Max Verstappen assombrou a F1 quando ultrapassou Lewis Hamilton por fora na curva 9, na 12ª volta do GP da Austrália, e na mesma volta abriu 2 segundos(!) de vantagem. Foi um balde de água fria na concorrência. A vantagem é grande, a Red Bull está anos luz na frente de todo mundo em ritmo de corrida, ao ponto de George Russell insinuar que os carros da equipe austríaca sejam cerca de 7 décimos mais rápidos que o resto do pelotão, e que eles não estão mostrando todo o potencial por medo de que haja alguma mudança nas regras para conter o seu domínio.
A Red Bull começou o ano de forma avassaladora: três vitórias, duas delas com dobradinha. Ano passado vivemos uma situação parecida com a Ferrari que depois das mesmas três corridas, somava duas vitórias e um 2º lugar dando pinta de que seria a sua vez depois de tantos anos de penumbra. Mas aquilo na verdade foi um resultado mascarado pela própria Red Bull que enfrentou duas quebras. Tão logo o departamento técnico resolveu os problemas de confiabilidade, os defeitos da Ferrari começaram a aparecer e a Red Bull nadou de braçada.
Mais uma vez o genial projetista Adrian Newey fez um grande trabalho com o modelo RB19 e disso ninguém pode negar. O carro nasceu bom. Há quem aposte que a Red Bull vai vencer todas as 23 corridas do campeonato. Eu vejo um certo exagero nesta aposta. São muitos os contratempos que podem aparecer durante uma longa temporada como essa, por mais que se tenha o melhor carro. E como escrevi após o GP da Arábia Saudita em que Verstappen precisou largar de 15º por conta da quebra do semieixo, e por Sergio Pérez já ter trocado a central eletrônica e largado dos boxes na Austrália por uma falha nos freios, o RB19 por mais eficiente que seja, não é infalível.
Mas enquanto Aston Martin, Mercedes e Ferrari tentam encontrar o caminho para se aproximar da principal adversária, nos bastidores todos tentam achar algum motivo para tirar um pouco da força da Red Bull. Nesta semana, Fred Vasseur, o novo chefe da Ferrari, disse à imprensa que a punição que a Red Bull sofreu por ter estourado o limite do teto orçamentário em 2021 foi branda demais.
A equipe foi multada no ano passado em US$ 7 milhões e sofreu uma redução de 10% do tempo a que tem direito para desenvolver a parte aerodinâmica seus carros depois que a Federação Internacional de Automobilismo concluiu auditoria nas contas das equipes e constatou que a Red Bull havia estourado o limite de U$S 145 milhões. O estouro ficou dentro da margem de 5% quando as penas são mais brandas, mas como disse na época o chefe da Mercedes, Toto Wolff, significa para os outros terem deixado de testar uma asa dianteira ou outro componente, o que reflete em alguns décimos de segundo a mais.
Para equilibrar a disputa entre as equipes, desde o ano passado a F1 adotou uma regra obedecendo a ordem inversa do campeonato do ano anterior, dando às equipes com menos pontos, mais tempo de uso do túnel de vento e de CFD (software de desenvolvimento aerodinâmico) para trabalhar no desenvolvimento de seus carros. Por ter sido a campeã de 2022, a Red Bull tem por regulamento apenas 70% desse tempo, se comparado aos 115% que a Williams (última colocada de 2022) tem ao longo do ano. Tirando os 10% que a Red Bull perdeu por infringir a regra do teto de gastos, ela tem apenas 1.440 horas para desenvolver a aerodinâmica de seus carros, cerca de 40% a menos que a Ferrari e 45% a menos que a Mercedes, vice-campeã e 3ª colocadas respectivamente no ano passado.
Mas a Red Bull não está para brincadeira. Newey certamente jogou todas as suas fichas no desenvolvimento do RB19 de Verstappen e Pérez antes do começo da temporada, e um carro que já era bom em 2022, ficou ótimo em 2023. Quando a turma de trás der um passo à frente no desenvolvimento de seus carros, será tarde. Adeus campeonato.