“Em que lugar o ‘bigode’ chegou”? Minha mãe sempre perguntava assim, referindo-se ao ‘Leão’ Nigel Mansell que nesta semana completou 70 anos! Nem era para ser o tema da coluna, mas percebi que seria uma boa pauta depois que fiz um breve comentário sobre o ex-piloto inglês em minhas redes sociais na passagem de seu 70º aniversário. Mansell foi um dos grandes protagonistas da melhor geração de pilotos de todos os tempos que reunia Senna, Prost, Piquet e o próprio Mansell. Esse quarteto fantástico foi o centro das atenções da F1 dos anos 80 e começo dos 90 e também um prato cheio para a imprensa especializada numa época em que não havia a velocidade da notícia circulando pela internet. Já me peguei várias vezes imaginando como seriam ácidos os comentários das pessoas se naquela época existissem as redes sociais, tão necessárias e ao mesmo tempo um ambiente tóxico, se Piquet dissesse que a mulher de Mansell era feia, ou que Senna não gostava de mulher? Ainda bem que não havia. Era mais romântico esperar os jornais do dia seguinte, as revistas da semana e as do próximo mês para devorar as notícias.
Mansell era rival de Piquet, que não gostava de Senna, que odiava Prost, que por sua vez queria ver Mansell pelas costas. A foto que ilustra a coluna, com os quatro abraçados na mureta dos boxes do Circuito do Estoril em 1986, na véspera do GP de Portugal, é um clássico que resume um dos maiores e mais pitorescos capítulos da história moderna da F1.
Mansell foi o menos bem sucedido em números de títulos, mas não menos importante. Prost venceu 4, Piquet e Senna três cada um, e Mansell foi campeão apenas em 92 quando desfrutou de um dos carros mais espetaculares que a F1 já teve, o quase teleguiado FW14B da Williams, obra do genial Adrian Newey, o também criador do RB19 da Red Bull que está fazendo estragos nesta temporada com Max Verstappen.
Mansell estreou na F1 em 1980 no GP da Áustria, com a Lotus. Foram 12 temporadas completas. Disputou 187 GPs, fez 32 pole positions, 31 vitórias, 30 voltas mais rápidas, 59 pódios, 5 hat tricks (pole, vitória e volta mais rápida), e 4 grand chelem, que é quando o piloto faz a pole, vence de ponta a ponta e faz a melhor volta da prova. E teve um significado importante nos tricampeonatos de Piquet e Senna sendo um adversário muito duro que valorizou as conquistas dos dois brasileiros. Em 93, por vaidade de Frank Williams que não quis renovar o contrato do campeão, Mansell foi para a Indy. Disputou o título com Emerson Fittipaldi e venceu o campeonato em seu ano de estreia num caso raro de piloto campeão da F1 e da Indy no ano seguinte. Sua última vitória na F1 foi no GP da Austrália de 94 depois de regressar à Williams nas últimas três corridas de um ano duro para a F1 que havia perdido Ayrton Senna, em Ímola. Enquanto Schumacher jogou propositalmente seu Benetton em cima da outra Williams, de Damon Hill, para conquistar um título controverso, Mansell tornou-se o último piloto depois dos 40 anos a vencer uma corrida na F1. No ano seguinte assinou com a McLaren, mas o cockpit era pequeno para o porte físico do Leão que literalmente não coube no carro e pendurou definitivamente o capacete.
Mansell foi um piloto capaz de manobras audaciosas como a inesquecível ultrapassagem sobre Gerhard Berger por fora na desafiadora Curva Peraltada, do Circuito Hermanos Rodriguez, no México, ou o espetacular drible em Piquet para vencer em Silverstone diante da torcida, em 1987, assim como cenas de pastelão quando não bastasse uma dor de dente, ainda bateu com a cabeça numa viga a caminho do pódio em Zeltweg, ou se entusiasmar e desligar a chave geral da Williams ao dar tchauzinho para as câmeras de TV a poucos metros da vitória no Canadá. Esse mix que num piscar de olhos o tornava gênio ou desastrado foi uma das razões de não ter vencido mais campeonatos. Mas são tantas lembranças boas do Leão... o capacete, um dos mais bonitos da F1 até hoje, a pilotagem sempre agressiva, o número 5 na cor vermelha de sua Williams, o inseparável bigode vassoura… Mansell não é de frequentar autódromos, às vezes dá as caras no GP da Inglaterra, e quando aparece desperta nostalgia em quem viveu aqueles anos dourados da F1. Saúde e vida longa ao velho Leão!
Ao meu querido pai, parabéns, beijo e abraço carinhoso pelo seu dia!
Feliz dia a todos os pais.