A chuva se transformara em tempestade e logo foi preciso parar no acostamento. Ventava muito. Então, Neide observou um bambuzal que se envergava em direção ao solo, se dobrava fortemente, mas logo estava de volta a sua posição inicial. Ali, concluiu que se enxergava como um bambu. Vez ou outra era testada e a flexibilidade, inerente ao seu ser, a fazia cada vez mais forte. Neide Aparecida Guerini Pimenta é mulher resiliente, grata e de muita fé. "Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina". Cora Coralina por sinal é uma inspiração para nossa entrevistada. Dos seus 70 anos bem vividos, 25 foram dedicados à Educação. Nas próximas linhas, Neide generosamente compartilha as lições que a vida tratou de ensiná-la, e como toda boa mestra, passa a lição adiante.
Neide, nos conte sobre seus primeiros anos.
Sou filha de Geraldo Guerini e Invência Martins Guerini. Nasci em Guaxupé e fui registrada em Juruaia. Papai trabalhava como técnico em laticínios e em função disso nos mudamos diversas vezes. Não fui de brincar muito com outras crianças, devido a estas mudanças recorrentes. Sou a mais velha de três irmãs, depois de mim vieram a Nilza e Maria José, a Zezé. Morando no Paraná estudei em colégio interno e os horários eram rígidos, deste modo me tornei muito disciplinada.
Sempre quis ser professora? Teria outra profissão?
Minha avó paterna, Josephina Stanganelli, teve uma escola particular em São Paulo e tinha muita admiração por ela. Então a opção profissional foi muito natural. Penso ser vocação mesmo. Gosto muito de criança, sempre tive jeito com adolescentes. O magistério é um desafio e aprendizado constantes. Sempre gostei de me reciclar, atualizar, fiz muitos cursos. Nunca pensei em exercer outra profissão.
Qual sua formação e em quais escolas lecionou?
Estudei em muitos lugares e concluí o Curso Normal no Colégio Cristo Rei em Uberaba. Estagiei em escolas de educação especial, trabalhei na zona rural em classe multisseriada, aprendi o método Montessori de ensino... Já em Paraíso lecionei nas escolas São João da Escócia, Interventor Noraldino Lima, Ana Cândida de Figueiredo, Nesfa e também dei muita aula particular. Me aposentei como coordenadora disciplinar no Colégio Paula Frassinetti, encerrando a carreira da qual me orgulho muito, por ter contribuído com a alfabetização e educação de meus queridos alunos.
Certamente a senhora encontra com muitos de seus alunos. Como é essa relação?
É uma festa! Aqui em Paraíso são muitos. Médicos, advogados, funcionário da Cemig, operador da bolsa de valores e também professores. Todos têm muito respeito por mim. Tenho muito orgulho dos meus alunos! Estão brilhando! Gratidão.
Como a senhora enxerga a Educação atualmente?
Tem professor que dobra ou triplica sua jornada de trabalho para ter uma vida digna. Deveríamos valorizar mais e pensar melhor a profissão de educador.
Nos conte sobre a família que constituiu.
Havia morado cerca de 15 anos em Paraíso quando meu pai trabalhou na Coolapa. Já namorava meu futuro marido quando minha família se mudou novamente. Em 1976, pouco tempo após minha formatura em Uberaba, me casei com o Luiz Antônio Pimenta, mais conhecido por Léo. Nossa lua de mel foi no Uruguai e na Argentina e guardo grandes lembranças dessa viagem! Na sequência, voltei para Paraíso. Me considero paraisense de coração. Temos uma filha maravilhosa, a Camila, que junto ao genro Marcus, nos deu duas joias, as netas Mariana Maria e Maria Júlia. Eles são tudo pra mim!
É do tipo avó meio mãe, que orienta e corrige, ou avó permissiva, em que pode tudo e os pais que eduquem?
De modo geral deixo a educação para os pais, que são excelentes, as meninas são muito educadas, independentes e determinadas. Mas também as oriento, já que passamos muito tempo juntas. Faço tudo por elas, mas dentro de um limite. Elas têm o espaço delas.
O que gosta de fazer nas horas vagas?
Sou muito disposta e preencho meu dia com muitas atividades, auxiliando as netas principalmente. Vamos para o quarto de estudar, temos uma biblioteca também, mas como disse elas já são muito independentes. Faço lanchinho! (risos) E minha paixão são os pássaros e minhas plantas! Também adoro música: Frank Sinatra, Ray Conniff e nosso rei Roberto Carlos!
Se pudesse mudar algo no mundo, o que seria?
Acabaria com a desigualdade. Ninguém deveria passar fome. Todos deveriam ter oportunidade de emprego, moradia e a dignidade de viver bem. Ainda assim, penso que sempre devemos acreditar em dias melhores.
A senhora é uma mulher de fé?
Nossa, a Bíblia é meu livro de cabeceira! Sou muito católica e devota de Nossa Senhora Aparecida e Santa Rita de Cássia. Minha fé me acompanha sempre, inclusive nos momentos difíceis. Creio que a fé é a maior motivação psicológica do ser humano. Não desisto nunca. Já enfrentei problemas de saúde e acredito na resolução dos problemas, na cura. Gosto de visitar Aparecida para agradecer e todo dia 22 levo uma dúzia de rosas para Santa Rita e ofereço também pra todos que estão enfrentando dificuldades.
Qual a maior dificuldade que já enfrentou?
Alguns momentos pelos quais passei em relação à saúde, foram de muita coragem, garra e fé. Em nenhum momento me deixei fraquejar. Tive muito apoio da família e de todos com quem convivia. Penso também que não devemos nos desesperar, um dia de cada vez. A vida da gente é surpresa!
Que conselho daria para um jovem que pretende seguir na Educação hoje?
Siga se tiver vocação. Se for genuíno será um bom profissional. Seja dedicado, pois será uma extensão de sua vida. Tenha compaixão, se coloque no lugar do outro. Em minha caminhada sempre tive alunos especiais e me colocava em seus lugares e principalmente de suas mães. Devemos ter um olhar humanizado e oferecer amparo.
Neide, qual o balanço da sua trajetória até aqui?
Meu pensamento de vida é que sou o reflexo do somatório das coisas certas e erradas que vivi. O que vivi, está vivido. Bons momentos, outros nem tanto, perdas... Mas sempre com sentimento de gratidão por tudo! Sou como o bambu, ele enverga mas não quebra. A flexibilidade é minha filosofia de vida. Devemos nos adaptar às situações que a vida nos apresenta. Para finalizar, deixo um pensamento de Mário Quintana: “Não deixe de fazer algo que gosta devido à falta de tempo, a única falta que terá será desse tempo que não voltará jamais.” E nunca deixe de dizer eu te amo para as pessoas que você se importa. Nunca saberemos quando será a última vez...