POLEPOSITION

Na F1 a ordem é pegar ou largar

Por: Sérgio Magalhães | Categoria: Esporte | 15-07-2023 03:30 | 757
O sorriso sempre presente, o que faz de Daniel Ricciardo um dos pilotos mais carismáticos da F1
O sorriso sempre presente, o que faz de Daniel Ricciardo um dos pilotos mais carismáticos da F1 Foto: Alpha Tauri/Divulgação

Mesmo nos momentos mais difíceis da carreira no ano passado, Daniel Ricciardo não perdeu o bom humor e o sorriso que faz desse australiano de 34 anos uma das pessoas mais carismáticas da F1. Por isso é bom vê-lo de volta ao grid já no próximo final de semana do GP da Hungria, bem antes do que se imaginava depois que resolveu tirar um ano sabático em 2023. Sabático foi o melhor termo encontrado para quem havia sido demitido da McLaren por conta dos maus resultados e não tinha nenhuma outra vaga de titular disponível para que pudesse ao menos mudar de ambiente e tentar se reencontrar novamente. Mas restou-lhe a vaga de piloto de testes e reserva da Red Bull, o que àquela altura não era nada mal para quem estava praticamente dando adeus à F1 de forma desacreditada.

Mas não sei se retornar por uma equipe com o pior carro do grid será uma boa. Ricciardo ficou entre a cruz e a espada. Como se diz na linguagem popular, era pegar ou largar a oportunidade de retornar ao grid pela Alpha Tauri. De qualquer forma será uma missão difícil para Ricciardo, tão complicada quanto foi para o holandês Nyck de Vries que não teve tempo suficiente para se adaptar à F1 e a um carro ruim como o AT04 porque a paciência de Helmut Marko, consultor e mandachuva da Red Bull, dona da Alpha Tauri, foi ainda mais curta que o tempo que o pobre De Vries teve: apenas dez finais de semana de corrida num campeonato que não atingiu a metade - restam outras 12 provas.

É verdade que ele cometeu vários erros, e embora tenha chegado tarde à F1 para os padrões atuais, aos 28 anos, De Vries era um novato que tinha no currículo apenas uma corrida, o GP da Itália do ano passado quando substituiu Alex Albon que precisou passar por uma cirurgia de emergência, e chamou atenção ao terminar em 9º com a Williams, pontuando logo na estreia. O ótimo desempenho com um carro o qual ele não conhecia colocou De Vries nas rodinhas de conversas de F1 e nos radares de alguns chefes de equipe, principalmente de Helmut Marko, o homem que tem por hábito colocar o doce na boca de seus pilotos, mas também de tirar sem dó e nem piedade. De Vries foi mais uma de suas vítimas.

Não é bom quando um piloto é demitido no meio da temporada e sem ter tido o tempo necessário para mostrar a sua capacidade. Nyck foi campeão da F2 em 2019 e da Fórmula E em 2021 (pra quem não sabe, o Campeonato Mundial de carros 100% elétricos, chancelado pela Federação Internacional de Automobilismo), ou seja, não é nenhum zé ninguém que caiu de paraquedas na F1. Tanto é que tinha contrato com a Mercedes e era piloto reserva. Mas com a chegada de Mick Schumacher para a mesma função este ano, a Mercedes liberou De Vries que acabou caindo no lugar errado e na hora errada, uma máxima de quando as coisas não dão certo em muitos segmentos da vida, principalmente no automobilismo. O próprio chefe de engenharia da Alpha Tauri, Jonathan Eddolls, disse na semana do GP da Inglaterra que esse carro da Alpha Tauri não era fácil para um novato como De Vries se adaptar.

Vida que segue, Nyck De Vries pela idade, pouca experiência com a F1 e a imagem arranhada, talvez possa ter acelerado pela última vez na F1 em Silverstone no domingo passado. Em dez corridas não marcou nenhum ponto e ocupa a lanterna do campeonato, atrás de Logan Sargeant, da Williams, que também não pontuou, mas tem um 11º lugar como melhor resultado. A Alpha Tauri é a última colocada entre as equipes com apenas 2 pontos conquistados por Yuki Tsunoda com dois 10º lugares na Austrália e no Azerbaijão.

Resta saber agora o que Daniel Ricciardo será capaz de fazer com um carro ruim. Experiência ele tem de sobra, mas se não entregar o que o exigente Helmut Marko quer, seu fim na F1 da mesma forma pode estar próximo. Mas o desejo é de que o sempre sorridente australiano possa aproveitar a nova chance que está tendo para resgatar a imagem que ficou arranhada no ano passado com os maus desempenhos na McLaren.

Na esteira da dança das cadeiras da equipe satélite, uma pulga atrás da orelha deve estar incomodando Sergio Pérez que nas últimas corridas não tem conseguido bons resultados com o excepcional carro da Red Bull. E ele sabe que Marko não perdoa.