ABELHAS

Agrotóxico pode ter matado milhares de abelhas em Paraíso

Colmeias teriam sido envenenadas por inseticida pulverizado em lavouras na região do Morro Vermelho. Laudo confirma presença do defensivo. Prefeitura investiga o caso
Por: Ralph Diniz | Categoria: Agricultura | 25-01-2023 19:22 | 3707
Um único apicultor da região afirma ter perdido mais de 200 mil abelhas em dois anos
Um único apicultor da região afirma ter perdido mais de 200 mil abelhas em dois anos Foto: Reprodução

Um grupo de apicultores de São Sebastião do Paraíso e de Jacuí afirma já ter perdido centenas de milhares de abelhas de suas colmeias devido ao envenenamento por uso de agrotóxico em lavouras na região da comunidade rural do Morro Vermelho. Uma análise laboratorial confirmou a morte dos insetos por causa dos defensivos agrícolas.

De acordo com os denunciantes, as mortes das abelhas começaram a ocorrer há dois anos, depois que proprietários de lavouras de soja e outras culturas passaram a realizar a pulverização aérea utilizando inseticida chamado “Fipronil”. Além de altamente tóxico, o produto químico não pode ser espalhado nas plantações por avião.

Marcelo Francisco Ribeiro (o “Batata”), faz parte do grupo de apicultores que afirma ter sido prejudicado pelo envenenamento de suas colmeias. Segundo o produtor rural, cerca de 200 mil abelhas foram mortas nos últimos dois anos e prejuízo causado em seus apiários se aproxima dos R$ 1,6 milhão.

Outro apicultor da região, que não quis se identificar, declara que proprietário de uma das fazendas de soja do Morro Vermelho teria abastecido o avião pulverizador com Fipronil dentro do aeroporto municipal de São Sebastião do Paraíso. “Ele (proprietário da fazenda) até postava vídeos nas redes sociais com o avião”, conta o denunciante.

Diante de tantas perdas e da suspeita de que as abelhas realmente teriam morrido após a pulverização aérea com o referido produto químico nas lavouras do Morro Vermelho, Marcelo Batata encaminhou um lote de insetos mortos em suas colmeias para um laboratório de análise ambiental de Bragança Paulista, no interior de São Paulo. “Nós temos certeza de que as abelhas morreram por causa do Fipronil pulverizado pelo avião nessas lavouras. Não apenas eu, mas vários colegas apicultores tiveram prejuízos enormes nesses últimos anos”, relata.

Na tarde de segunda-feira, 23, a empresa Edlab emitiu relatório confirmando que as abelhas submetidas à análise “sofreram paralisia de suas funções neurotransmissoras devido à contaminação por agentes toxicológicos (inseticidas, agrotóxicos, etc.)”, e morreram em decorrência disso. Ainda de acordo com o laboratório, a substância Fipronil foi encontrada no lote de abelhas. “O pessoal que fez a análise me disse que nunca havia encontrado uma quantidade tão alta desse veneno em abelhas”, completa Batata.

Conforme explicaram os apicultores ouvidos pelo “JS”, o Fipronil não mata a abelha durante o voo. Os insetos retornam adoecidos e contaminam toda a colmeia, por isso o número de abelhas mortas é considerado muito grande. “Eu sinto tanta tristeza que parei de visitar as colmeias. Cada vez que eu ia até lá, encontrava pelo menos cinco mil, sete mil abelhas caídas. Hoje, eu peço para o meu funcionário cuidar de tudo pra mim. Estou muito desanimado e devo mudar de ramo, porque não dá para produzir mel com tanto agrotóxico matando os nossos enxames”, desabafa outro produtor.

Com o laudo em mãos, o apicultor deve acionar o Ministério Público de Minas Gerais nos próximos dias para formalizar uma denúncia de uso irregular de agrotóxicos. “Nós queremos ser indenizados pelo prejuízo que tivemos, por isso vou procurar a justiça”, declara o apicultor.

À reportagem do Jornal do Sudoeste, o prefeito Marcelo Morais informou que as secretarias de Agricultura e Meio Ambiente de São Sebastião do Paraíso já têm ciência do fato e trabalham desde a semana passada na investigação do suposto crime ambiental. “Vamos juntar o laudo apresentado pela empresa contratada pelo apicultor com o que estamos realizando.

Caso seja confirmada esta hipótese, o caso será tratado como infração ambiental, conforme lei municipal que dispõe sobre a política de meio ambiente”, explica. Já a respeito do avião pulverizador que teria sido carregado com Fipronil no aeroporto municipal, Morais diz que o Executivo está investigando a denúncia.