AGRONEGÓCIOS

Planejamento para a pré e pós colheita é fundamental para se agregar valores

Por: Nelson Duarte | Categoria: Agricultura | 06-05-2023 05:08 | 1946
Engenheiro Agrônomo Samuel Henrique Diogo
Engenheiro Agrônomo Samuel Henrique Diogo Foto: Reprodução

“Nossa região produz cafés que se destacam no mercado pela qualidade da bebida, e isso na hora da comercialização tem considerável agregamento de valores, mas às vezes o produtor deixa de usufruir o potencial de sua lavoura em termos de retorno financeiro, justamente por não fazer planejamento bem feito na pré e pós-colheita”. Quem afirma é o engenheiro agrônomo Samuel Henrique Diogo, ao analisar para o Sudoeste Agro, medidas que sendo observadas resultam em melhores ganhos para o cafeicultor.

Existem ferramentas, contas que a gente consegue fazer para chegarmos num planejamento macro, não micro, porque sabemos ser a cafeicultura atividade à céu aberto, mas se produtor no momento que antecede a safra fizer previsão de safra bem feita, realista, do volume de café que sua estrutura de pós colheita receberá, consegue-se então prever se organizar, salienta Samuel Diogo. Cita, por exemplo, um produtor que vai colher mil sacas. Entende-se que terá em torno de 750 sacas de café de árvore, e 25% (250 sacas) café de varrição. Planejando a colheita para 60 ou 75 dias, a partir deste número ele consegue saber o volume total. Imaginemos que 500 litros de café correspondem a uma saca de 60 quilos, então receberemos 500 mil litros de café, e então se preparar para o volume diário em litros de café que deve receber na sua estrutura de pós colheita para o processo de secagem, afirma.

“O que pudermos aproveitar “da janela” de cereja, estamos agregando valor ao nosso produto, uma vez o tempo vai passando, temos café caindo no chão, e então o percentual de cafés de varrição aumento, em vez de 25% de varrição, passa para 30, 40, 50 por cento, o que significa perda de dinheiro, que poderia estar agregando ao café de árvore. Sabemos que existem regiões que têm problema de bebida, mas não é o que representa nosso parque cafeeiro, porque no geral é região muito abençoada de alto potencial produtivo, de qualidade de bebida. Então, o momento que antecede a colheita, é chave, o produtor tem que estar atento ao nível de cafés verdes para iniciar a colheita, de acordo com o potencial da sua estrutura de pós colheita, visando aproveitar ao máximo, o potencial de bebida que é o diferencial de nossa região”, observa Samuel Diogo.

“Quando falamos em planejamento macro, se formos estimar 60 ou 75 dias para a colheita devemos acrescentar mais 10 dias (imaginando a possibilidade de período de chuva no período). Novamente exemplificando, levando-se em conta um cálculo do recebimento de 6600 litros de café diariamente, a partir de então, será estipulado quantos colhedores serão necessários, se for manual, ou quantos litros a máquina recolherá por dia. Se em determinado dia não se conseguir atingir o número planejado, no outro é preciso haver compensação. É interessante, porque o quanto mais cedo se conseguir “desocupar” a lavoura ela terá tempo de recuperação para a próxima florada ou práticas de poda mais cedo”.

Samuel diz ser também aconselhável se fazer tratamento de pós colheita para proteger as plantas, e há resultados de pesquisas apontando ser prática que dá resultado. “O tratamento é feito com cobre, e conforme provado por estudo científico, o ideal seria dentro de 48 horas após a colheita se fazer o tratamento, para fechar todos ferimentos causados pela colheita. Então é importante planejar a logística da fazenda para conseguir atender a esta pratica em um momento de grande prática acontecendo ao mesmo tempo. Seria um grande avanço. Caso não seja possível, deve ser feito pelo menos tratamento fúngico no pré-florada”.

Para se conseguir contornar as diferentes floradas que ocorreram na lavoura, o engenheiro agrônomo aconselha que seja avaliado o percentual de cafés verdes, e então dar início a colheita, assim que for possível. Caso tenhamos uma colheita com consideráveis volumes de chuva, consequentemente o volume de cafés especiais no mercado será menor, e tende influenciar na valorização, sabemos do grande de desafio de produzir cafés especiais em colheitas com chuva, porém temos uma grande tendência de ágios nos preços para estes, retribuindo todo esse esforço.

No pós-colheita, Samuel diz sobre a importância de se fazer o manejo correto nos terreiros. “A rotação do café é fundamental, quanto mais rotacionado melhor se consegue fazer a troca de umidade. Para quem tiver a estrutura utilizando secadores, faz sempre a chegada no terreiro, e acaba de chegar no secador”.

Na região observa-se que em grande parte de cafezais esqueletados já se iniciou a colheita, justamente para se otimizar a mão de obra, porque a janela do cereja é curta, e se não for colhido a tempo, depois quando estiver seco, torna-se mais difícil fazer a colheita, além de coincidir com o período em que grande parte das fazendas terão iniciado suas colheitas, e haverá menor oferta de mão de obra.

Samuel enfatiza que “o café deve ser retirado, para que a planta finalize o ciclo, e não fique sobrecarregada. O grão não sendo colhido, em certo momento irá cair e será residual para que a broca se propague no ano seguinte, e não se pode proporcionar condição favorável a ela de estar presente no próximo ano que será de carga”.

Devido ao período chuvoso e dias de pouca luminosidade e muita umidade, quando da virada de estação, houve grande avanço na maturação e já se vê cafés secando nos ponteiros e caindo, percentual além do que seria normal. “Acredito que, quando muito dentro de trinta dias teremos o start de maneira generalizada na colheita. Em algumas regiões como em Boa Esperança, Carmo o pessoal está aproveitando “esta janela de cafés cereja”, principalmente para evitar perdas de qualidade, e otimização de maquinários, mas em nossa região ainda aguarda-se um pouco mais, principalmente regiões de altitudes elevadas”.

Samuel Diogo observa que “se o produtor tiver um capricho a mais, todo esforço que fizer será recompensado. São inúmeros os benefícios de explorar a bebida que tem no talhão, desocupar a planta mais cedo, e lavouras que vão entrar em esquema de safra zero, deve-se fazer a poda o quanto antes porque é comprovado que favorece no crescimento”.

A tendência é que será um ano positivo, safra maior que no ano passado. No tocante à comercialização, o engenheiro agrônomo Samuel Diogo analisa: “Percebemos que quanto à condição climática nada faltou desde o início da formação desta safra. O estoque internacional é baixo, mas existe uma ponderação que precisa ser levada em conta, ou seja, alguns fatores que entram no custo de produção, já estão menores relação ao ano passado, como os adubos, insumos, e historicamente sempre houve uma linha paralela, foram poucos momentos em que custo de produção foi baixo e o preço do café, elevado. Imagina-se uma safra capaz de abastecer a demanda, e o Brasil se manter como o maior produtor mundial, sem sombra de dúvidas, mantendo também abastecido o mercado interno, mas precisa-se ficar atento à correlação porque na linha história ela sempre acompanhou.

A tendência é de preços serem mantidos, e o mercado de olho no clima. Caso houver alguma interferência climática poderá haver oportunidade de preços mais atrativos, no entanto pode ser que alguns produtores sejam afetados. Algumas regiões tem sofrido com chuvas de granizo. Entende-se que será uma safra em que o produtor irá pagar seus custos e ter seu lucro para se manter na atividade”, conclui.

  • SAMUEL HENRIQUE DIOGO Engenheiro Agrônomo, Mestre em Sistema de Produção na Agropecuária, Especialista em Cafeicultura, MBA Gestão Empresarial, Classificador e Degustador de Café, Consultor em Assistência Técnica. Professor na disciplina Agricultura na Faculdade Libertas, Gerente-Comercial na Souza Cafés Corretora de Mercadorias, Consultor Agro – Sicoob Cocapec
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