Entretanto
Por: Renato Zupo | Categoria: Justiça | 17-06-2023 13:39 | 1589
Governo “in door”
Em recentes eventos Lula da Silva se viu em meio às vaias de uma plateia agressiva: no Bahia Farm Show e na Marcha para Jesus. É um presidente que somente pode fazer pronunciamentos “in door”, em ambiente fechado e para poucos militantes escolhidos. Aconteceria também com Bolsonaro, ainda que em menor grau. Isto é consequência clara da polarização da política. Lula da Silva não dissimula mais o socialismo assumido como fundamento de seu governo e Bolsonaro, muito por sua atuação politicamente desastrosa durante a pandemia, adquiriu ares de líder de extrema direita conservadora radical, o que nunca foi. Lula foi eleito (?) sem plano de governo e sua plataforma de campanha era uma só: tirar Jair Bolsonaro do poder. Conseguiu, sabe-se lá como, graças à rejeição crescente de seu adversário, mas agora colhe os efeitos de sua desastrosa conduta pública recente, ligada a escândalos de corrupção. Não tem legitimidade para gerir a nação.
A Era do fogo
Incêndios no Canadá geram uma aura de fumaça que infecta o hemisfério norte com consequências para os EUA e sobretudo para os estados de New York e Connecticut, próximos da fronteira canadense. Cientistas dizem que é a “era do fogo”, mas ninguém combate as políticas ambientais do primeiro ministro canadense e queridinho da esquerda, Justin Trudeau. Se o impacto ambiental fosse por aqui a culpa seria do desmatamento provocado por Jair Bolsonaro. Isso demonstra que o meio ambiente, assim como o combate ao efeito estufa e o feminismo, são só bandeiras para combater opositores políticos e ganhar eleitores. A biosfera e as mulheres não estão conquistando nada de útil com isso. A ditadura cultural infecta formadores de opinião e faz com que as pessoas parem de pensar e apenas ruminem informações, sem nenhum juízo crítico. Informação sem conhecimento - é assim que se tange a massa de manobra através da dominação ideológica.
Melhor polícia do mundo
A nossa polícia é a única do planeta que consegue prender mais de mil terroristas de uma vez só e sem precisar apelar para a violência. Isso é que é polícia! Pouco importa se entre estes terroristas havia idosos, donas de casa e aposentados por invalidez – são só detalhes. E alguns continuam presos. Competência é isso, digna de nota e de exemplo para os serviços secretos israelense e inglês e para a CIA e o FBI norte-americanos. Parabéns.
Continua preso
Por falar nisso, meu bom amigo, o Padre Kelmon, me lembrou agora o que eu jamais deveria ter esquecido: Roberto Jefferson está com setenta anos recém-completados e continua preso, também. Comemorou aniversário e soprou velinhas atrás das grades, onde foi parar porque recebeu à bala a Polícia Federal que o queria prender pelo ignominioso crime de manifestação de opinião em redes sociais. Talvez cansado de injustiças, talvez por asco diante do jogo de cartas marcadas em que os bons sempre perdem, deu os tiros. Agiu errado, mas milhões de brasileiros atirariam com ele.
Deltan e a vingança
Os tribunais de contas da União e dos estados são órgãos consultivos ligados ao Poder Legislativo e não ao Judiciário, apesar do mal escolhido nome “Tribunal”. São fiscais contábeis que julgam contas, não condenam ninguém à cadeia ou ao pagamento de indenizações ou ao reembolso do que quer que seja. Não mandam nada – apenas emitem pareceres que, se não forem seguidos por legisladores e juízes, morrem na praia. Suas decisões não vinculam, não obrigam, a outros órgãos e poderes da República. Nessa toada, o Tribunal de Contas da União “julgou” as contas do pessoal da Lavajato, Deltan à frente, e entendeu que os gastos do MP federal liderado pelos procuradores de Curitiba foram “antieconômicos”. O Poder Judiciário havia a princípio blindado Dallagnol e seus pares dos efeitos do parecer, mas o Superior Tribunal de Justiça – STJ, primo pobre do STF, consolidou a reprovação das contas. O STF teria competência para corrigir a isso tudo, até porque é quem governa o país, na prática, mas acham mesmo que Deltan tem esperanças de alguma reviravolta no Supremo?
Já deu
Só eu que acho estranho Daniel Silveira condenado à mesma pena de um estuprador por falar besteiras na internet. Só eu acho estranho Roberto Jefferson preso por ordem da própria vítima do crime que teria cometido. Só eu acho mais estranho ainda alguns baderneiros de 8 de janeiro também presos até hoje, dentre eles idosos e senhoras. Também sou só eu que acho estranho o Ministro Alexandre de Moraes soltando mulheres indiciadas pelos atos antidemocráticos de 08/01 justamente no Dia Internacional da Mulher (nota: no Dia dos Namorados, vai soltar também namorados?). Também sou só eu que acho inconcebível do ponto de vista jurídico um TSE competente para julgar atos posteriores às eleições e mandar nas audiências de custódia dos juízes criminais do Brasil inteiro, como também não consigo entender como um colega juiz de Belo Horizonte foi afastado porque julgou, e outra colega, Ludmila Grilo, foi aposentada compulsoriamente porque manifesta opinião em redes sociais. Só eu que estou vendo isso e estou sozinho. E cansado. Já deu.
O dito pelo não dito:
“O terrorismo é um modo de impor a própria vontade por meio de atos de terror. Ele emprega sistematicamente a violência para fins políticos, promovendo a desorganização da sociedade e desejando a tomada do poder.” (Dom Jaime Spengler, religioso brasileiro)
RENATO ZUPO – Magistrado, é Juiz de Direito
na Comarca de Araxá, Escritor