ESPECIAL COLHEITA

Colheita foi iniciada: comercializador fala sobre produção e expectativa de preços

Por: Nelson Duarte | Categoria: Agricultura | 14-05-2022 07:00 | 1786
Adriano Moherdaui Martins - Comercializador e degustador de café da Caffer
Adriano Moherdaui Martins - Comercializador e degustador de café da Caffer Foto: Tiel / Jornal do Sudoeste

A colheita de café 2022/2023 de café, foi iniciada em menor volume, pequenos produtores, principalmente cafés de variedades amarelas, dentre elas, de catuaí, em algumas regiões, de São Sebastião do Paraíso e municípios na região, em pequena escala.

Para falar sobre início de colheita, perspectivas de mercado, principalmente sobre preços de comercialização, o “Especial Colheita” ouviu Adriano Moherdaui Martins, comercializador e degustador da empresa Caffer Comércio e Armazenagem de Café.

Quanto à qualidade acreditamos será boa, se o tempo ajudar e não houver excesso de chuvas no período entre maio a julho, que prejudique cafés maduros nos terreiros. Não é época de cafés secos na copa, nos ponteiros das árvores. Na Caffer já recebemos algumas amostras de produtores em nossa área de atuação, cafés quase no ponto de benefício, e achamos que está com volume interessante (sendo verde em torno entre 20% e 25%). Logicamente, no início da colheita costumam aparecer maiores volumes de cafés verdes e um pouquinho de mais de catação, salienta.

Adriano explica ter analisado algumas projeções sobre estimativa de safra a ser colhida no Brasil, que apontam o arábica em torno de 37,9 a 38  milhões de sacas, e o conilon 17 milhões totalizando 55 milhões de sacas. “Acreditamos que poderá ser um pouco menor, porque tivemos períodos com três geadas no ano passado. Em 2021 houve também prolongamento da seca, e depois um volume bem interessante de chuvas, mas muitas lavouras foram danificadas, pois além de geadas sofreram esqueletamentos, recepas, reformas, e esse ano não vão produzir, estão preparadas para a safra 2023/2024”, observa.

Adriano Martins acredita em uma quebra nas projeções de safra talvez em 25%, mas conforme explica, isso vai aparecer com maior clareza nos primeiros dois meses a partir do início da colheita, quando já houver maior quantidade de cafés beneficiados, sendo monitorado na entrada para cooperativas e armazéns como os da Caffer.

“A safra se iniciando, e há a impressão que não serão cafés graúdos. No período de formação dos grãos alta no preço de fertilizantes trouxe consequências. Muitos produtores não fizeram adubações recomendadas. As chuvas ajudaram, mas por outro, a falta de adubações prejudicou”.

No tocante a preços, Adriano lembra que dois fatores são predominantes para a estabilização ou valorização repentina nos preços do café, ou seja, o clima e com a entrada de frentes frias no inverno, a possiblidade de ocorrerem eventos climáticos, o que poderá mudar tudo. Outro fator que está impactando muito é a inflação global, em especial a americana, que afeta diretamente o Brasil, influenciando na alta absurda em todos os insumos para as lavouras. Então, devido ao conflito armado entre Rússia e Ucrânia a falta de fertilizantes que vêm daqueles países, tudo isso vai impactar daqui para frente.

O café teve uma valorização do ano passado para cá, algo em torno de 60% e foi a segunda commoditie mais valorizada (a primeira foi o petróleo), depois houve queda considerável. No entanto preços têm sido mantidos.

“Esperamos que a valorização siga em torno de R$ 1.200,00 a saca (ou abaixo um pouquinho) os primeiros cafés com catação de grãos verdes um pouco maior. “Pode até haver queda de preços nesse início de colheita, mas em seguida, dependendo do volume de café que der entrada para armazéns, que acreditamos será menor, pode haver recuperação, e valorização, embora não se pode esquecer que o preço do café hoje está em torno de um salário mínimo a saca, e até um pouco acima. Há a expectativa que chegue novamente na casa de R$ 1.500,00. Caso ocorra fato climático, não sabemos o que poderá ocorrer”, observa Adriano Martins.  “.

Outro fator a ser levado em conta é que a maioria dos produtores já vendeu a safra passada de cafés especiais, e compradores não estão conseguindo ofertas, “existe ausência de vendedores nessa época”, salienta o comercializador da Caffer.

Uma coisa é certa, o custo da colheita será bem maior, principalmente a manual. Na mecanizada conforme enfatiza Adriano Martins, o produtor também terá que desembolsar mais dinheiro, principalmente pela alta de preços do óleo diesel e gasolina. “Produtores têm sofrido muito com esses aumentos, e aí se incluem gás, gêneros alimentícios, e a própria alta do dólar na casa de R$ 5,00 –isso influencia demais, inclusive em financiamentos que estão com prazos mais curtos e taxas maiores”, ressalta.

Motivado pela pandemia do covid 19, exportações de café foram prejudicadas nos dois últimos anos. De fevereiro de 2021 a janeiro de 2022 o volume total foi de 40.16 milhões de sacas, entre arábica, conilon, solúvel, torrado e moído. Arábica foram 32.4 milhões de sacas, receita média de US 161,9 por saca trazendo em torno de 6,5 bilhões de dólares de receita que convertido superou 30 bilhões de reais.

Houve grande congestionamento no exterior por conteinars que não chegaram aos destinos para serem descarregados, e em consequência, pagamentos de contratos de cafés vendidos não se concretizaram. Outro fator foi a falta desses containers que ficaram parados e não puderam ser utilizados para novos carregamentos, gerando atrasos, devido à pandemia, o que prejudicou o escoamento da safra. Esperamos que isso se normalize, de vez que a pandemia está bem controlada, e as exportações fluam melhor, e haja cumprimento mais pontual dos contratos de cafés vendidos para o exterior, pondera Adriano Martins.