Aristóteles Drummond*
Inacreditável que muitos de nossos políticos não tenham percebido o maior motivo para o presidente JK ocupar lugar de tanta simpatia entre os brasileiros. Morto há quase meio século, ele tem a imagem do homem cordial, alegre, generoso, além do grande realizador que deu a primeira arrancada rumo ao desenvolvimento em seu quinquênio, depois prosseguida nos anos dourados do período militar, com quatro bons presidentes em Castelo Branco, Costa e Silva, Médici e Figueiredo.
O que vem sendo passado de geração para geração foi a personalidade do criador de Brasília e da indústria automobilística, o político que não tinha ódio no coração. Enfrentou dois movimentos militares de oficiais da Aeronáutica em seu período e ele mesmo os anistiou. Governou com sorrisos, gostava de uma seresta. Este é o perfil do político por vocação, conciliador, hábil, com a grandeza dos cargos exercidos com sucesso e reconhecimento, como o de prefeito de BH, criador da Pampulha, governador de Minas e presidente do Plano de Metas e da mudança da capital. Nunca respondeu as caluniosas acusações do líder da oposição, o brilhante Carlos Lacerda, por ser homem de consciência tranquila e de fé. Como todos sabem, morreu em vida modesta.
Dele nunca se ouviu uma palavra de baixo calão, um insulto a políticos, jornalistas ou magistrados. Foi o presidente com boa presença internacional, obediente ao legado de Rio Branco, de que deveríamos manter boas relações com Washington e o Prata. Foi o mais português dos presidentes, reconhecimento só igualado anos depois por José Sarney e Itamar Franco.
Que diferença para o ressentido Lula, que só pensa em vingança, em afrontar o setor produtivo, a criticar as classes médias. Assim como foi tão diferente do Bolsonaro agressivo, polêmico por gosto, que construiu dedicadamente a derrota que infelicitou a nação, cercado por círculo íntimo de gente sem categoria.
JK teve ministros de ato nível moral, intelectual e representatividade política. Na fazenda, exemplares com José Maria Alkmin e Lucas Lopes; nas Relações Exteriores, Negrão de Lima; na Saúde, Mário Pinotti e Maurício de Medeiros e Amaral Peixoto. Nível igual ao dos militares. Hoje, o Ministério é uma caricatura completa, e mesmo Bolsonaro, que trabalhou com gente boa, teve falhas na Educação e na Saúde, duas pastas importantes.
Nos estados e municípios, a mesma coisa. Salvar a democracia não é perseguindo e prendendo, cassando mandatos por suposições, mas conciliar, honrar o voto popular, preservar a moralidade.
O olhar pelo retrovisor positivamente é melhor do que aceitar o quadro pobre de valores que vivemos.
Vamos conhecer a história do bom Brasil de JK, dos militares, de Sarney, Collor, FHC e Itamar, pois bom senso e categoria não têm distinção partidária. Todos admiram JK.
*Jornalista - (Fonte: Hoje em Dia 20/06/2023)