POLEPOSITION

Quem pode mais, F1 ou a FIA?

Por: Sérgio Magalhães | Categoria: Esporte | 29-01-2023 01:07 | 988
Disputa por quem manda mais deixou a F1 de cabeça para baixo nesta semana
Disputa por quem manda mais deixou a F1 de cabeça para baixo nesta semana Foto: Motorsport Images

Uma disputa de poder está se estendendo nos bastidores da F1. De um lado a Federação Internacional de Automobilismo, órgão regulador da competição. De outro, a Liberty Media, dona dos direitos comerciais da F1 adquiridos em 2016 por US$ 8 bilhões junto ao CVC Capital Partners que mantinha à frente o astuto Bernie Ecclestone, o homem que tornou a F1 grande como ela é hoje.

Acontece que com a chegada da Liberty, um grupo norte-americano do ramo de mídia com visão rejuvenescida do esporte, começou a mudar conceitos na F1, aproximá-la do público, atrair os mais jovens, torná-la popular. E os resultados estão aí. O mercado norte-americano que sempre foi uma obsessão de Ecclestone sem nunca obter sucesso, agora caiu nas graças dos americanos com a metodologia da Liberty em promover o seu produto.

A nova dona da F1 abriu as portas para as plataformas digitais. Sova estranho num mundo altamente tecnológico como o da F1 remar por tantos anos contra a maré nos tempos de Ecclestone que sempre ignorou as redes sociais, algo que a Liberty tão logo assumiu o controle abriu as portas para o digital, ciente de que esse era o caminho para atrair novos fãs, principalmente o público mais jovem. Uma das tacadas foi a criação da F1TV, serviço de streaming em que qualquer pessoa pode assinar e assistir às corridas onde, quando e o dia que quiser. Outra foi o acordo com a Netflix para explorar os bastidores das corridas com o “Drive to Survive” (Dirigir para viver) que terá o 5º episódio lançado no próximo mês. Tudo isso contribuiu para que a F1 desse um salto ainda maior em termos de popularidade.

Não satisfeita, foi buscar por meios próprios recursos para tornar as corridas mais interessantes. Criou um grupo técnico liderado por Ross Brawn que passou os últimos anos debruçados sobre os estudos para criar o novo conceito de carros que estreou no ano passado com o objetivo de diminuir o grau de dificuldade de se ultrapassar na categoria, algo que foi aprovado por todos os pilotos.

Mas toda essa movimentação da Liberty Media tem incomodado a conservadora FIA. A entidade é responsável por cuidar de toda a parte técnica da F1. Isso vem desde o primeiro acordo estabelecido lá no começo dos anos 1980 quando o próprio Bernie Ecclestone bateu de frente com o então presidente da Federação na época, Jean-Marie Balestre. Desde então criou-se um acordo chamado “Pacto da Concórdia” estabelecido entre a extinta FOCA (sigla da associação das equipes) gerida por Ecclestone, e a extinta FISA, que era o braço esportivo da Federação Internacional de Automobilismo.

Mais recente, em 1995, o mesmo Ecclestone costurou novo acordo com Max Mosley, à época presidente da Federação, válido por cem anos, em que a entidade continuaria cuidando da parte técnica, esportiva e de segurança, com poder de voto e veto na F1, enquanto a empresa de Ecclestone, batizada de FOM (Formula One Management), continuaria cuidando da parte comercial, fechando acordos com promotores de corridas, patrocinadores e tudo que envolve o lado financeiro da categoria.

Essa queda de braço ganhou um novo capítulo nesta semana com a suposta oferta de um Fundo de Investimento Público da Arábia Saudita que teria oferecido US$ 20 bilhões à Liberty pela compra da F1.

O presidente da FIA, o emiradense Mohammad Ben Sulayem escreveu em sua conta no twitter que a oferta era exagerada, dando a entender que a F1 não valia aquilo tudo. Um dia depois, advogados da Liberty enviaram carta ao Conselho Mundial da FIA contestado as opiniões de Ben Sulayem, alegando serem inaceitáveis por interferir nos direitos da Liberty, e promete responsabilizar a entidade caso a F1 perca valor de mercado por conta das declarações de seu presidente.

A FIA tem poder de veto em caso de venda da F1, como está no acordo de 100 anos, salvo se por dificuldades financeiras, o que está longe de ser o caso. A saúde financeira da F1 está muito bem. Por outro lado, a Liberty entende que não precisa da FIA para fazer a F1 acontecer. E assim, antes mesmo de o campeonato começar há menos de 40 dias, no próximo dia 5 de março, o circo já está pegando fogo.