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Estoques e comercialização: qual o caminho do café hoje?

Mercado variável, pandemia que atrapalhou toda a cadeia e atenção redobrada do produtor. Esse é o cenário da cafeicultura
Por: Heloisa Rocha Aguieiras | Categoria: Agricultura | 25-10-2021 10:48 | 1597
Foto: Reprodução

Produtores, empresas cafeeiras de comercialização e armazenamento de café estão vivendo um momento de cautela, consequência da pandemia que influenciou atipicamente no mercado e uma geada que assustou. Sobre esse cenário, representantes da área de comercialização de café traçam uma análise e falam sobre um futuro próximo, de olho em, acima de tudo, fazer um alerta ao produtor para o que há de positivo e negativo.

Sobre a produção de café no mundo, o diretor da Safras & Negócios, Gilson Souza, diz que ela vem crescendo de forma não acelerada. "Saímos de uma produção média entre 145/150 milhões e agora estamos no patamar de 160/170 milhões de sacas de café. O consumo está linear e os estoques de passagem, em média, não está em menos que 32 milhões e não mais que 40 milhões.

Em relação ao consumo interno, o gerente geral da Nova América Café, Aliomar Fernandes Sobrinho, diz que houve um crescimento provocado pela pandemia. "A covid ajudou no consumo de café com aumento de cerca de 10%, pois as pessoas ficaram mais em casa, voltaram para o coador e saíram do que chamamos de monodose", diz. A Nova América está atendendo atualmente 2.220 produtores e 33 empresas de exportação e torrefação em uma região conhecida por produzir cafés de alta qualidade: o Sul de Minas Gerais e a Alta Mogiana Paulista.

Fernando Alvarenga, CEO da Peneira Alta, empresa que completou 19 anos e atualmente atende mais de 500 produtores em todo o Estado de Minas Gerais, diz que acredita que a pandemia atingiu negativamente a todos: "O maior problema enfrentado foi o aumento de custos para a produção do café".

 "A pandemia trouxe dificuldade, principalmente entre os produtores mais idosos, que preferem os contatos presenciais normalmente. Com o isolamento social eles passaram a ficar em casa e isso gerou certa queda da comercialização", diz Fernando Neto, gerente-proprietário da Caffer Café, que tem 14 anos de atividade, atendendo cerca de 650 produtores de pequeno e médio portes.

Athos Felipe de Souza - Souza Cafés Corretora de Mercadorias - com cinco anos de atuação em comercialização de café, diz que a pandemia afetou diretamente na logística interna e externa. "Os custos de produção tiveram um aumento expressivo, devido a dificuldade de obtenção de matéria prima. E no campo enfrentamos diversos problemas climáticos o que impactou diretamente na produção".

 

PREÇOS EESTOQUES
O preço atual da saca de 60 quilos, entre R$ 1.200 e 1.600 (esse valor para o arábica tipo 6) é tido como um valor razoável pelos especialistas das empresas cafeeiras com sede em São Sebastião do Paraíso. Em relação aos estoques, o volume ainda presente nos armazéns está de médio para baixo.

"Os estoques estão baixos, cerca de 80% das comercializações já feitas, inclusive contando as realizadas por meio de travas futuras, que está provocando grande problema aos produtores, que fecharam esse tipo de modalidade de negócio a R$ 600 a saca. Agora, com o preço chegando ao dobro disso, há produtor que não está querendo entregar o café negociado na trava. Isso traz problemas jurídicos e interfere lá fora", relata Fernando Neto.

Fernando Alvarenga diz que o estoque baixo está relacionado diretamente com o preço da saca: "Os estoques estão bem menores que o mesmo período do último ano. Essa baixa no estoque já está refletindo no aumento do valor da saca de café e esse é um valor satisfatório".

 "Os estoques mundiais estão "dá mão para a boca" - ou seja, o que tem em estoque está sendo consumido. Houve mudanças nos estoques do destino; isso ainda está armazenado nas origens - onde se produz café, portanto Brasil e Vietnã - ainda devem ter estoques para abastecerem a demanda até que chegue a safra 2022", comenta Gilson de Souza sobre os estoque no exterior.

Athos refere-se aos estoques e preços, dizendo que a situação é realmente de alerta para cafeicultura mundial, considerando vários fatores. "Uma geada assustadora retirando cerca de 10 milhões de sacas do mercado nos próximos anos. Segundo dados da OIC, presenciaremos um superávit no consumo de 2,63 milhões de sacas para o ciclo 2020/2021, um consumo em recuperação diante da pandemia de Covid-19, mas mostrando que poderá retornar de maneira significativa, caminhando para uma possível falta de café; ou seja, desequilíbrio na oferta e demanda. Frente a este cenário o que poderá restabelecer o equilíbrio é o aumento nos preços. Acreditamos que a médio e longo prazo teremos preços jamais vistos pela cafeicultura", finaliza ele.

Gilson Souza, Diretor da Safras & Negócios
Athos Felipe de Souza Souza Cafés Corretora de Mercadorias
Fernando Alvarenga, CEO da Peneira Alta
Aliomar Fernandes Sobrinho, gerente geral da Nova América Café
Fernando Neto, gerente-proprietário da Caffer Café