COPA FUTSAL SALÃO

Atleta paraisense é convocada para a seleção brasileira de futsal

Fruto do projeto de futebol de salão da prefeitura, Janaína Godoi é uma das maiores promessas do Brasil na modalidade
Por: Ralph Diniz | Categoria: Esporte | 01-05-2023 06:03 | 1185
Janaína Godoi vai defender as cores do Brasil no Torneio Internacional, em Santa Catarina, no mês de maio
Janaína Godoi vai defender as cores do Brasil no Torneio Internacional, em Santa Catarina, no mês de maio Foto: Reproduçãoa

Era uma vez uma jovem chamada Janaína Godoi, uma menina de origem humilde que vivia em São Sebastião do Paraíso e que, como tantas outras garotas, sonhava em ser a personagem principal de um grande conto de fadas. Mas em vez de sonhar com príncipes encantados e castelos mágicos, Janaína desejava trilhar um caminho diferente: em vez de uma coroa na cabeça, uma bola nos pés; no lugar dos sapatinhos de cristal, um par de chuteiras, e substituindo o vestido deslumbrante do grande baile, o uniforme verde e amarelo da seleção brasileira.

E aos 21 anos, a jovem acaba de realizar o grande sonho de sua vida. Nesta semana, Janaína foi convocada pela primeira vez para a seleção brasileira de futsal principal, que disputará o Torneio Internacional, em Santa Catarina, no próximo mês. Revelada pelo projeto de futebol de salão da prefeitura, a paraisense é atleta do São José, time do interior de São Paulo, que disputa a Liga Nacional.

Feliz e orgulhosa por poder representar seu País e sua cidade, Janaína declara que foi pega de surpresa e que não esperava ser convocada tão cedo. Agora, ela espera para continuar vivendo o seu conto de fadas. “Estou muito motivada e grata por tudo. Foi muito rápido, até porque eu tinha acabado de mudar de clube e estava me adaptando ainda, mas o nosso começo de temporada foi muito bom e isso acabou nos dando uma visibilidade muito boa. Acabei de concretizar o meu maior sonho, que era ser convocada para a seleção brasileira. Mas tenho outros, como ganhar títulos importantes”.

Assim como acontece com a maioria dos jogadores e jogadoras de futebol brasileiros, Janaína começou a escrever o seu destino no esporte muito cedo, nas peladas com os amigos na rua e na escola. Seus pais, Valdir e Marilei Godoi, perceberam que a menina levava jeito com a bola nos pés e a matricularam na escolinha de futebol do Tubarão.

E como em todo bom conto de fadas, a história da jovem paraisense também teve uma espécie de “fada-madrinha”: o professor Adalberto Alves, o Betinho. Foi ele quem percebeu que Janaína tinha um encanto diferente nas quadras. Só havia um “porém”: não existia a categoria sub-11 feminina na escolinha do município. Mas isso não era um problema para a garota, que se destacava jogando com adversárias das categorias sub-13 e sub-15.

Diante daquele talento, Betinho formou um novo time, com meninas da faixa etária de Janaína, e levou a garota para ser treinada por ele no projeto da prefeitura. “Quem me falou da Janaína pela primeira vez foi o professor Murilo, do Noraldino Lima. Ele me dizia que tinha uma menina diferente na escola. Isso quando ela tinha oito para nove anos”, conta o professor.

E a equipe se saiu tão bem que, em pouco tempo, já era destaque em toda a região, fazendo grandes jogos e vencendo campeonatos. E foi ali que Janaína percebeu que o futsal poderia ser algo muito maior do que uma simples diversão. “Eu percebi isso quando, jogando pela Escola Estadual Paraisense, ganhamos a fase estadual do JEMG (Jogos Escolares de Minas Gerais) e representamos o estado no Campeonato Brasileiro Escolar. Nós estávamos entre as melhores do País, e eu pude perceber que tinha condições de, um dia, me tornar uma atleta profissional e viver disso”, lembra a atleta, que ajudou o time a conquistar o bicampeonato mineiro e terminar o nacional em quarto lugar, em 2014, e terceiro em 2015.

Foi nesse momento que olheiros de equipe do Barateiro Futsal, de Brusque, Santa Catarina, se encantaram com o talento de Janaína e a levaram para jogar no clube, considerado uma das grandes potências do País e contava com a maior jogadora do mundo da modalidade, a ala Amandinha. “Minha mãe me acompanhou para conhecermos a estrutura da equipe, como as coisas funcionavam. Era a melhor equipe do Brasil. Sair de casa aos 14 anos e morar sozinha foi o momento mais difícil, mas a minha adaptação foi rápida. Em 2016 eu me mudei e, em 2018, com 17 anos, eu já havia sido convocada para a seleção sub-20”, recorda.

Janaína permaneceu no clube catarinense até o final de 2022, e fez questão de aproveitar cada oportunidade que recebeu durante as seis temporadas que permaneceu em Brusque. Entre um “baile” e outro pelas quadras do Brasil, a paraisense cursava a faculdade de Educação Física. Hoje, graduada e jogando pelo São José, ela continua sonhando com novos capítulos para a sua história. “Quero vencer uma Liga Nacional, ganhar títulos importantes. Também estou cursando fisioterapia e, para o meu futuro, penso em associar o conhecimento das duas faculdades e continuar nessa área (esportiva). A carreira no futsal é muito curta e eu preciso abrir esse leque”, planeja a jogadora.

E, apesar de estar alçando voos cada vez mais altos, Janaína não se esquece do lugar onde viveu os primeiros capítulos de sua história e dos personagens que a ajudaram durante a jornada. “O Betinho abriu as portas para mim e me ensinou muita coisa. Tudo o que eu sou hoje é graças ao trabalho dele, aos meus pais e à prefeitura de São Sebastião do Paraíso, que sempre apoiou muito o futsal o feminino e na minha época não foi diferente. Eles nos apoiavam em todas as viagens, todos os jogos. Foi onde eu fui vista, por isso eu agradeço à cidade, que foi tão especial na minha trajetória”.

Por fim, Betinho relata que faz questão de contar a história de Janaína para as meninas que estão começando a dar os primeiros passos no futsal na escolinha do município. Como um mestre orgulhoso, ele exalta a coragem e a dedicação da aluna ilustre, que provou que não há conto de fadas impossível para quem trabalha e ousa sonhar os grandes sonhos. “Eu sempre gosto de citar o nome da Janaína nas palestras motivacionais. Gosto de contar para as meninas sobre o quanto ela se dedicava. Se tivesse que treinar nos feriados ou aos domingos, ela ia. Se pedia para fazer academia, ela fazia. Chegava a treinar sete dias por semana. Eu faço questão de dizer que ela saiu dos nossos braços para a seleção brasileira porque, além de talentosa, ela trabalhava muito”, conclui o primeiro treinador.

Com Betinho (à esquerda), Janaína (última à direita) ajudou o time de Paraíso a conquistar a medalha de bronze no nacional escolar em 2015