CAFEICULTORES

Jovens cafeicultores passam por capacitação em Paraíso

Projeto “Fazedores de Café Campo” ofereceu aulas sobre cultivo, análise e barismo para estimular a sucessão familiar nas fazendas de café
Por: Ralph Diniz | Categoria: Agricultura | 05-08-2023 07:50 | 1470
AProfessores e alunos participaram da cerimônia de encerramento do Fazedores de Café, no teatro da Acissp
AProfessores e alunos participaram da cerimônia de encerramento do Fazedores de Café, no teatro da Acissp Foto: Reprodução

O café é uma das bebidas mais consumidas no mundo, mas também uma das mais complexas e desafiadoras. Por trás de cada xícara, há uma história de trabalho, dedicação e paixão. Uma história que envolve gerações de famílias que se dedicam ao cultivo do grão e que enfrentam as dificuldades e as oportunidades do mercado. Para valorizar essa história e estimular a sucessão familiar nas fazendas de café, a Nescafé e a cafeteria Sala Café realizaram o projeto “Fazedores de Café Campo”, que capacitou 43 jovens filhos de agricultores em São Sebastião do Paraíso. Durante uma semana, os participantes aprenderam sobre o cultivo, a análise e o barismo do café, além de conhecerem as tendências e as exigências do mercado de café especial.

O projeto nasceu em 2019, com o objetivo de suprir uma necessidade percebida pela Nestlé na sua rede de cafeicultores em relação às novas gerações. Segundo a empresa, a ideia é estimular um cultivo mais sustentável e de máxima qualidade, além de auxiliar na manutenção produtiva, melhorando o cenário de sucessão familiar nas fazendas de café. “Conseguimos conectar jovens e fazer com que eles entendam todas as possibilidades dentro da cadeia do café, além de inspirar novas gerações que transformam suas comunidades”.

Na quarta edição do “Fazedores de Café Campo”, realizada com o apoio da Associação Comercial, Industrial, Agropecuária e de Serviços de São Sebastião do Paraíso (Acissp), os participantes tiveram aulas sobre cultivo, análise multissensorial dos grãos e técnicas de barismo. Os jovens têm entre 18 e 29 anos e são filhos de cafeicultores do Sul e Sudoeste do estado.

Um dos idealizadores do projeto é Diego Gonzales, fundador do “Fazedores de Café” e proprietário da cafeteria “Sofá Café”. Ele conta que firmou uma parceria com a Nescafé e começou a pensar como levar o projeto para o campo, com o objetivo de trabalhar com os filhos dos produtores para mantê-los no cultivo do café. “Queremos ajudar os jovens a entenderem o café que suas famílias produzem e melhorar a sua qualidade. Trouxemos os melhores profissionais que temos e viemos a campo”, declara.

O idealizador explana que o projeto é voltado para os jovens por entender que essa é a geração que está tentando mudar os conceitos da cafeicultura dentro das fazendas, apresentando aos pais as inovações e exigências no novo mercado mundial de café. Ele entende que o “Fazedores de Café” lida com legados familiares que muitas vezes têm mais de 100 anos de história e que, por isso, busca chegar à nova geração com muito respeito ao passado, mas sempre direcionando para o futuro.

“Eles estão pegando um negócio que já funciona, vem há anos sendo praticado e nós não devemos desmerecer o trabalho de quem veio antes. Se a família tem aquela terra é porque alguém conquistou aquilo e manteve. Então, nós temos que somar, agregar para que eles consigam qualidade e sustentabilidade. Mas, é um desafio, porque eles têm que chegar em casa e mostrar que aquilo que vinha feito até então não é mais aceito, ou é pouco produtivo e pode ser melhorado”, explica.

Gonzalez ainda revela que ficou impressionado com a turma de São Sebastião do Paraíso, que superou as suas expectativas. Ele diz que é uma região que tem um pouco mais de acesso à informação e que os jovens demonstraram compromisso com o projeto. “Foi muito gratificante para nós poder trabalhar com essa turma de São Sebastião do Paraíso, ela superou as nossas expectativas. É uma região que tem um pouco mais de acesso à informação. Foi sensacional ver o compromisso deles com o projeto”.

O idealizador do projeto também destaca que os jovens da região estão mais preocupados com a questão da sustentabilidade do negócio do que apenas com a qualidade. “Eles não estão tão preocupados em ter um café de 95 pontos, eles querem saber se o café é bom para as práticas ambientais, se vai garantir renda para a família e as futuras gerações e se eles conseguirão colocar o seu produto no mercado e dar continuidade ao legado herdado de seus pais e avós. E esse tipo de preocupação é muito mais construtiva do que buscar cegamente uma pontuação. Acho isso muito legítimo, honroso e fico muito feliz de ver esse tipo de reação dessa moçada que está assumindo o café”, acrescenta Gonzales.

A formatura da turma ocorreu na manhã de sexta-feira, 4, no Teatro  Acissp.  A cerimônia de conclusão do projeto contou com uma palestra de Mariana Proença, jornalista, consultora, curadora e especialista em café. Ela falou aos presentes sobre o atual momento da com-moditie no mundo, os desafios para o futuro e a importância de se buscar a qualificação do produto e inseri-lo em um mercado cada vez mais exigente.

Ao Jornal do Sudoeste, a jornalista diz que é um prazer estar entre os jovens produtores e dividir o seu conhecimento com eles. “Quando eu comecei, muitas pessoas me ajudaram e me ensinaram. Foi assim que entendi mais sobre o mercado de café. Então, esses momentos são uma continuidade de um trabalho que foi feito comigo lá atrás. Eu faço questão de fazer parte disso e multiplicar esse conhecimento, porque eu sei que faz a diferença na vida de cada aluno”, afirma.

Ela ainda destaca o papel do projeto “Fazedores de Café” de manter o jovem no campo, dando continuidade ao trabalho de suas gerações anteriores. “A nossa ideia é mostrar para eles todas as opções existentes no mercado, principalmente no mercado de café especial. Eles têm todas as etapas da trajetória do café, desde a lavoura até chegar à xícara. Então, eles entendem que podem ter uma profissão no café. Eles podem fazer cursos, se capacitar e continuar tocando a fazenda da família. Eles podem levar isso de uma outra maneira que, às vezes, ainda não tinham enxergado”, explica a especialista.

Um dos participantes do projeto foi Julia Damasceno, 22 anos, estudante de agronomia e filha de cafeicultores da cidade de Ilicínea. A jovem declara que a família ainda não trabalha com café especial, entretanto, ela espera implantar o novo método na fazenda assim que voltar para casa. “Participar do projeto foi muito importante para mim, porque eu vou poder levar aos meus pais e para outros produtores da minha cidade a importância de se produzir um café de qualidade para ser comercializado. Meu pai produz café há 30 anos, e ele não produz café especial. Mas, a partir do conhecimento que adquiri aqui, vou chegar lá e ajudá-lo nesse sentido. Quero levar o nome do meu pai para o mundo inteiro”.

O vice-presidente da Acissp, Marcelo de Pádua, também esteve presente na cerimônia e elogiou o projeto. Ele disse que a Acissp é uma associação que abrange o agronegócio de forma especial e que, por isso, acaba de criar uma bandeira para trazer mais vitalidade para o setor na região: o Acissp Agro. “A cafeicultura faz a diferença dentro do nosso setor e hoje é um momento muito especial. A Acissp, quando visualizou esse projeto, decidiu abraçá-lo e tornou pública a palestra que seria ministrada apenas para os formandos, oferecendo a todos a oportunidade de adquirir o conhecimento oferecido pela Mariana Proença. Foi uma palestra que deixa a vontade para o produtor inovar e trazer cada vez mais o formato especial para o seu produto. Foi muito especial, porque queremos fortalecer cada vez mais o nosso setor”, conclui.