POLEPOSITION

Não é assim que a F1 vai conquistar os norte-americanos

Por: Sérgio Magalhães | Categoria: Esporte | 03-06-2023 06:48 | 879
A F1 precisa refletir antes de marcar o GP de Mônaco para o mesmo dia das 500 Milhas de Indianápolis
A F1 precisa refletir antes de marcar o GP de Mônaco para o mesmo dia das 500 Milhas de Indianápolis Foto: Chris Jones / IndyCar

Que foto espetacular essa que ilustra a coluna! Ela diz muito sobre o tamanho das 500 Milhas de Indianápolis e eu vejo um erro crasso da F1 quando tenta ganhar popularidade nos Estados Unidos e marca o GP de Mônaco para o mesmo dia. Qual terá sido a reflexão dos norte-americanos que porventura assistiram as duas corridas no último domingo ao final de uma fabulosa Indy 500 na mais pura essência de velocidade, imprevisibilidade e ultrapassagens, e a procissão de Mônaco onde ninguém ultrapassa ninguém?

A Liberty Media nunca vai admitir, mas isso pode ser um tiro no pé da própria F1 que ultimamente tem pregado a explosão de popularidade em território americano. Será mesmo? Se tirarmos os shows musicais que rolam em Austin, a badalação em torno do GP de Miami que ainda não diz a que veio para os americanos e tampouco nos fãs da F1 mundo afora, e os altos investimentos e marketing que estão sendo feitos para o GP de Las Vegas, será que os norte-americanos estão caindo nas graças da F1 quando eles têm categorias como Indy e Nascar?

Me chamou atenção a coluna de Paul Stoddart, ex-dono da Minardi e hoje colunista do site “Racing News 365” do quanto a F1 precisa investir nas transmissões de TV nos EUA para conquistar o público alvo. Ninguém sabe quando e onde vai passar as corridas com transmissões pelas metades, interrompidas por outros eventos e inúmeros comerciais, o que não ajuda em nada atrair novos fãs.

Não, a F1 ainda não é uma popularidade nos EUA e nem será marcando para o mesmo dia de uma das corridas mais espetaculares do planeta como as 500 Milhas de Indianápolis, o GP mais monótono de seu calendário, ainda que Mônaco seja uma das pista mais desafiadoras para o corpo e a mente dos pilotos onde a habilidade é testada o tempo todo a milímetros do guardrail. Não, não é esse o caminho e a Liberty deveria refletir sobre isso na hora de elaborar o calendário do ano que vem.

Dito isto, embora o GP de Mônaco tenha sido bastante questionado de uns anos para cá sobre sua antiguidade para os padrões atuais da F1 com carros cada vez maiores por conta de mudanças de regulamento, o que torna ainda mais complicado de ultrapassar nas ruas estreitas do principado, quem aprecia a bela arte de pilotar foi brindado com as espetaculares atuações de Max Verstappen e Fernando Alonso.

O que Verstappen fez no sábado para arrancar a pole position das mãos de Alonso foi de uma destreza ímpar para ser contada no futuro para os filhos e netos. O holandês saiu dos boxes no limite do estouro do cronômetro sem tempo de aquecer de forma adequada os pneus e por conta disso fez os dois primeiros setores da pista 0s2 (dois décimos) acima do tempo de Alonso, para descontar tudo no último setor e fazer a pole 0s084 mais rápido. Na corrida, Verstappen tirou leite de pedra ao levar carro da Red Bull até a 55ª volta com os pneus médios para evitar um overcut (parar nos boxes depois do adversário para ganhar a posição no retorno à pista) de Alonso que largou com os pneus duros e tinha um coringa na manga para surpreender Verstappen não fosse a maestria do piloto da Red Bull, agora líder disparado do campeonato.

Do lado de Alonso, é bacana ver a empolgação de um piloto dos mais talentosos do grid, prestes a completar 42 anos, dizer ao engenheiro, “estou pilotando como um animal”(!), dando o máximo de si e tirando tudo do carro de forma extremamente competitiva. Um Alonso que já deu chilique no passado por muito menos, estava feliz no pódio com o 2º lugar em Mônaco e nem se importou quando a Aston Martin equivocou em chamá-lo para os boxes quando começou a cair os primeiros pingos de chuva e colocou pneus médios no momento em que a pista começou a virar um sabão com a chuva que apertou.

Esses momentos são mágicos, e apenas por isso valha a pena manter Mônaco no calendário da F1, ainda que na maioria das vezes não proporcione corridas boas.

A F1 está na Espanha para a sétima etapa do campeonato no Circuito da Catalunha, que é uma espécie de campo de provas para as equipes onde as qualidades e deficiências dos carros ficam visíveis. Será uma prova de fogo para Aston Martin e principalmente Mercedes e Ferrari que trazem extenso pacote de mudanças em seus carros. Se der certo, poderemos ter algumas surpresas pela frente. Se não funcionar, a Red Bull agradece e Verstappen seguirá nadando de braçada.