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Dez a quarenta mm de chuva. “Não foi ruim, mas também não foi tão bom assim”

Por: Redação | Categoria: Do leitor | 17-08-2022 00:01 | 643
Foto: Reprodução

Prof. José Donizeti Alves
O volume das chuvas recentes instiga as seguintes perguntas: Choveu bem? O café vai florir? As flores vão vingar? Não responderei diretamente as perguntas. Mas vou discutir aqui, as condições exógenas e endógenas que fazem uma lavoura de café florescer, para ajudar a quem está lendo esta matéria, tirar suas próprias conclusões.

Inicialmente tenho que fazer uma diferenciação entre volume de chuva para induzir o florescimento e volume de chuva para permitir o vingamento das flores. O volume de chuva, como disse, variou entre 10 a 40 mm. Essa quantidade de chuva, embora não tenha sido homogênea em todas as regiões, é suficiente sim, para induzir o florescimento. Entretanto, se o café vai florescer ou não, isso vai depender das condições intrínsecas da lavoura

Cafeeiros que florescem após uma chuva, são aqueles, cujos botões florais estão aptos a perceber os sinais e transformar esses sinais em respostas. A competência dos botões florais de uma planta em “perceber” uma chuva e florescer, se dá pela magnitude do déficit hídrico sofrido antes da chuva. Se a seca em uma lavoura, chegou próximo a um estresse hídrico, essa condição deve ter estimulado a síntese de ácido abscísico e esse hormônio, ao se acumular nos botões florais, sinalizará à planta que ela “já pode florescer”. Isto é mais evidente em cafeeiros jovens e partes jovens de um cafeeiro já adulto, como a região dos ponteiros.

Mas para que o cafeeiro floresça, é necessário que na sequência, outro hormônio, a giberelina, também seja sintetizado. Daí é que a chuva exerce seu papel, sinalizando para a planta “que ela deve”, frear a síntese de ácido abscisico e estimular a síntese de giberelina. Pronto. Em termos hormonais, está criada a base para que a planta floresça. Na outra ponta, se a planta não sofreu um déficit hídrico acentuado, ou foi irrigada permanentemente, o teor do ácido abscisico não vai subir tanto, a ponto de tornar o botão floral competente e ele não estará sensibilizado em reconhecer a relação ácido abscisico e giberelina e ele não vai ser induzido a florescer. Neste caso, o florescimento vai ficar para um novo ciclo de seca e chuva.

Quanto ao vingamento das flores, essa é uma questão mais relevante, uma vez que o cafeeiro, com uma chuva moderada como a que tivemos, pode florescer, mas, se o solo não tiver umidade suficiente para cobrir pelo menos os próximos 20 dias, a florada pode abortar.

Para que as estruturas florais se formem e o grão de pólen fecunde o ovário, é necessário que tenhamos, nos dias subsequentes à chuva uma planta bem hidratada. Essa é uma condição sine qua non para que os vasos condutores, do xilema e do floema (este, dependente da citocinina) sejam formados e levem até os botões florais, respectivamente, um aporte de água e carboidratos e o processo de fecundação se complete.

Um ponto essencial para que isso aconteça é a formação do tubo polínico (este, dependente do Ca e B)  que vai fazer com que o grão de pólen chegue até o ovário para fecundá-lo. Para que todos esses eventos que foram citados  acima, aconteçam em sua plenitude, as folhas têm que estar com os níveis adequados de nutrientes, principalmente de N, P, S, Ca, B, Zn e Ni com boas reservas de carboidratos, na forma de amido.

As lavouras que produziram pouco esse ano, e que não sofreram um estresse hídrico muito expressivo a ponto de murchar e perder folhas, têm mais chances de estar com as reservas em níveis adequados e terão maior capacidade de manter o vingamento das flores.

Por outro lado, temos que considerar que, as lavouras que não produziram bem este ano, mas que sofreram um estresse hídrico muito acentuado, provavelmente, estarão com as reservas baixas uma vez que essas reservas foram consumidas na “luta” dessas plantas para sobreviver. É o famoso custo do estresse. Infelizmente, essas plantas podem até florescer, mas a chance do vingamento é baixa. Finalmente, cafeeiros depauperados, desfolhados e com carência nutricional, terão uma chance mínima de vingamento.

Resumindo, essa chuva foi um refresco temporário e pode sim, induzir o florescimento em muitas lavouras, mas, caso não chova até o final do mês, penso que teremos sérios problemas no vingamento da florada e aí o aborto é certo. Caso não chova até o final de agosto, torço para que essa florada seja pequena para que tenhamos novas floradas em melhores condições.
Prof. José Donizeti Alves