Década de 1960 - O casal de saudosa memória, Sebastião Delfino e Dirce de Oliveira Delfino, vivia tranquilamente no Morro do Níquel, onde o Sr. Sebastião trabalhava, quando começou a se formar a "casa das sete mulheres". Primeiro nasceu Terezinha, depois as gêmeas Solange e Sandra, na sequência vieram Sílvia, Rose e Thaisa. Nesta edição conheceremos a história de Sandra Maria Delfino Silva. De origem simples, com determinação e muito trabalho, Sandra se tornou proprietária de um restaurante. No estabelecimento ela comanda a cozinha e conta com o grande apoio de sua irmã, parceira e gerente Sílvia (confira sua entrevista na edição do próximo sábado). Disciplinada, talentosa e perfeccionista, aos 53 anos Sandra compartilha sua trajetória pessoal, o sucesso profissional e os planos para o futuro.
Sandra, qual a lembrança mais antiga você tem em relação ao preparo de um prato? Sempre gostou de cozinhar?
Nasci em Itaú de Minas, que à época pertencia à Pratápolis, pois meu pai trabalhava no Morro do Níquel. Lembro que ainda muito pequena, mais ou menos aos três anos, vi uma lata e perguntei à minha mãe o que era. Ela respondeu que era uma massa chamada ravióli. Fiquei com aquilo na cabeça e queria conhecer a tal massa. Nem imaginaria que muitos anos depois iria fazer muito ravióli no Buffet Italian, local em que trabalhei por muito anos. Gostava de brincar de comidinha, fazia bolinho de areia, bolachinhas com a massa de modelar que a professora dava em sala de aula. Ficava em cima da minha mãe para aprender a cozinhar, gostava de ver programas de receitas... Enfim, acho que é dom e aptidão mesmo!
Vindo de uma família com tantas mulheres, a convivência era harmônica ou complicada?
Formamos a casa das sete mulheres, eram minha mãe, seis filhas e só meu pai de homem. Ele tinha um orgulho danado de falar que todas aquelas meninas eram filhas dele! E eu sou gêmea com a Solange. Em relação às irmãs, eu mandava, as outras obedeciam! (risos). Tínhamos algumas divergências, mas sempre fomos muito unidas e nos damos muito bem. Minha mãe sempre foi corajosa, criou cinco filhas e mais uma sobrinha, que também se tornou nossa irmã.
Como foi sua trajetória profissional antes de abrir seu restaurante?
Nos mudamos para Paraíso ainda mocinhas, eu tinha por volta de 13 anos. Aqui trabalhei cinco anos como empregada doméstica, depois na Fábrica de Calçados Sol a Sol, do Fabiano Zumerle, durante vários anos também. Daí quando a fábrica fechou e fiquei desempregada, surgiu a oportunidade de trabalhar em um buffet que iria abrir. Comecei uma semana antes de inaugurar o então Toscana, hoje Buffet Italian, na época ainda na casa da família. Sou muito grata ao Adriano e à Edna! Foram 15 anos de dedicação e aprendizado. Fiz muitos cursos de aperfeiçoamento pelo Senac, à época coordenado pela Lacir, treinamentos com o João Braga, enfim, foi uma grande oportunidade de me realizar na área que sempre gostei.
Como foi o começo da JS Refeições? E o que significa o nome?
O nome veio das iniciais de Juliana e Sandra, inicialmente sócias nas marmitas. Após um tempo encerramos a parceria, pensei em continuar sozinha, mas não sabia se seria no mesmo segmento. Pela gratidão ao meu antigo emprego no buffet, não queria concorrer nesse setor. Como já tinha experiência, comecei a produzir marmitas em minha própria casa. Mantive o nome e brincamos dizendo que o J é de Jesus! (risos) Tudo começou quando começamos a produzir marmitas para uma empresa, apenas para o jantar. Atendíamos muitos funcionários, mas eles queriam um local para que fizessem as refeições e a gente não dispunha. Assistia muito ao Pequenas Empresas & Grandes Negócios que me ensinou que não podemos nos acomodar, temos que buscar algo diferenciado. Como disse, no começo não tinha o salão, mas os próprios fornecedores queriam fazer as refeições aqui. Tinha um banco no jardim e eles pediam para comer ali. Então fui transformando o jardim, a garagem e foi nascendo o restaurante que já completou 11 anos.
Sua comida é muito elogiada. Qual o segredo de um bom prato?
Carinho, amor, dedicação... Utilizar os melhores ingredientes, ter muito cuidado e atenção no preparo. Faço questão que a comida chegue quentinha à mesa. E sou muito atenta às novidades! Às vezes estou de folga, viajando, vejo um prato diferente e já penso se daria certo no restaurante. O feijão capixaba foi assim, uma amiga do Espírito Santo me passou a receita e foi muito bem aceito no restaurante. Em breve pretendo servir uma paella!
A pandemia afetou seus negócios?
Sim, afetou. Ficamos um período fechados, depois tivemos alguns casos de covid e tivemos que fechar novamente. Mas nosso cliente não nos abandonou, o delivery supriu a demanda. E fomos nos adaptando, negociando compras maiores para estocar e cair o preço e assim conseguimos sobreviver.
Você trabalha diretamente com várias pessoas de sua família, certo? Como é esta relação?
Sim, tem irmã, sobrinhos, o esposo ajuda sempre que possível. Enfim, às vezes o coração fala mais alto. A gente releva muita coisa, mas no geral não tenho queixas. Nos damos muito bem!
Qual a maior dificuldade em administrar um negócio?
No meu caso misturo muito o lado emocional. Tem momentos que me vejo defendendo o lado dos funcionários e minha irmã Silvia, que é a gerente, tentando nos mostrar os dois lados.
O trabalho em um restaurante é muito exaustivo. O que gosta de fazer para relaxar?
Acredita que no começo do restaurante, na minha folga, eu fazia compras para o JS Refeições? Era minha diversão! (risos). Hoje temos excelentes fornecedores e não é preciso, então eu descanso. E não cozinho em casa! É que na verdade não gosto de cozinhar em pequenas quantidades, gosto de panelão! (risos)
Nos conte sobre a família que constituiu.
Sou casada com o Gilmar da Silva Rosa, funcionário da Copasa e temos um filho, o Gabriel Henrique, de 13 anos. Me sinto muito feliz e realizada com minha família e por contar com o apoio deles.
Você é uma mulher de fé?
Sim. Acredito na lei da Causa e Efeito e na Justiça Divina. Tento trilhar o caminho Dele com humildade, para concluir bem a missão que nos foi dada aqui neste plano.
Se considera uma pessoa realizada? Tem algum sonho?
Sim, com certeza me sinto realizada. Trabalho com o que gosto, tenho minha família, com quem posso contar sempre. Quanto ao sonho, pretendo expandir o restaurante, montá-lo em um novo local, mais amplo. Gostaria de valorizar ainda mais meus colaboradores e dar mais autonomia a eles para curtir um pouco também. Quero viajar bastante e desfrutar a vida!