do município, completados no ano anterior, e também o primeiro centenário da Independência do Brasil. Souza Soares também publicou, além de diversas obras jurídicas, “São Sebastião do Paraíso e sua história” (Editora Panamericana, Rio de Janeiro, 1945), fundamental na compreensão da formação da cidade.

Livro de Anajá Caetano

Antonieta Símaro Morato Campos foi uma vanguardista. Primeira mulher a concorrer ao Executivo Municipal, a acadêmica legou vasta contribuição literária. “Figuras, Figurinhas e Figurões”, “Caleidoscópio”, “Maria Chiquinha” e “Vidas Marcadas” são alguns dos títulos deixados em sua longa e profícua trajetória.

Tantos nomes deixaram suas obras registradas e, através delas, permanecem vivos para quem desfrutou de suas convivências e também estão presentes entre aqueles que cultuam e valorizam a história. Para preservar a memória desses escritores bem como homenagear aqueles que, entre nós, continuam a atuar para a conservação da memória historiográfica do município, uma data foi criada para marcar esta valorosa contribuição.

Desde 2013 a Festa do Escritor Paraisense é promovida pela Academia Paraisense de Cultura. A entidade escolhe um autor vivo e outro que recebe homenagem póstuma, para que representem e homenageiem todos os escritores paraisenses. A festa ocorre sempre na primeira quarta feira de julho, no Dia do Escritor Paraisense, data que faz parte do calendário oficial do município. O primeiro homenageado foi o médico de saudosa memória Dr. Arley Preto Gomes - idealizador do projeto de incentivo à leitura “Farol Literário”. Também já foram homenageados nomes como o fundador da APC Olavo Borges, José Paes, Conceição Borges Ferreira, Fábio Mirhib, Luiz Ferreira Calafiori, Aníbal Deocleciano Borges, Sebastião Pimenta Filho, Edmeé Amaral, Dalila M. Cruvinel, Bernadete Aguiar, Ary de Lima, Maria Rita de Cássia Preto Miranda e Noraldino Lima. Em 2021 as festividades ocorreram de forma remota, devido à pandemia de covid-19, e foram homenageados a poetisa Eliana Mumic Ferreira e, postumamente, o médico e acadêmico Dr. Urias Soares de Moraes.

Romancistas, cronistas, poetas, contistas, jornalistas. Livros técnicos, infantis, históricos, memórias, biografias. São dezenas de paraisenses a compor o rol de escritores com obras publicadas. Cada qual contribui enormemente para a cultura de nossa cidade e seus realizadores, com suas ideias e ideais, inspiração para criá-las e transpiração para publicá-las, permanecem vivos a cada página virada.

José de Souza Soares (1885-1954)

O advogado e acadêmico Luiz Ferreira Calafiori deu sequência ao legado de Souza Soares publicando cerca de 30 obras relacionadas a temas relevantes da cidade e região, com destaque para as cinco edições de “São Sebastião do Paraíso – História e Tradição”, publicadas entre as décadas de 1970 e 2010. O professor e cronista Luiz Carlos Pais, além de obras voltadas à matemática, também contribuiu com obras históricas como “História recente de São Sebastião do Paraíso”, compreendendo o período entre 1933 e 1964, e “História da Educação em São Sebastião do Paraíso”, ambas publicadas na década de 2010. Outros nomes importantes com títulos publicados são os do professor Tabajara Pedroso, Ary de Lima e Noraldino Lima. Este último, além de sua premiada obra literária, foi presidente da Academia Mineira de Letras e, por um curto período, interventor do Estado, cargo equivalente a governador.

Luiz Ferreira Calafiori (1934)

Anajá Caetano é outra escritora que merece lugar de destaque na galeria dos autores paraisenses. Uma das primeiras escritoras negras a publicar no Brasil, sua obra “Negra Efigênia – paixão do senhor branco” (Edicel, São Paulo, 1966), até hoje é objeto de estudo nos meios acadêmicos. Além da ligação com a família de José de Souza Soares, pouco se sabe sobre a vida da autora. Ainda em seus primeiros anos de vida e antes de migrar para São Paulo, Anajá teria convivido com o escritor na casa onde sua mãe trabalhava. Souza Soares inclusive contribuiu com um texto para o referido livro.

José de Souza Soares (1885-1954)
Luiz Ferreira Calafiori (1934)