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ANA CRISTINA PARISI DE SOUZA

Por: Reynaldo Formaggio | Categoria: Entretenimento | 27-02-2022 08:43 | 1788
Ana Cristina Parisi de Souza. Mais conhecida por Ana Cristina Artesanato
Ana Cristina Parisi de Souza. Mais conhecida por Ana Cristina Artesanato Foto: Acervo pessoal

Habilidade no planejamento. Capacidade de fazer alguma coisa. Ocupação de uma atividade que exija habilidade. O artesanato, tão antigo quanto a própria história do homem, possui múltiplos significados. Importante em qualquer cultura, o artesão tem um papel fundamental na construção da identidade de um povo. Suas técnicas, transmitidas e divulgadas por seus executores, vivificam e perpetuam uma arte genuína e necessária para a manutenção dos fazeres. Bem em frente a um grande atacado na Avenida Wenceslau Braz, nota-se uma discreta placa “Ana Cristina Artesanato”. Ao adentrar pelo portão, um mundo de fios, linhas, roupinhas e sapatinhos de bebê, móbiles, bichinhos, muita criatividade e amor, povoam o ateliê de Ana Cristina Parisi de Souza. Mais conhecida por Ana Cristina Artesanato, sua vida e profissão se confundem no amor pelas artes. Nascida na capital paulista, Ana mantém profundas raízes ligadas a São Sebastião do Paraíso, já que chegou à cidade com apenas dois anos. Aos 54 anos, Ana Cristina compartilha sua arte e seu caminhar permeados por muita luta, fé e realizações.

Ana, desde pequena você já demonstrava aptidão para as artes? Como foi sua infância?  Foi uma criança mais arteira ou artista?
Sou a mais velha de quatro irmãs. Ajudava muito meus pais, o saudoso José Alberto Parisi (conhecido por José da Farmácia de Guardinha) e minha mãe, Maria Helena Bícego Parisi, ambos com raízes em Paraíso e região. Cuidava das minhas irmãs mais novas e também ajudava nas tarefas do lar; lavava roupa, fazia comida, limpava a casa. Portanto não tinha muito tempo para ser arteira. Antes dos seis anos aprendi crochê, tricô e pintura com minha mãe e as duas avós. Há pouco tempo minha mãe ainda tinha brinquedos de pano que eu mesma fazia. E gostava muito de ouvir história dos meus avós, brincar de teatrinho... Então a arte estava presente e eu sempre gostei!

Você exerceu outra atividade antes do artesanato? Se não fosse artesã, escolheria outra atividade?
Trabalhei em lojas em diversos setores; caixa, crediário, vendas. Hoje é difícil pensar em outra atividade. Por necessidade as pessoas fazem todo tipo de trabalho, mas quando se pode escolher o que gosta, a paixão pelo artesanato fala alto!

Quando surgiu seu ateliê e o que ele oferece?
O ateliê completará oito anos em outubro. Surgiu de início por incentivo de meu pai e meu esposo. Hoje, comercializamos peças prontas e produtos como linhas, acessórios e tudo que se precisa para crochê, tricô, tear, além das roupinhas e sapatinhos de bebê, móbiles, bolsas, kits para amigurumi, sempre com muita qualidade. Essa é nossa prioridade!

Você também dá aulas de artesanato, certo? Como é transmitir esse dom?
Sim, dou aulas de crochê, tricô e tear. É a coisa mais maravilhosa! Não tem recompensa melhor quando um aluno, seja criança, adulto ou idoso, consegue dar os primeiros pontos. Ver o brilho em seu olhar é uma grande alegria!

Dentro do artesanato, qual sua preferência?
O que me dá mais prazer e satisfação é confeccionar roupinhas para bebês. Ao trabalhar na peça, já a imagino no bebê e faço com muito amor, carinho e cuidado. Por isso a qualidade é fundamental. É uma peça mais delicada, temos que pensar no conforto e bem estar. Bordo um paletozinho e, muitas vezes, vejo a criança usando e, depois de muitos anos, aquela pessoa se torna mãe e seu filho também usa a mesma roupinha. É muito gratificante!

Que dica preciosa você pode compartilhar para quem pretende desenvolver um trabalho manual?
Não desista. A persistência é muito importante! Às vezes a pessoa quer reconhecimento imediato e não é bem assim. Tem também quem procura como hobby, para entreter as crianças, mas para todos os casos a persistência é fundamental.

Você acha que o artesanato tem seu devido valor reconhecido?
Nem sempre tem. Muitas vezes a pessoa vê uma peça que demorou uma semana de muito trabalho para ser feita, e acha caro. O artesanato seria mais uma renda complementar. Para quem precisa sobreviver exclusivamente dele, é difícil.

O artesanato das diversas regiões do Brasil tem uma variedade imensa. De onde vem a inspiração para criar seus modelos
Minas é muito rica! Outras regiões também. Mas minha maior fonte de inspiração é minha família. Minha avó materna teve 17 filhos, sendo 15 mulheres, e todas aprenderam crochê, tricô ou bordado. Já a avó paterna ficou viúva com cinco crianças e o que a ajudou a terminar de criar os filhos foi o crochê. Então elas são minha maior inspiração!

E quando surgiu o interesse pelos amiguru-mis? [junção das palavras japonesas “ami” (malha ou tricô) e “nuigurumi” (bichos de pelúcia)
Desde criança via em revistas os bichinhos e outros brinquedos em tricô ou crochê. Ainda não se usava o termo amigurumi. Graças a Deus tive uma infância muito boa! Tinha três bonecas Suzy! (risos). Essa boneca era uma febre! E aprendi a costurar para fazer novas roupinhas para as bonecas. Nem todas as crianças podiam ter, mas mesmo tendo condições, a gente também criava nossos próprios brinquedos com sabugo de milho, sobras de tecidos... Então quando surgiu a febre dos amigurumis, já com esse nome, eu já tinha experiência e desenvolvi ainda mais. Hoje no ateliê ofereço kits que facilitam para quem deseja elaborar suas próprias criações.

Nos conte sobre a família que constituiu.
Tenho um casal de filhos, já adultos. A Jane está se formando em Pedagogia e o Júnior é meu sócio na loja. Meu esposo, José Roberto de Souza, é um grande companheiro. Meus filhos e meu esposo são tudo!

O que costuma fazer nas horas de folga? Tem algum hobby?
Acredita que faço tricô por hobby! (risos). Quando estou tranquila, posso fazer sem aquele compromisso, é diferente da encomenda.  No mais, gosto muito de curtir a natureza, brincar e passear com os filhos. 

O que diria para uma criança ou jovem que goste de artesanato e gostaria de enveredar por esse caminho?
Não desista, mas estude também. O estudo é tudo! Aprenda a fazer o que tiver mais aptidão, seja crochê, tricô, pintura, e se dedique, dê seu melhor.

Ana, qual o balanço você faz de sua trajetória até aqui? Tem algum sonho a realizar?
Muita luta e persistência! Muitas vezes pensamos em desistir, mas tenho muita fé. Eu e minha família somos Testemunhas de Jeová. Confio minha vida a Ele. Devemos tudo a Ele. É tudo pra Ele e por Ele. Meu sonho mais próximo e que pretendo realizar é ter um espaço novo para minhas aulas. O sentimento é de muito gratidão!