O Brasil entrará, nesta quinta-feira, no mundo tecnológico mais avançado no setor das telecomunicações, com o leilão, pela Anatel, das radiofrequências utilizadas para a implantação da quinta geração da telefonia celular, o 5G. Isso representa não só uma comunicação mais rápida, no telefone e na internet, mas uma revolução nos setores da medicina, da agricultura, da segurança pública, da educação, da defesa nacional e nos mais variados serviços à disposição da humanidade.
O martelo que bateu no leilão da privatização da Telebrás, em 29 de julho de 1998, na Bolsa de Valores do Rio, vai ser retirado do Museu da Anatel pela segunda vez. O leilão que marcou o fim do monopólio estatal da telefonia, no Governo FHC, arrecadou 22 bilhões de reais. A expectativa é de que o leilão do 5G arrecade mais de dez bilhões de reais (sete em obrigações de investimentos). O martelo desta vez será brandido pelo superintendente de Competição da Anatel, o engenheiro Abraão Balbino e Silva, presidente da Comissão Especial de Licitação do 5G.
No quadro de horror da pandemia, a martelada do 5G é a única boa notícia econômica dos últimos tempos. Tanto assim que estarão presentes na abertura do leilão as mais representativas figuras dos três poderes da República, a começar pelo presidente Bolsonaro.
O leilão será realizado a partir das 10h na sede da Anatel, em Brasília, com a participação de grandes, médias e pequenas empresas, nacionais e estrangeiras, que usam a tecnologia digital como ferramenta de trabalho. O Brasil é o primeiro país da América Latina a entrar nesse novo mundo, ao lado de poucos países da Europa e os Estados Unidos.
Muitas emoções nas marteladas do leiloeiro. Entre os lotes de radiofrequências que serão oferecidos ao mercado de telecomunicações, o mais ambicionado é o de 700 Megahertz, de abrangência nacional, que possibilita a entrada de novos operadores no Brasil, se eles tiverem bala na agulha, através de fundos estrangeiros em parceria com brasileiros. Portanto, a expectativa é grande. Atualmente, a abrangência nacional está nas mãos da Vivo, Tim e Claro (a OI está sendo vendida para essas três operadoras).
Entretanto, a principal faixa de frequência a ser ofertada é a de 3,5 Gigahertz. É uma frequência abundante no espectro radioelétrico brasileiro, não se esperam grandes disputas, pois certamente haverá acomodação entre os compradores, disseram-me os especialistas. Mas, acrescentam: como novos players apostam suas fichas na prestação de serviços regionalizados diferenciados, para concorrer com as grandes operadoras, essa opinião pode não prevalecer, e então haverá emoções em lances para lotes regionais.
O leilão do 5G só foi possível graças a um mutirão de técnicos dos setores públicos (sobretudo da Anatel) e privados que há anos trabalham para a implantação desse avanço tecnológico. Gente jovem. No setor privado, destaque para as pesquisas de campo, realizadas em vários pontos do país pelas grandes operadoras nacionais de telefonia, para testar a “internet das coisas” (sua aplicação na agricultura, na telemedicina, na educação, na segurança etc.) e a velocidade da resposta ao comando quando se tecla o celular. Como eu gosto de dar nome aos bois, pedi aos especialistas que dessem rostos no mutirão dos “pais do 5G brasileiro”.
Eles foram unânimes em apontar: o economista Carlos Baigorri (foto), e o engenheiro Abraão Balbino e Silva (foto). Eles coordenaram desde o ano passado a elaboração do edital do leilão, um calhamaço do tamanho dos catálogos de telefone fixo de antigamente. Baigorri é conselheiro da Anatel e foi escolhido relator do processo; e Abraão é o superintendente de Competição da agência e presidente da Comissão de Licitação, o cara que vai bater o martelo no leilão. Outra figura deu uma ajuda inestimável para aperfeiçoar o projeto do 5G, o ministro Raimundo Carreiro (foto), do TCU, que introduziu no edital um item de enorme importância social: a obrigação de os vencedores dos diversos lotes de radiofrequência colocarem internet rápida e grátis nas escolas públicas do Brasil. Palmas para o ministro Carreiro!