A Federação Internacional de Automobilismo passou décadas na zona de conforto enquanto tinha Charlie Whiting como delegado-técnico e diretor de provas. Um cara que conhecia na palma das mãos livro de regras da F1. Que se desdobrava entre uma corrida e outra para acompanhar as reformas ou construções de autódromos para ver se tinham ou não condições de receber uma corrida ao mesmo tempo em que acumulava várias funções.
Whiting era o homem certo no lugar certo. Mas três dias antes do GP da Austrália de 2019 aos 66 anos, morreu vítima de uma embolia pulmonar quando já estava em Melbourne se preparando para a abertura daquele campeonato. FIA e F1 ficaram órfãos de um de seus principais personagens. E a falta dele está sendo um desastre para o esporte.
A FIA nunca havia pensado num plano B, na preparação e formação de outro profissional qualificado para que quando chegasse a hora, pudesse haver uma transição sem sustos. Não houve nada disso, e quando Whiting morreu, nomearam Michael Masi como tampão para substituir o inglês que adquiriu experiência na F1 desde 1977 trabalhando na equipe Hesketh e posteriormente com Nelson Piquet como mecânico-chefe na Brabham, até chegar ao cargo de delegado-técnico da FIA em 1988 onde atuou até morrer.
Não, não havia ninguém capaz de substituir Whiting. O período de Michael Masi como diretor de prova foi um horror e ele teve que sair pela porta dos fundos depois da confusão que arrumou na polêmica e controversa decisão do título de 2021, estragando um dos mais espetaculares campeonatos da história da F1 que terminou manchado pela falta de critérios de Masi.
A FIA tentou resolver o problema criando uma espécie de VAR do futebol, onde comissários ficam analisando tudo em Genebra, na Suíça, para dar suporte ao diretor de prova e aos comissários na pista. Nomeou também outros dois diretores de provas para se revezarem no ano passado: o português Eduardo Freitas, e o alemão Niels Wittch. O primeiro caiu fora depois de ficar perdido e tomar decisões erradas no GP do Japão marcado por muita chuva. O segundo fez a maior lambança no GP da Austrália do domingo passado.
Nunca na história da F1 em seus 74 anos houve uma corrida com três bandeiras vermelhas, e não havia necessidade de nenhuma delas. O Safety Car bastava enquanto os fiscais de pista varriam as britas espalhadas pela batida de Alex Albon e consertavam a barreira de proteção, assim como para remover detritos da Haas de Kevin Magnussen quando tocou o muro e perdeu uma roda.
Fica difícil de saber se é falta de competência, de critério do diretor de prova, ou se as bizarrices que tem cometido é uma tentativa de querer fazer da F1 mais show do que esporte.
Se a intenção for essa, vão matar a categoria. Corrida de carro é para ver quem é mais rápido, quem chega em primeiro, quem chega na frente de quem; e não uma brincadeira que abre conspiração para resultados manipulados. As coisas que têm acontecido ultimamente abrem um precedente perigoso que pode colocar em risco a credibilidade da F1 e que vão contra a natureza do esporte.
A F1 está em alta e vive um grande momento, prova disso são as 444 mil pessoas que passaram pelo Albert Park no fim de semana do GP da Austrália. Mas se a FIA não mudar sua postura com regras claras e menos confusões e atitudes questionáveis, a F1 tem muito a perder.
Niels Wittch estragou a melhor corrida do ano com as desnecessárias bandeiras vermelhas no GP da Austrália.