A responsabilidade socio-ambiental durante a aquisição de produtos tem se mostrado cada vez maior entre os consumidores, demonstrando que a utilização dos recursos naturais passou a ser uma preocupação maior, e a nortear um consumo mais consciente. Há uma crescente busca pelo desenvolvimento de organizações mais sustentáveis, que otimizam os processos produtivos, incluindo a sustentabilidade a favor dos negócios.
É o que mostra um estudo da pesquisadora do Instituto de Ciência, Tecnologia e Inovação (Ictin/UFLA - câmpus Paraíso) Geandra Alves Queiroz. A pesquisa avaliou seis multinacionais do ramo automotivo, quatro no Brasil e duas no Canadá, que já aplicam o conceito Lean Green - utilizando o sistema de produção enxuto associado com a prática da gestão ambiental nos seus processos operacionais, com o foco na redução de desperdícios.
A professora explica que o Lean Manufacturing é uma abordagem de gestão da produção já muito utilizada na indústria. "Ela tem como princípio básico a redução de desperdícios, visando agregar valor. Isso significa reduzir tudo o que o cliente não está disposto a pagar. Esses desperdícios estão caracterizados por: estoque, superprodução, processamento inadequado, movimentação desnecessária, transporte, defeito e espera. Já o Green Manufacturing pode ser definido como um sistema que ajuda a identificar, quantificar, avaliar e gerenciar o fluxo de resíduos ambientais, com o objetivo de reduzir e minimizar o impacto ambiental, enquanto também tenta maximizar a eficiência de recursos", explica a professora.
Ainda de acordo com a pesquisadora, a prática tem sido adotada para eliminar desperdícios na cadeia produtiva, reduzir custos e melhorar a qualidade e o tempo de entrega, ou seja, trata-se de um meio para tornar o processo produtivo mais eficiente. Ela acrescenta que a redução dos impactos ambientais tem sido tratada cada vez mais como fator de vantagem competitiva pelas organizações do ramo. Isso tem reflexos diretos nas estratégias de operações das empresas, tornando necessária a inclusão do desempenho ambiental como uma de suas prioridades competitivas", ressalta Geandra.
Os resultados encontrados pelo estudo produziram evidências que indicam que a utilização da produção enxuta associada à gestão ambiental nos processos produtivos contribui para a redução de desperdícios, e mostram sinergias entre as prioridades competitivas: o Lean é apontado como uma base para a gestão dos sistemas de produção, e as práticas Green são utilizadas, em geral, como complemento e para sustentar a inclusão do ambiente como prioridade competitiva.
"Quando a empresa busca eficiência no sistema produtivo, como por exemplo, uma mudança de layout, ela consegue tornar os processos mais rápidos, e com isso pode evitar mudanças no arranjo produtivo, no tempo de espera e reduzir consumo de energia de máquinas, por exem-plo",diz a pesquisadora.
Outra questão avaliada foi que, em todas as empresas observadas, existem conflitos competitivos - trade-offs, isto é, decisões que consistem na escolha de uma opção em detrimento de outra, entre algumas prioridades competitivas, sendo que o mais frequente entre as empresas analisadas é a necessidade de escolha entre custo e meio ambiente. "Ou seja, quando a empresa vê a possibilidade de uma mudança positiva sob o ponto de vista ambiental, mas avalia que escolher essa mudança pode acarretar maior tempo ou custo para a sua produção, a prioridade ambiental acaba sendo colocada em segundo plano, devido à viabilidade econômica", comenta.
Apesar desses conflitos de prioridades, de modo geral, o estudo mostrou que colocar Lean-Green em prática pode contribuir significativamente para a redução de impactos ambientais, principalmente no que tange ao consumo de recursos. As experiências permitiram comprovar o benefício da utilização do método para alcançar medidas mais concretas e sistêmicas de uso mais eficiente de recursos. Também mostrou que empresas multinacionais têm buscado colocar em prática o conceito de ecoeficiência, tendo também como incentivo às políticas internacionais para o meio ambiente mais rígidas. Essas organizações têm conseguido combinar os aspectos de valor econômico e valor social e ambiental.
O estudo "Estratégias de operações e práticas Lean-Green: um estudo de casos múltiplos em empresas do setor automotivo" está disponível na revista internacional Sustainability. (por Alana Karina Vieira de Freitas)