“A firmeza seja sempre temperada com a suavidade nos modos e nas palavras”. O sábio ensinamento de Santa Paula Frassinetti cai como uma luva no jeito de ser da entrevistada desta edição. Dedicação, comprometimento, disciplina e muito amor pelo que faz. Aos 58 anos, Tania Aparecida Gonçalez de Souza sabe muito bem o poder transformador de educar pela via do amor. Nascida em Alpinópolis e tendo vivido por muitos anos em Campinas, Tania radicou-se há 20 anos em São Sebastião do Paraíso, cidade em que mantém vínculos familiares e profissionais. À frente da direção do tradicional Colégio Paula Frassinetti, Tania rememora sua trajetória, expõe suas opiniões sobre o maravilhoso dom de educar, transmitir conhecimento e fazer a diferença na vida de alunos, famílias e comunidade.
Tania, nos conte sobre suas origens. Algum fato especial marcou sua infância?
Nasci em Alpinópolis, filha de Ana Alves de Souza e Gentil Gonçalez de Souza. Tenho duas irmãs, uma professora e a outra economista. Tive uma infância tranquila, com brincadeiras em quintal, com muito envolvimento familiar. Passei parte de minha infância, adolescência e vida adulta em Campinas.
Como foi seu tempo de estudante?
Cursei o ensino fundamental na Fundação Bradesco de Campinas, um ensino voltado para a formação integral.
Qual sua formação acadêmica?
Me graduei em Pedagogia pela PUC de Campinas e fiz pós-graduações pelas Faculdades Claretianas e Pitágoras, em Psicopedagogia Clínica e Gestão Educacional, respectivamente. Ainda pela Faculdade Corporativa COC me graduei em Gestão da Liderança.
Como se deu sua vinda para São Sebastião do Paraíso?
Depois de um ano sabático em Campinas, resolvi mudar os rumos pessoais e profissionais, me estabeleci em São Sebastião do Paraíso em 2002, onde tenho familiares.
Como foi sua trajetória profissional até assumir a direção do Colégio Paula Frassinetti?
Trabalhei 23 anos na Fundação Bradesco, em todas as áreas da educação. Ganhei experiência sobretudo na Coordenação Profissional, Pedagógica e Educacional. Trabalhei em Escola Pública, onde desenvolvi projetos voltados para o Magistério. Ao vir para São Sebastião do Paraíso decidi conhecer a área educacional através da escola pública, onde prestei serviços na área de Orientação Educacional na Escola Estadual Paraisense, uma ótima escola com excelentes profissionais. Logo depois fui convidada a trabalhar no Colégio Paula Frassinetti, atuando como Orientadora Educacional, depois convidada pela Irmã Ana Maria, então Diretora Geral, para a Direção Educacional e agora em fevereiro de 2022, assumi a Direção Geral do Colégio. Sou a primeira leiga gestora do Colégio em seus 97 anos de existência. Sinto-me honrada em estar à frente de um Colégio de tradição e inovador na educação, trabalhando com excelentes profissionais que também abraçam a proposta de uma educação de formação humana e cristã. O interessante que trabalhei a maior parte do tempo em escola particular, mas foi aqui em Paraíso que conheci a escola católica. O aprendizado foi compensador em todas as áreas da minha vida e isto devo à confiança e um enorme carinho das Irmãs Doroteias.
O Colégio está muito próximo de completar seu centenário. Na sua opinião, qual o maior legado que a instituição oferece para a cidade?
O Colégio Paula Frassinetti é uma das instituições de ensino mais sólidas de São Sebastião do Paraíso. Há quase 100 anos, alia formação integral, acadêmica e cristã, com o pioneirismo em tecnologia. Destaca-se nesta instituição o acolhimento socioemocional, a preparação para uma vida de conhecimentos, de conquistas, o desenvolvimento intelectual e as habilidades interpessoais dos alunos que são estimuladas, potencializando o pensamento crítico, valorizando a vida e o respeito ao próximo. São várias gerações de cidadãos paraisenses que por aqui passaram. Temos alunos hoje da terceira geração da mesma família. Seus pais e avós se formaram no Colégio e sentem grande orgulho desta instituição, atuando em diferentes profissões na cidade e em outros lugares. É confortante ouvir a história do Colégio pelas pessoas que passaram por lá. Há um carinho e uma pertença muito grande. Todos são considerados a Família Doroteana. Estamos programando o “Rumo aos 100 anos”, contando com todos que passaram por lá.
E por falar em comemoração, nosso município recentemente completou seu bicentenário. Como uma pessoa que escolheu Paraíso para viver, qual sua impressão sobre a cidade e que presente gostaria de oferecer a ela?
Considero Paraíso uma cidade maravilhosa para se viver, tenho amigos de outras cidades que amam estar aqui e se sentem muito bem recebidos. A qualidade de vida é melhor em uma cidade com menor número de habitantes. Paraíso se tornou atraente para mim por ter pessoas que acolhem, profissionais da saúde dedicados e interessados, o atendimento e exames são de excelente qualidade. Gasta-se menor tempo no trânsito, oferece boa infraestrutura de serviços, com educação de qualidade. Na questão climática não traz histórico de desastres naturais, chamando atenção pelo desenvolvimento do café e outros meios do agronegócio. Além de ter a melhor manteiga! Nestes anos aqui vividos tive a grata satisfação de receber o título de Membro Honorário da Academia Paraisense de Cultura. Aqui me instalei e vivo bem, trabalho na educação e espero com o meu trabalho oferecer ao jovem que conclui o ciclo da educação básica, uma base sólida de valores humanos e com muito aprendizado acumulado para novas etapas da vida que darão início. É como cita Paulo Freire: “Compreendi que o sujeito aprende para se humanizar”. De acordo com o educador, aprender é complemento da formação do sujeito como humano. Se aprende na relação com o outro, no diálogo com outro, na aproximação dele com o conhecimento do outro.
Como o Colégio vem enfrentando a pandemia de covid-19 e quais adaptações foram necessárias?
O enfrentamento do período pandêmico foi um grande aprendizado, nos tirou da zona de conforto e nos confrontou e desafiou a passar da era analógica para o digital. Durante a pandemia da covid-19, a adoção de medidas de prevenção e controle recomendada pelos órgãos de saúde e educação foi bem restritiva para as escolas, com um planejamento de transformação de salas físicas para virtuais, com um Plano de Ação que se encontra no 2º adendo a este plano inicial, ainda com várias medidas de biossegurança. Tais ações permitiram um ambiente escolar seguro que mitigou a transmissão da covid-19 para profissionais, pais/responsáveis e estudantes, gerando um clima de confiabilidade para o retorno às aulas presenciais. Embora o retorno parcial às aulas presenciais tenha sido em agosto de 2021, desde outubro de 2020 estávamos preparados para passar de aulas remotas on-line para as aulas presenciais, da Educação Infantil ao Ensino Médio. Sempre buscamos um trabalho para favorecer o pleno restabelecimento de nossa comunidade escolar, de forma consciente e com cuidados de um acolhimento socioemocional que ainda são desenvolvidos para minimizar o distanciamento e outras situações vividas neste período. Adotamos um lema para que todos assumissem seu papel com cuidados para si e para o próximo: “Não basta mantermos nosso Colégio saudável, precisamos mantê-lo aberto. Esse é um trabalho de todos nós. Eu cuido de você e você cuida de mim!” Estamos de volta! É esse o desejo de todo o Colégio para o ano letivo de 2022, sigamos confiantes num ambiente agradável e seguro. A felicidade dos estudantes é o que importa e o mais essencial nesse momento. A todo momento, em todos os encontros que realizamos damos graças por termos vencido dois anos atípicos e de muita adversidade. Depois de muito tempo, todos os nossos estudantes presentes. Que Santa Paula abençoe este retorno!
Para este ano letivo de 2022 qual será o sistema adotado?
Em 2022 retornamos totalmente presencial, permitindo aos colaboradores e estudantes notificados aulas remotas on-line. A mudança para um ensino mais digital veio para ficar e toda proposta pedagógica concebe o sistema híbrido de ensino. O ensino híbrido é uma das maiores tendências da educação no século XXI. Essa nova metodologia tem como objetivo aliar métodos de aprendizado on-line e presencial. Atualmente, vivemos em uma época na qual as crianças estão começando a utilizar tecnologias e a ter contato com computadores, smartphones, tablets, entre outros, cada vez mais cedo. É comum o estudante abrir os livros e encontrar uma referência para pesquisa, atividade e aprofundamento de conteúdo através de um link ou QRCode e o Colégio avança nesta proposta.
Como diretora de uma instituição católica você participa de muitos encontros, cursos e aperfeiçoamentos que proporcionam conhecer profundamente a história da congregação, certo? Na sua opinião, qual o maior legado que Santa Paula deixou e que as escolas da rede propagam?
Participo da equipe de Formadores Leigos Local, desde que ela surgiu em 2011, onde temos espaço para estudos, troca de ideias, reflexão, que favorecem o conhecimento sobre a identidade do Carisma de Paula Frassinetti e define, com clareza, a vocação do Leigo Doroteano em educar pela via do coração e do amor. Desta forma como Família Doroteana, nos organizamos mais sistemática e academicamente para a formação continuada dos leigos nos Colégios com o intuito de, perfilados no Carisma de Paula Frassinetti, darmos continuidade à Missão das Irmãs da Congregação de Santa Doroteia, com excelência acadêmica e coerência na opção de Escola Católica.
Uma pauta atual e delicada é sobre se as instituições de ensino devem abordar em sala de aula temas como política, diversidade religiosa, orientação sexual, xenofobia, entre outros. Em sua opinião a escola deve abordar esses temas? Se sim, como podem ser trabalhados?
Trabalhamos os temas da contemporaneidade seguindo o lema de Paula Frassinetti: “educar pela via do coração e do amor”. As crianças e adolescentes ao aprenderem pelo exemplo, pelas vivências compreendem melhor o caminho para uma educação a partir da relação de cuidado, confiança e respeito e passam a compreender que esse também é o caminho a ser seguido com o próximo. Esses ensinamentos irão gerar frutos positivos na vida adulta, como o encontro de uma vocação, o exercício da solidariedade e respeito com o próximo. Afinal, se desejamos desenvolver indivíduos com compaixão, precisamos ser o exemplo concreto disso dentro da relação com nossos estudantes. Por isso, enquanto mentores, precisamos ser sinais de guia e direção, jamais de medo ou penalidade sempre com muita paciência e amor. Com calma e clareza explicamos, nas aulas de Formação Humana e Cristã, os motivos de cada orientação, ouvindo e criando uma relação de diálogo aberto e dessa relação que transborda compaixão e amor, os frutos serão só positivos.
O que costuma fazer nas horas de folga? Tem algum hobby?
Minhas horas de folga são dedicadas à família, religião, viagens e leitura de livros, o que mais aprecio. Atualmente estou lendo os livros Médico de Homens e de Almas, o Poder do Hábito e Minuto da Gratidão, o qual pratico todos os dias.
O que diria para uma criança ou jovem que sonha em seguir carreira na Educação?
A Educação é a chave que abre portas para a vida, impactando diretamente no futuro. É compensador a profissão na área da educação, que embora pouco valorizada em nosso país, faz com que nos movamos por uma força maior, onde transborda a convivência, a compaixão e o amor em tudo que fazemos, os frutos são positivos. A realização pessoal e profissional é dada num salto de qualidade rumo à ação de formação continuada. Para que isso se concretize é preciso que o comodismo saia de cena e dê espaço à modificação, é preciso sonhar, querer e agir. Nesse quesito, a educação é a chave de transformação.
Tânia, que balanço faz de sua trajetória até aqui?
Em meu currículo, somam-se as experiências em salas de aula e de gestão educacional na educação básica em instituições públicas e privadas com uma vivência pessoal de quem buscou evoluir do início dos bancos escolares até hoje. Sempre serei estudante e, algumas vezes, professora. Sou feliz com esta questão: aprender sempre. Que tenhamos a esperança e trabalhemos por um mundo melhor, cheio de bênçãos, amor, cuidados e muita paz.