O mais longo calendário da história da F1 com 24 corridas programadas, sofreu a segunda baixa: o GP da Emilia Romagna que seria disputado neste final de semana em Ímola, foi cancelado por conta das fortes chuvas que tem caído nos últimos dias e causado inundações, mortes, perdas e danos à população na região norte da Itália.
A primeira baixa foi o GP da China que seria disputado em 16 de abril e deixou um buraco de quase um mês no calendário. O motivo foi a política do governo chinês no começo do ano em reduzir a zero os casos de Covid no país e a F1 não quis correr o risco de seus integrantes terem que cumprir quarentena para entrar ou sair de lá. Ainda em janeiro a prova foi cancelada e não houve acordo com Portugal e Turquia para substituí-la. Ainda assim seria recorde com 23 etapas, mas agora o calendário iguala ao do ano passado com 22 GPs.
O motivo agora é de força maior na região de Ímola. A prova faria parte da primeira de duas rodadas triplas do calendário com Mônaco e Espanha na sequência dos dois finais de semana seguintes. Não está certo se haverá remarcação do GP da Emilia Romagna para outra data. Provavelmente não, por conta de um calendário cada vez mais inchado com o excesso de corridas. Seria honesto se a F1 parasse para repensar se vale a pena se expor com tantas corridas, mas a intenção da Liberty Media é chegar a um total de 25 Grandes Prêmios por ano, contrariando a vontade das equipes e da maioria das pessoas que viajam para todas as etapas.
Do ponto de vista lucrativo é rentável. Desde que a Liberty assumiu o controle da F1 em 2017, houve crescimento das receitas. Ano passado a categoria arrecadou US$2,57 bilhões, e comemora o crescimento de 6% no primeiro trimestre de 2023 em relação ao mesmo período do ano passado. Só para efeito de comparação, no último ano sob o comando de Bernie Ecclestone, que era raposa velha em fechar contratos lucrativos, a arrecadação foi de US$1,8 bilhão em 2016 que mesmo corrigido pela inflação fica abaixo dos números conquistados pela nova dona dos direitos comerciais da F1. As equipes também ganham muito mais com isso na divisão das receitas. Mas por outro lado, o excesso de corridas e longas viagens tem colocado em risco a saúde mental das pessoas que trabalham na F1. É de uma insanidade absurda um deslocamento de Baku, no Azerbaijão, para Miami, nos Estados Unidos, em uma semana. E essa rodada tripla, Ímola-Mônaco-Espanha, não fosse o cancelamento deste final de semana, acaba sendo ainda mais desgastante em termos logísticos, mesmo em território europeu, porque todo o deslocamento de equipamentos, motorhomes, vão por terra e as montagens e desmontagens de toda a parafernália aumentam a demanda em comparação com as viagens intercontinentais.
A Liberty planeja regionalizar o calendário nos próximos anos, mas sabemos que não é uma tarefa fácil de se chegar a um consenso. Há muitos interesses envolvidos e valores pagos a mais por alguns promotores de corridas para realizar o seu GP nas datas que melhor lhes convém. É nessas horas que a F1 acaba dando tiro no próprio pé quando fala em sustentabilidade, mas não consegue fazer a sua parte com menos corridas no calendário e evitando grandes deslocamentos que poderiam ser encurtados ou evitados. Uma coisa é a Nascar fazer 35 corridas por ano, todas dentro dos Estados Unidos. Outra bem diferente é a F1 focar em 25 provas por ano com viagens intercontinentais. Não há saúde física e mental que aguente e uma hora a conta pode chegar. Para se ter ideia da loucura deste calendário, depois do GP da Espanha, serão 7 GPs em dez finais de semana até a parada de agosto para as férias de verão na Europa, enquanto a parte final do campeonato reserva mais 8 provas em outros 10 finais de semana. É muita coisa.
Em meio aos problemas graves que a população dos arredores do Circuito Enzo e Dino Ferrari, em Ímola, sofrem - e aqui no Brasil todos os anos nos deparamos as tragédias naturais e o quanto são dolorosas para quem perdeu tudo nas enchentes - o cancelamento do GP da Emilia Romagna caiu como uma luva para o pessoal de montagem, desmontagem e mecânicos que ganharam um fim de semana livre para recarregar as baterias antes de prosseguirem com a maratona que vem pela frente.