Quadragésima oitava volta do GP de Miami, 5ª etapa do Mundial em 7 de maio: Max Verstappen coloca seu Red Bull RB19 por fora no final da reta dos boxes, ultrapassa Sergio Pérez e assume a liderança da prova. Foi a última ultrapassagem de Verstappen na F1. Mas como assim? De lá para cá se passaram outros três Grandes Prêmios: Mônaco, Espanha e Canadá no último final de semana, e o holandês não precisou de ultrapassar ninguém porque largou sempre da pole position e liderou todas as 223 voltas sem perder a liderança nem nas paradas para troca de pneus. Um domínio absoluto - a última vez que um piloto alcançou tal feito foi Sebastian Vettel, também com a Red Bull, em 2012. Curiosamente, o GP de Miami foi aquela corrida em que se criou a expectativa de que Pérez pudesse assumir a liderança do campeonato já que largava da pole e Verstappen da 9ª posição. Desde então, Pérez mergulhou-se numa espiral negativa somando apenas 39 pontos contra 102 de Verstappen. A diferença depois de 8 GPs está em 69 pontos (195 a 126) e mesmo que Pérez vença as próximas 11 corridas com Verstappen terminando em 2º, não será suficiente para o mexicano ultrapassar o companheiro de equipe. E sem outro adversário com equipamento capaz de desbancar a Red Bull em condições normais de corrida, Verstappen está sendo adversário de si próprio.
Na Espanha o holandês recebeu três advertência por ultrapassar os limites da pista enquanto acelerava forte para fazer a volta mais rápida da corrida mesmo sem ter ninguém nos seus retrovisores.
Com a vitória no Canadá, Verstappen igualou as 41 de Ayrton Senna e a 10ª em que liderou de ponta a ponta. E vem numa sequência incrível de 27 provas - desde a 4ª etapa do ano passado - terminando na zona de pontos tendo como pior resultado dois 6º lugares. Mas nada disso é por acaso e tudo é fruto de um carro espetacular como o RB19 e do talento incrível do jovem holandês de 25 anos que vai se transformando em uma máquina de ganhar corridas como já vimos outras num passado recente como Schumacher, Vettel e Hamilton.
Esse binômio quase perfeito tem dois lados: o negativo é fazer com que pareça fácil demais vencer, dando a sensação de monotonia, quando na verdade não é bem assim. Em tudo na vida é preciso às vezes enxergar com outros olhos, e no esporte não é diferente. O GP do Canadá foi uma boa vitrine de disputas interessantes que tem acontecido neste campeonato como a de Alonso e Hamilton pelo 2º lugar, e uma série de ultrapassagens e desempenhos admiráveis no pelotão intermediário como o valente 7º lugar de Alex Albon com a capenga Williams com a qual liderou o segundo bloco da classificação de sábado, o Q2, sob chuva. Na corrida, o tailandês largou da 9ª posição e os seis pontos que somou, tirou a equipe da lanterna do campeonato, passando o bastão para a Alpha Tauri, e agora a Williams está um ponto atrás da Haas e a 2 da Alfa Romeo (7ª colocada), numa briga que vale muitos milhões de dólares da distribuição dos lucros da F1.
E o lado positivo de um domínio como o de Verstappen, é testemunhar a história sendo escrita. O esporte é feito de histórias e às vezes me pego pensando com meus botões de até onde esses números de Verstappen podem chegar com apenas 25 anos de idade e um futuro ainda pela frente. Só a título de curiosidade, Verstappen, hoje com 41 vitórias, tem a mesma idade que Ayrton Senna tinha quando ganhou a sua primeira corrida no chuvoso GP de Portugal de 1985. Verstappen estreou na F1 aos 17 anos em 2015.
Tudo isso é história que faz o esporte ser tão belo como ele é, como no emblemático pódio do GP do Canadá em que Adrian Newey, o pai do modelo RB19, subiu ao lado de Verstappen, Alonso e Hamilton para receber o troféu da vitória número 100 da Red Bull na F1. Ali haviam 21 títulos (7 de Hamilton, 2 de Verstappen, 2 de Alonso e 10 de Newey como projetista), e 376 vitórias (200 de Newey, 103 de Hamilton, 41 de Verstappen e 32 de Alonso).