CHUVA NO CAFÉ

Excesso de chuva está prejudicando sua lavoura de café?

Por: Redação | Categoria: Agricultura | 08-02-2023 00:09 | 704
Foto: Arquivo

Por Prof. José Donizeti Alves*

Dados coletados nas 12 estações meteorológicas do Sismet da Cooxupé, instaladas nas áreas cafeeiras do Sul de Minas Gerais, Cerrado Mineiro e Média Mogiana do Estado de São Paulo, apontam que o volume de chuva do mês de janeiro superou, em muito, o que foi registrado nos últimos seis anos. Depois de mais de dois anos de seca, as chuvas retorna-ram em outubro do ano passado e foram gradativamente aumentando, até chegar nos altos níveis registrados em janeiro. O que de início foi um alívio para os cafeicultores, hoje é um motivo de preocupação, pois a maioria está se perguntando se o excesso de chuvas está atrapalhando sua lavoura e comprometendo sua produção.

Do ponto de vista operacional e logístico eu diria que sim. A começar pelas estradas que estão danificadas dificultando o acesso às lavouras; passando pelo controle de doenças, adubações de solo e de folha, que não estão sendo feitas a contento; e o mato que está crescendo e chegando na linha de plantio, aumentando a competição por nutrientes.

E por falar em nutrientes, os mais móveis no solo, como o N e o K estão sofrendo lixiviação e, devido ao ambiente redutor no solo, está aparecendo deficiência ou excesso de micronutrientes nas folhas. Finalmente, não podemos esquecer os prejuízos na fração biológica dos solos, notadamente às dos microrganismos aeróbicos. Tudo isso é muito ruim para as plantas, principalmente nessa fase de crescimento ativo dos ramos e frutos e enchimento dos grãos.

Convém lembrar que até outubro/novembro do ano passado, os solos das regiões cafeeiras ainda permaneciam com déficit hídrico acumulado (Boletim de Avisos Fitossanitários – Procafé). Com as chuvas de dezembro, “o vazio das caixas de água no solo” foi preenchido e os déficits zerados, gerando, no mês de janeiro, excedentes de água. Apesar de todos as limitações acima apontadas, do ponto de vista fisiológico, as lavouras dessas regiões, até a data de hoje ainda não entraram em estresse hídrico, imposto pelo excesso de água ano solo. Alguns sinais facilmente perceptíveis como ramos em franco crescimento; lavouras enfolhadas; folhas verdes, fortemente fixadas nos ramos, túrgidas e sem sintomas de murcha e frutos em crescimento ativo e firmes nas rosetas, atestam essa afirmativa. O vigor dessas lavouras sugere que os cafeeiros, em contraponto aos grandes volumes de chuva, ainda estão reagindo positivamente, acionando mecanismos de tolerância ao encharcamento do solo.

Recentemente escrevi um texto na Rede Social do Café (http://www.redepeabirus.-com.br/redes/form/post? topico_id=95399) explicando, sob o ponto de vista bioquímico/fisiológico, como os baixos níveis de oxigênio (anoxia ou hipoxia) afetava o cafeeiro. Destaquei que em tais condições, o ACC produzido nas raízes é transportado até as folhas onde é convertido em etileno. A presença desse hormônio em níveis relativamente elevados na parte aérea, enfraquece a parede das células do pecíolo ou do pedúnculo, provocando a queda de folhas e de frutos, respectivamente. Sempre que os níveis de oxigênio no solo caírem a ponto de gerar um estresse hídrico nas plantas, uma série de eventos, caracterizada por síntese de ACC nas raízes-transporte de ACC para as folhas-síntese de etileno nas folhas-distúrbios fisiológicos na parte aérea,  vai ser disparada, provocando murcha e queda de folhas e de frutos. Portanto, se sua lavoura está fisiologicamente ativa (com os sinais listados no terceiro parágrafo deste texto), com vigor vegetativo e produtivo, fique tranquilo pois é um forte indicativo que os níveis de  etileno, até então, não aumentaram a ponto de causar danos às plantas a ponto de comprometer as suas safras atual e futura.

Finalmente, é importante destacar que para um mesmo volume de chuva, os níveis de oxigênio no solo variam com uma série de fatores como: tipo de solo, teor e tipo de argila e de matéria orgânica, nível de compactação do solo, declividade do terreno, presença de mato nas entrelinhas, velocidade do vento, temperatura do ar e do solo, densidade de plantas, posição cardeal do terreno e enfolhamento das plantas, entre outros.

Prof. José Donizeti Alves Fisio
Café Consultoria e Palestras Ltda
fisiocafeconsult@gmail.co